Publicado em 11/05/2023 às 10:49 - Atualizado em 22/08/2023 às 16:38
Site ‘Poéticas da Terra’ reúne diversos trabalhos realizados pela pesquisadora; dentre eles, o rito chamado ‘Nove’. (Foto: Arquivo pessoal)
Na antropologia, as pesquisas costumam se dar a partir da imersão dos pesquisadores em um determinado campo e com Valéria de Paula Martins, docente do Instituto de Ciências Sociais da Universidade Federal de Uberlândia (Incis/UFU), não foi diferente.
Antes de realizar a pós-graduação, Martins trabalhou por três anos para uma Organização Não-Governamental (ONG) que atua na região do Médio Jequitinhonha. Essa é a região da calha média da bacia do Rio Jequitinhonha, que nasce em Minas Gerais e deságua na Bahia. Posteriormente, o mestrado e doutorado da pesquisadora também foram desenvolvidos na região, onde ela morou por cerca de seis meses.
A pesquisa foi voltada a um rito cinético-musical, chamado Nove, que é realizado tradicionalmente na região por agricultores que atuam como cantadores. “Escolhi a região para a realização da pesquisa por ter ficado encantada com as danças coletivas musicais que lá conheci durante o tempo em que atuei na ONG”, explica a antropóloga.
Na região, as danças coletivas e as cantigas que as embalam são aprendidas a partir da presença e participação de brinquedos, através de gerações. Nove é o nome de uma delas. Estes ritos abarcam uma série de brinquedos de viola e têm como uma de suas principais ocorrências os pousos da Folia do Divino. Ainda hoje, reúnem idosos, crianças, jovens e adultos à noite, com comidas e bebidas.
Noite de Nove no salão do cantador Santos Chagas. (Foto: Arquivo pessoal)
A partir das pesquisas, foram elaboradas uma dissertação e uma tese; sendo elas, respectivamente: “Uma etnografia do Nove: brincadeiras de viola em Machado e arredores (MG)” e “O Brinquedo do princípio do mundo: música, dança e socialidade no córrego do Machado (Médio Jequitinhonha)”.
Martins também é graduada em Comunicação Social e foi durante a pandemia de covid-19 que teve a ideia de criar um podcast para se despedir do campo etnográfico. Denominado Sensibilidades Antropológicas, ao longo de 15 episódios, a pesquisadora fala da escolha do lugar, das relações com interlocutores da pesquisa e questões de observação etnográfica, além de trazer um pouco do contexto local, sempre buscando apresentar a dimensão afetiva e sensorial do trabalho.
“Criei o podcast, a princípio, para me despedir do meu campo etnográfico no Médio Jequitinhonha, lidando com essa despedida e com tudo o que envolve um trabalho de campo de forma sensível – considerando os sons, silêncios, gestos, olhares, a carícia da terra nas mãos, o cheiro do biscoito saindo do forno de barro”, informa Martins.
O Sensibilidades Antropológicas integra a Rede Kere-Kere de podcasts em antropologia, que reúne pesquisadores da área. O último episódio da primeira temporada estreou no dia 28 de abril e é descrito como a “despedida da despedida”.
Valéria Martins (à direita) e Antonia Alves, a Dona Antonia, agricultora, cantadeira octogenária do Nove e tema do episódio #12 do podcast. (Foto: Arquivo pessoal).
Uma segunda temporada está sendo produzida e tem previsão de estreia para agosto. Você pode ouvir o primeiro episódio abaixo e os demais, no site da pesquisadora. O perfil relacionado ao trabalho no Instagram é o @sensibilidades.antropologicas.
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Palavras-chave: podcast antropologia poéticas da terra sensibilidades antopológicas incis
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