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Cultura

Vozes que cantam e encantam

Coral da Universidade Federal de Uberlândia completa 45 anos

Publicado em 22/12/2022 às 12:15 - Atualizado em 22/08/2023 às 20:20

“O coral é da Universidade Federal de Uberlândia e espero que nunca venha a morrer; que continue divulgando vozes” (Edmar Ferretti - regente do Coral da UFU e professora aposentada da Universidade Federal de Uberlândia)

 

Foto: Milton Santos

“Sem música, não há sociedade; ouvir uma canção é uma reação cíclica entre a música e o espírito”. A afirmação é de Paulo Torres, da Academia Paulista de Letras. Seguindo esse objetivo de não deixar a comunidade sem música e transmitir arte e cultura, o Coral da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) foi criado. Em 2022, composto por 25 vozes, está completando 45 anos.

O grupo não é apenas um lugar para cantar, vai além. Esses 45 anos fizeram com que várias pessoas passassem pelo coral e cada uma deixou uma parte de si. O sentimento que corre hoje é o de acolhimento; os integrantes vêem o coral como um lar. É o que ressalta a bolsista de extensão Letícia Queiroz Martins. Estudante do curso de Ciência Sociais e há seis meses no Coral da UFU, ela avalia que o coral é uma grande oportunidade: “Quando entrei como bolsista não esperava perceber o quanto essa experiência ia me engrandecer como pessoa. É ótimo trabalhar com todas as pessoas de lá; por isso, foi uma coisa muito boa que apareceu na minha vida.”

Letícia Queiroz Martins, estudante do curso de Ciências Sociais. (Foto: Arquivo pessoal)

Ricardo Moreira cursa Música, com especialização em Canto Erudito, e entrou no coral em 2013. Entre pausas e retornos ao projeto, hoje também é um dos seus bolsistas. “Antes atuava como cantor amador, estudando por amor e, claro, pela oportunidade que o coral sempre deu a quem procura envolvimento com a música. Sendo assim, hoje sou pela primeira vez remunerado, ocupando esse papel na área a que me dedico todos os dias", comenta.

"Fico muito muito feli com esse carinho, esse amor pelo coral. Foi como uma jornada, nos proporcionando muitos afetos, relacionamentos, dedicação e disciplina ao lado da Edmar, do Jofre e, agora, dando adeus ao nosso atual regente, o Bruno. Estou feliz e com muita força para partilhar mais um ano ao lado do coral”, destaca Moreira.

Ricardo Moreira, estudante de Música. (Foto: Arquivo pessoal)

Quem acompanhou algumas apresentações natalinas do Coral da UFU, na última terça-feira (20/12), com certeza, se surpreendeu com uma Mamãe Noel. Balançando uma sineta, Mariza Veiga anunciava pelos corredores da Reitoria o início de mais uma edição do Projeto Natal Coral, realizado anualmente na UFU.

A soprano está no coral há 21 anos. Tem muitas histórias para contar e cantar. "Na minha vida, ele é como o ar que respiro. Sou formada em canto e tenho uma vasta experiência em corais, com os melhores maestros, assim como a maestrina Edmar Ferretti", resume.

Mariza Veiga, a Mamãe Noel do projeto 'Natal Coral'. (Foto: Arquivo pessoal)

História do Coral

Visita do ministro da Educação e Cultura Clóvis Salgado, em 1960. Da esquerda para a direita: Dr. Vittório Capparelli, Cora Pavan Capparelli, ministro Clóvis Salgado e esposa. (Foto: Arquivo pessoal/Cora Pavan Capparelli)

Em 1957, iniciado por Cora Pavan Capparelli, surge a Escola de Formação Superior de Uberlândia, o Conservatório Musical. Mesmo passando por turbulências sobre a capacidade de formação, em 1975, a instituição foi licenciada pelo Ministério da Educação (MEC), tornando-se a primeira escola de nível superior fundada em Uberlândia.

Uma história que começou antes mesmo da federalização da Universidade Federal de Uberlândia. A primeira apresentação do Coral da UFU se deu em maio de 1977, com regência de seu idealizador, o professor Carlos Alberto Storti. A estreia diante do público ocorreu durante a primeira assembleia da Academia de Letras do Triângulo Mineiro, com o cenário “a Cavalleria Rusticana”, no belo salão do Uberlândia Clube.

Primeira apresentação pública do Coral da UFU, em 1977. (Foto: Arquivo UFU)

A convite de Cora, em outubro de 1981, a regência do coral foi assumida pela professora e musicista Edmar Ferretti, que relata: “Eu era professora da Universidade Federal de Goiás (UFG) e trabalhava na Assessoria de Cultura da Secretaria Municipal de Cultura. Não estava muito contente com o direcionamento do meu trabalho. E, quando houve o interesse do departamento na área de canto, eles me convidaram para integrar a banca. Daí eu me perguntei: por que não?”.

Edmar é professora aposentada da UFU de canto e piano; Formou-se em canto em 1958, pelo Conservatório Musical Heitor Villa-Lobos de São Paulo, onde, em 1963, também se diplomou professora de piano. Em 1962 e 1966, foi bolsista do curso de aperfeiçoamento de canto da Pró-Arte e, de 1966 a 1967, do Conservatório Musical de Genebra, na Suíça. Em 1969, gravou canções de Camargo Guarnieri, acompanhada pelo próprio compositor ao piano. Em 1972, foi solista da Missa Diligite, de Camargo Guarnieri, em primeira audição mundial, na Igreja Nossa Senhora de Fátima, em São Paulo. Recebeu da Associação Paulista de Críticos de Arte, em 1978, o prêmio de Melhor Cantor Erudito. E tinha a pretensão de ser a maior cantora do mundo.

Edmar Ferretti, professora aposentada e ex-regente do Coral da UFU. (Foto: Arquivo UFU)

Como mulher, uma curiosidade: será que Edmar em algum momento da carreira passou por algum preconceito? “Uma barreira frontal, eu não tenho ideia de ter sofrido. De qualquer forma, é mais restrita a possibilidade de uma mulher expandir-se do que a de um homem. De poucos anos para cá, tem sido enfrentada uma luta que acho louvabilíssima, de corajosas personagens femininas. Fico assistindo e atuando, também. Ela [a mulher] tem que ter o lugar dela. Ela é fortíssima, em todos os aspectos, até no sentido biológico; já começa por aí. O homem contribui, mas ela que gera”, exprime a professora, sobre as dificuldades que encontrou no mundo da música, por ser mulher.

Edmar define o Coral da UFU como um lugar de sentimentos, onde viveu muitos momentos bons. Podemos mostrar esse sentimento pela parede da sala, onde acontecem os ensaios do coral e estão diversos registros de toda a sua trajetória. Particularmente, há um quadro que registra bem este período.

Atual corpo do coral. Ao fundo, na parede, imagens das diversas apresentações do projeto, ao longo dos 45 anos de sua existência. (Foto Luiz Marquêz)

Hoje, sob a supervisão da Diretoria de Cultura da Pró-Reitora de Extensão e Cultura (Dicult/Proexc), o coral atua como instrumento de política pública, que age para estimular com ações culturais as comunidades universitária e local, criando um debate importante, entre o centro acadêmico e o corpo social.

No momento em que foi feita esta reportagem, o coral era regido por Bruno Caldeira, que se afastou para trilhar novos caminhos na academia. Ele declara: "O coral é, sobretudo, uma representação de como a arte vem sobrevivendo no nosso país. Ter um corpo artístico, em uma universidade federal, no interior, com essa longevidade e tendo feito tantas obras como o Coral da UFU fez, é um sinal da resistência da arte.”

Da esquerda para a direita: Luiz Marquêz, bolsista de Comunicação; Bruno Caldeira, regente do coral; Edmar Ferretti, professora; e Eliane Moreira, jornalista da UFU. (Foto: Arquivo pessoal)

Caldeira revela que ter assumido a regência no lugar da Edmar Ferretti foi “um peso muito grande, porque ela é um personagem da história da Música Erudita Brasileira, muito conhecida e, principalmente, de grande importância para a Universidade Federal de Uberlândia". E acrescenta: "Eu estou começando a construir minha história, sou formado no Coral da UFU e muito pela Edmar. Cresci muito com os ensinamentos dela, seguindo a regência, instruções sobre canto e toda a admiração que eu tenho por ela.”

Ainda de acordo com ele, “o papel do regente é manter a pulsação". O maestro detalha como se dá este trabalho: "O coração de cada pessoa bate diferente. É meio que tentar canalizar esta energia de fazer todos esses corações baterem ao mesmo tempo para a gente cantar em harmonia. Então, acho que principalmente e mais do que qualquer outra coisa, o regente tenta manter a harmonia entre essas pessoas e não só a harmonia musical.”

Em suas primeiras quatro décadas, foram realizadas pelo Coral da UFU cerca de 15 óperas, além de mais de 40 espetáculos cênico-musicais e outras dezenas de recitais de autores brasileiros e universais.

Cronologia do coral. (Fonte: Portal da Proexc)

O diretor de Cultura da UFU é só orgulho e elogios. “O Coral da UFU é o corpo artístico mais longevo desta universidade e, ao longo de sua existência, tem presenteado a comunidade acadêmica e a sociedade em geral com um belíssimo trabalho, a partir do canto coral. Apesar dos grandes desafios encontrados para mantê-lo em atividade, nos últimos anos a UFU avançou no processo de institucionalização do coral e na organização de seu funcionamento”, afirma Alexandre Molina. 

Perguntado sobre os planos para o projeto, Molina diz: “Para os próximos anos, seguiremos no propósito de fortalecer a atuação do coral, ampliando o seu número de integrantes e atuando na qualificação das cantoras e cantores, através de cursos e oficinas na área.”

Alexandre Molina, ao lado de Cora Pavan Capparelli. (Foto: Arquivo UFU)

 

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Palavras-chave: Coral UFU aniversário 45 anos dicult PROEXC

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