Reflexos da pandemia da covid-19 na gestão do agronegócio

O agronegócio emprega, no Brasil, um a cada três trabalhadores formais, sendo o setor responsável por 27,4% do PIB (Produto Interno Bruto) nacional em 2021. As atividades agropecuárias têm forte relevância histórica e econômica para o país, sendo responsáveis por gerar um saldo positivo na balança comercial e respondendo por cerca de 48% de todas as exportações brasileiras nos últimos anos.

O café, por exemplo, é uma das commodities mais comercializadas pelo agronegócio e, o Brasil, é o maior produtor e exportador mundial do grão. Outras culturas como o milho e a soja também concentram forte influência nas relações comerciais brasileiras.

Nesse contexto, o surgimento da pandemia da covid-19 adicionou elementos de incerteza à uma atividade econômica que já é exposta a diversos fatores externos, como os climáticos e variações de moeda, bem como pela característica dos produtos do agronegócio - as commodities - que são produtos primários, ou seja, são matéria-prima e por isso têm seu preço determinado pela oferta e procura internacional.

Aliando teoria e prática, o setor do agronegócio e sua grande exposição a fatores externos possibilita diversos estudos e pesquisas que permitam investigar como os produtores rurais atuam e como contornam as externalidades a que são fortemente expostos, mantendo não só suas atividades lucrativas, mas também como as grandes responsáveis pela economia do país.

Foi com base nesses conceitos que desenvolvi, com a orientação do professor Sérgio Lemos Duarte e colaboração de outros colegas, duas pesquisas com a proposta de identificar os principais reflexos causados pela pandemia da covid-19 nas atividades de produtores do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba.

Na primeira pesquisa conversamos com sete produtores rurais da região, entre os quais estavam produtores, principalmente, do que se chama de lavouras brancas, ou seja, aquelas com plantações de soja e milho, por exemplo. Após a aplicação de um questionário desenvolvido por nós e da visita a essas propriedades rurais, fizemos a análise de conteúdo das entrevistas e concluímos que, na percepção dos produtores, houve uma grande valorização das commodities agrícolas, mas em contraponto também houve aumento dos preços dos insumos, máquinas e a disponibilidade dos produtos.

A segunda pesquisa, com foco na cafeicultura, estudou a fundo uma propriedade localizada no município de Romaria/MG e que trabalha, exclusivamente, com cultivo de café. Entrevistamos o gestor da propriedade assim como fizemos a análise estatística de seus dados de custos. Como resultado, observamos significativo reflexo da pandemia sobre aspectos de custo, preço e gestão da cafeicultura.

Em ambas as pesquisas, defensivos e fertilizantes foram os itens mais afetados, assim como os gastos com maquinários, peças e manutenção e óleo diesel. Sendo, então, possível inferir a forte relação do agronegócio com o mercado internacional, uma vez que as variáveis de custo mais impactadas foram aquelas cotadas em Dólar ou negociadas fora do país, assim como o próprio preço de venda dos produtos agrícolas.

As pesquisas realizadas contaram com apoio da Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) e os artigos derivados das pesquisas foram publicados nos anais do Congresso USP de Iniciação Científica em Contabilidade e do Congresso Brasileiro de Custos. Além disso, o primeiro artigo foi premiado como melhor trabalho da categoria e o outro indicado ao Prêmio Masayuki Nakagawa da Associação Brasileira de Custos.

* Tamira Alessandra Barbosa Leal é graduanda do curso de Ciências Contábeis na Faculdade de Ciências Contábeis da UFU. Bolsista Fapemig, desenvolve pesquisas na área da contabilidade gerencial ligada ao agronegócio. Foi integrante do Grupo PET Ciências Contábeis. Possui formação técnica em Meio Ambiente pelo Instituto Federal do Triângulo Mineiro.

** Sérgio Lemos Duarte é doutor em Controladoria e Contabilidade e professor adjunto na Faculdade de Ciências Contábeis da UFU. Tem experiência na área de Gestão Estratégica de Custos, atuando principalmente no segmento do agronegócio.

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