Pular para o conteúdo principal
Saúde

Pesquisa da UFU é base para desenvolvimento de produtos que controlam bactéria

Estudo premiado utiliza embriões de galinha como modelo para testes com Campylobacter, a maior causa de gastroenterite do mundo

Publicado em 12/09/2023 às 09:04 - Atualizado em 17/09/2023 às 23:17

A Campylobacter é estudada pelo grupo de pesquisa desde meados de 2000. (Foto: Marco Cavalcanti)

Você sabe o que é a Campylobacter? Sabia que seu hospedeiro preferido são as aves ou que nós podemos contraí-la, se não tivermos os devidos cuidados? Não sabia? Pois agora vai ficar sabendo! 

A doutoranda Paula Fernanda de Souza Braga, da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Federal de Uberlândia (Famev/UFU), desenvolveu uma pesquisa com a proposta do uso de embriões de galinhas como modelo nas testagens e estudos sobre a bactéria Campylobacter. Parece difícil o que eu falei, não é? Pois se prepare que lá vem ciência!

No geral, o procedimento acontece assim: primeiro é feita a inoculação, que é a introdução de um micro-organismo em um outro organismo, humano ou animal. No nosso caso, a bactéria Campylobacter é inserida nos embriões de galinha. Mas, antes, os ovos com os embriões são retirados da “chocadeira” e pesados pela primeira vez.

Foto colorida mostra duas mulheres de cabelos escuros, enquanto retiram um ovo da chocadeira de base amarela e tampa transparente
Sob temperatura controlada, os embriões de galinha ficam em chocadeiras até que possam ser utilizados no procedimento. Na foto, Simone Sommerfeld (à esquerda) e Paula Braga. (Foto: Marco Cavalcanti)

Em seguida, os ovos, doados por uma granja parceira, são pesados pela segunda vez para se obter o peso após a inoculação da Campylobacter. A cepa, um agrupamento desta bactéria, é monitorada até que se analise a maneira como ela se multiplica, ou seja, o nível de patogenicidade, as lesões que ela pode causar e a resposta imune que o embrião consegue ter.

A imagem mostra um ovo sendo pesado em uma balança, enquanto uma mão o ajeita
As testagens da bactéria nos embriões medem as reações das inserções em cada etapa. (Foto: Marco Cavalcanti)

Para se ter ideia da dificuldade do procedimento, no dia em que fomos conhecer a pesquisa, as colaboradoras comemoravam o “crescimento” da bactéria. Segundo explicaram ao Comunica Ciência, o cultivo da cepa é difícil, pois, mesmo após a nutrição da bactéria, nem sempre sua resposta é positiva à indução. 

Mas o verdadeiro problema é o tempo de uso dos embriões de galinha. Uma vez que eles são retirados da chocadeira, precisam ser utilizados com rapidez, o que nem sempre é possível, devido à instabilidade de crescimento da Campylobacter.

 

Mas por que pesquisar a Campylobacter?

Imagem mostra placa de petri com uma colônia de bactérias
Segundo o Centers for Disease Control and Prevention (CDC), embora rara, a Síndrome de Guillain-Barré atinge de 3 mil a 6 mil pessoas por ano nos EUA. (Foto: Marco Cavalcanti)

A Campylobacter é a primeira causa de gastroenterite no mundo, causando diarreia na maior parte dos casos. Mesmo não oferecendo perigo a pessoas saudáveis, a infecção profunda por Campylobacter em pessoas com baixa imunidade pode levar à síndrome de Guillain-Barré, condição em que o sistema imunológico ataca o sistema nervoso. 

Segundo o Ministério da Saúde, mesmo sendo uma síndrome rara, a incidência por ano da Guillain-Barré no Brasil é de um em cada quatro casos por 100 mil habitantes. É uma doença que não tem cura, podendo prejudicar o sistema nervoso periférico, refletindo na mobilidade e controle muscular do portador, causando fraqueza, paralisia ou mesmo levando à morte.

 

Por que embriões de galinha como modelo para pesquisa?

Imagem mostra processo de inoculação com o uso do ovo
Resultados produzidos com a primeira parte da pesquisa agora são utilizados na busca por facilitar diagnósticos e tratamentos. (Foto: Marco Cavalcanti)

Segundo a professora e orientadora do projeto, Belchiolina Beatriz Fonseca, da Famev, a utilização dos ovos se deu como alternativa para inserção de normas éticas nos testes. Até determinado estágio, a inoculação no embrião não causa dor nos animais, podendo ser feito procedimento sem sofrimento e estresse durante a manipulação.

Na pesquisa, que pode ser dividida em várias partes, já foram desenvolvidas e concluídas duas etapas. A primeira delas trata das testagens da bactéria nos embriões e nas reações a essas inserções — como descrito no início deste texto.

A segunda parte é o processo para a teranóstica, que é a junção da terapia e diagnóstico. Nesta fase, são investigadas formas de tratamentos e desenvolvimento de fármacos, além de melhorias nos diagnósticos. Também estão em pesquisa formas de controle e avaliação da capacidade de inibição da bactéria.

 

Referência nacional

A imagem mostra duas mulheres em laboratório, segurando a placa de petri com colônia de bactérias
Com a premiação, o grupo pretende estender os estudos a outros centros de pesquisa com diferentes tópicos. Na foto, Bia Fonseca (à esquerda) e Paula Braga. (Foto: Marco Cavalcanti)

Financiada pelo INCT - TeraNano, sediado na UFU, a pesquisa do Ladoc com uso de embrião de galinha como modelo alternativo para testes é referência no país desde meados dos anos 2000.

O prêmio Lamas, pertencente à Fundação Apinco de Ciência e Tecnologia Avícolas (Facta), é conhecido pela divulgação das principais pesquisas desenvolvidas no Brasil no campo das ciências avícolas. Para as pesquisadoras, a premiação recebida neste ano fomenta ainda mais a rede de trocas entre pesquisadores do mesmo campo, auxiliando, também, na ampliação dos estudos em cooperação com outros centros de pesquisas. 

Segundo Paula Braga, a premiação é fruto da dedicação e de uma meta que o grupo de pesquisa estava mirando. “É muito bom saber que estamos produzindo trabalhos relevantes para a cadeia da avicultura. No ano anterior, conquistamos o terceiro lugar dessa premiação, e o primeiro lugar deste ano reforça que estamos no caminho certo”, diz a pós-graduanda.

De acordo com Bia Fonseca, o desenvolvimento de métodos de controle para a patogenicidade da Campylobacter, possibilita a melhora do processo de diagnóstico e o avanço na criação de medicações eficientes para o tratamento da população e prevenção do contágio.

 

 

Política de uso: A reprodução de textos, fotografias e outros conteúdos publicados pela Diretoria de Comunicação Social da Universidade Federal de Uberlândia (Dirco/UFU) é livre; porém, solicitamos que seja(m) citado(s) o(s) autor(es) e o Portal Comunica UFU.

 

Palavras-chave: Campylobacter Gastroenterite Divulgação Científica #Ciência

A11y