Publicado em 12/09/2023 às 09:04 - Atualizado em 17/09/2023 às 23:17
Você sabe o que é a Campylobacter? Sabia que seu hospedeiro preferido são as aves ou que nós podemos contraí-la, se não tivermos os devidos cuidados? Não sabia? Pois agora vai ficar sabendo!
A doutoranda Paula Fernanda de Souza Braga, da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Federal de Uberlândia (Famev/UFU), desenvolveu uma pesquisa com a proposta do uso de embriões de galinhas como modelo nas testagens e estudos sobre a bactéria Campylobacter. Parece difícil o que eu falei, não é? Pois se prepare que lá vem ciência!
No geral, o procedimento acontece assim: primeiro é feita a inoculação, que é a introdução de um micro-organismo em um outro organismo, humano ou animal. No nosso caso, a bactéria Campylobacter é inserida nos embriões de galinha. Mas, antes, os ovos com os embriões são retirados da “chocadeira” e pesados pela primeira vez.
Em seguida, os ovos, doados por uma granja parceira, são pesados pela segunda vez para se obter o peso após a inoculação da Campylobacter. A cepa, um agrupamento desta bactéria, é monitorada até que se analise a maneira como ela se multiplica, ou seja, o nível de patogenicidade, as lesões que ela pode causar e a resposta imune que o embrião consegue ter.
Para se ter ideia da dificuldade do procedimento, no dia em que fomos conhecer a pesquisa, as colaboradoras comemoravam o “crescimento” da bactéria. Segundo explicaram ao Comunica Ciência, o cultivo da cepa é difícil, pois, mesmo após a nutrição da bactéria, nem sempre sua resposta é positiva à indução.
Mas o verdadeiro problema é o tempo de uso dos embriões de galinha. Uma vez que eles são retirados da chocadeira, precisam ser utilizados com rapidez, o que nem sempre é possível, devido à instabilidade de crescimento da Campylobacter.
Mas por que pesquisar a Campylobacter?
A Campylobacter é a primeira causa de gastroenterite no mundo, causando diarreia na maior parte dos casos. Mesmo não oferecendo perigo a pessoas saudáveis, a infecção profunda por Campylobacter em pessoas com baixa imunidade pode levar à síndrome de Guillain-Barré, condição em que o sistema imunológico ataca o sistema nervoso.
Segundo o Ministério da Saúde, mesmo sendo uma síndrome rara, a incidência por ano da Guillain-Barré no Brasil é de um em cada quatro casos por 100 mil habitantes. É uma doença que não tem cura, podendo prejudicar o sistema nervoso periférico, refletindo na mobilidade e controle muscular do portador, causando fraqueza, paralisia ou mesmo levando à morte.
Por que embriões de galinha como modelo para pesquisa?
Segundo a professora e orientadora do projeto, Belchiolina Beatriz Fonseca, da Famev, a utilização dos ovos se deu como alternativa para inserção de normas éticas nos testes. Até determinado estágio, a inoculação no embrião não causa dor nos animais, podendo ser feito procedimento sem sofrimento e estresse durante a manipulação.
Na pesquisa, que pode ser dividida em várias partes, já foram desenvolvidas e concluídas duas etapas. A primeira delas trata das testagens da bactéria nos embriões e nas reações a essas inserções — como descrito no início deste texto.
A segunda parte é o processo para a teranóstica, que é a junção da terapia e diagnóstico. Nesta fase, são investigadas formas de tratamentos e desenvolvimento de fármacos, além de melhorias nos diagnósticos. Também estão em pesquisa formas de controle e avaliação da capacidade de inibição da bactéria.
Referência nacional
Financiada pelo INCT - TeraNano, sediado na UFU, a pesquisa do Ladoc com uso de embrião de galinha como modelo alternativo para testes é referência no país desde meados dos anos 2000.
O prêmio Lamas, pertencente à Fundação Apinco de Ciência e Tecnologia Avícolas (Facta), é conhecido pela divulgação das principais pesquisas desenvolvidas no Brasil no campo das ciências avícolas. Para as pesquisadoras, a premiação recebida neste ano fomenta ainda mais a rede de trocas entre pesquisadores do mesmo campo, auxiliando, também, na ampliação dos estudos em cooperação com outros centros de pesquisas.
Segundo Paula Braga, a premiação é fruto da dedicação e de uma meta que o grupo de pesquisa estava mirando. “É muito bom saber que estamos produzindo trabalhos relevantes para a cadeia da avicultura. No ano anterior, conquistamos o terceiro lugar dessa premiação, e o primeiro lugar deste ano reforça que estamos no caminho certo”, diz a pós-graduanda.
De acordo com Bia Fonseca, o desenvolvimento de métodos de controle para a patogenicidade da Campylobacter, possibilita a melhora do processo de diagnóstico e o avanço na criação de medicações eficientes para o tratamento da população e prevenção do contágio.
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Palavras-chave: Campylobacter Gastroenterite Divulgação Científica #Ciência
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