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Campus Pontal

‘Nascer mulher no Brasil, hoje, está muito difícil’

Neste 10 de outubro, 'Dia Nacional de Luta Contra a Violência à Mulher', lembramos de um dos projetos de extensão desenvolvidos na UFU com esta temática

Publicado em 10/10/2022 às 15:38 - Atualizado em 22/08/2023 às 20:20

Uberlândia, outubro de 2015; uma professora é perseguida e morta a tiros pelo ex-marido, um ex-sargento da Polícia Militar, por não querer reatar o relacionamento. Ituiutaba, outubro de 2016; uma mulher é morta a facadas pelo ex-amante enquanto participava de uma missa. Quatiguá, fevereiro de 2019; um homem mata a ex-mulher com um golpe de botijão de gás na cabeça da vítima. Pombos, março de 2019; uma senhora de 101 anos é estuprada pelo genro. Ipu, julho de 2021; uma senhora de 99 anos morre horas depois de ter sido estuprada enquanto dormia em uma rede, na sua casa.

Mulher, um ser humano do sexo feminino ou do gênero feminino. Brasil, país situado na América do Sul e o quinto maior do mundo em extensão territorial. Viver, é ter vida, existir. Medo, estado emocional provocado pela consciência que se tem diante do perigo. Estas definições foram tiradas do dicionário on-line para entendermos uma triste realidade, a de que ser mulher no Brasil é viver com medo. A todo momento uma mulher é alvo de alguma violência. Não tem idade, não tem classe, não tem cor, não tem lugar. Qualquer mulher está suscetível a ser uma vítima, a qualquer instante, pelo simples fato de ser mulher.

Ilustração: Freepik

“Nascer mulher no Brasil, hoje, está muito difícil”, afirma Soraia Veloso, docente do curso de Serviço Social da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), quando questionada sobre o que contribui para que a violência contra mulher continue sendo um mal da nossa sociedade. Antes, ela aponta a qual fator credita a razão disso: “O que contribui é os homens acharem que nós somos objetos e, por sermos objetos, eles são os nossos donos. Isso é um grande problema. Ao terminar um relacionamento, uma mulher pode ser uma vítima em potencial, a qualquer momento, de um homem violento.”

Muitos dos casos de violência contra a mulher nunca vêm a público. Algumas vezes por medo de dizê-los, outras porque as vítimas não imaginam que certas atitudes são ações de violência. “A questão da identificação da violência pode passar por vários aspectos. A pessoa pode ter vindo de um lar violento e a única referência que ela tem é a violência. Então, se, de repente, o marido começa a ser violento, não só aquela violência física, mas a psicológica - chamá-la de feia, dizer que ninguém vai a querer se eles se separarem -, às vezes ela não identifica que aquilo é uma violência porque acha que violência é só a física. Outras não largam seus companheiros porque aquelas pessoas têm o ideal do amor. Por isso, algumas mulheres não fazem a denúncia. Elas não querem ver aquele homem, que é pai dos filhos dela, na cadeia porque elas acham que é um bom pai”, relata a professora Soraia, a respeito dos motivos que fazem muitas mulheres optarem por não denunciar as agressões.

Ilustração: Freepik

Outro mal que a docente também pontua é o fato do agressor fazer com que a vítima acredite que a culpa da agressão é dela, que ela fez algo que o deixou nervoso, desrespeitou. Em casos extremos, o agressor começa a ameaçar a família dela, amigos, colocando nas mãos da vítima a responsabilidade de “zelar” pela segurança dos entes queridos. Há casos em que o homem trata muito bem a família e agride a companheira e, por esse motivo, a mulher ao se queixar para os familiares sobre a situação de risco que vive, acaba entrando em conflito com a própria família que desacredita do fato. Por isso, a vítima, vivendo com medo e sob ameaças, acaba se calando e passa a conviver com os atos de violência.

 

“Eu combato a violência, e você?"

Aprovado no edital do Programa de Extensão Integração UFU/Comunidade (Peic/UFU), da Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (Proexc/UFU), o projeto “Eu combato a violência, e você?” passou a provocar o público da cidade de Ituiutaba, onde fica o Campus Pontal, a pensar a respeito da violência. O projeto, idealizado e coordenado pela professora Soraia Veloso, não especifica no título que a violência a ser debatida é contra a mulher em todas as suas formas, mas é o objetivo principal do trabalho.

O projeto é simples, como diz a docente, mas o impacto é gigante. Nos encontros com a comunidade interessada pelo tema é exibido um filme que tenha relação com a temática; após esta exibição, há um momento de debate. Alguns dos filmes que já foram apresentados são: "O quarto do Jack", "Messias do Mal", "O silêncio das inocentes", "Absorvendo o tabu" - para falar sobre a questão do uso de absorventes pelas mulheres indianas -, e "Coco antes da Channel" - para debater também sobre o empoderamento feminino.

Ilustração: Freepik

Além de ser voltado à conscientização das pessoas que dele participam, o “Eu combato a violência, e você?” também é um espaço de formação. Soraia comenta sobre uma das alunas que participou do projeto e já desenvolveu outras atividades relacionadas a ele em outros espaços. “Eu orientei uma aluna que deu um curso no IF [Instituto Federal] porque ela participava do projeto. Depois, ela até me substituiu numa atividade que eu não pude ir porque era em horário de aula. A ideia também é preparar as alunas para que elas também possam se capacitar”, explica.

 

Reconhecimento

Com toda sua importância social e seu potencial formador, o projeto também coleciona algumas premiações. Em 2018, antes mesmo de se candidatar ao Peic, o “Eu combato a violência, e você?” foi premiado na primeira edição do "Prêmio Juntas Transformamos", do Instituto Avon, como uma ideia e, em 2022, na quinta edição, levou o prêmio como projeto focado no enfrentamento às violências contra meninas e mulheres. Com essa última premiação, foi indicado também ao "Prêmio Inspiradoras", que é o resultado de uma parceria firmada entre a Universa, a plataforma feminina do UOL, e o Instituto Avon.

Soraia Veloso fala sobre a sensação de ter sido indicada para mais esta premiação: “Eu sou de uma geração que cresceu lendo a revista Cláudia, da Abril, e eles tinham uma premiação para mulheres, em várias categorias. Eu achava o máximo aquilo. Lia as histórias, via quem eram essas mulheres e o que elas faziam. Não sei se hoje ainda tem essa premiação, mas essa [Prêmio Inspiradoras] equivale à mesma coisa que a revista Cláudia fazia. Então, eu me senti o máximo, né? Fiquei muito feliz e gratificada de estar ali e ter sido indicada.”

 

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Palavras-chave: violência contra a mulher Projeto de Extensão Campus Pontal

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