Publicado em 20/12/2023 às 12:05 - Atualizado em 22/12/2023 às 15:54
A publicação desse texto é decorrente da parceria da Diretoria de Comunicação Social (Dirco) com a Comissão Permanente de Acompanhamento da Política de Diversidade Sexual e de Gênero (CPDIVERSA) voltada à difusão de informações sobre as temáticas LGBT no campo do ensino, pesquisa, extensão e gestão. Para saber mais sobre a Política de Diversidade Sexual e de Gênero da UFU e a CPDIVERSA acesse: https://ufu.br/cpdiversa.
A sexualidade humana está presente na dinâmica de qualquer sociedade e pode ser compreendida a partir de uma leitura relacional e socialmente construída. Historicamente, foram sendo produzidos padrões considerados ideais cujo suposto ápice seria representado pelo homem branco, heterossexual, cisgênero, sem deficiências, burguês, magro, dentre outros atributos. Em comparação com esse padrão, os outros sujeitos eram vistos como inferiores e diferentes. No terreno das identidades sexuais e de gênero, sujeitos que não se enquadram na cisgeneridade e na heterossexualidade estão em inconformidade com a norma, sendo-lhes, muitas vezes, negados lugares e experiências sociais, como o direito à ocupação de lugares públicos, ao trabalho, à educação, à saúde e até mesmo o direito de existência.
Entre esses sujeitos, estão as pessoas trans (transexuais, transgêneras, travestis e não-binárias) cuja identidade de gênero não está completamente alinhada ao sexo que lhes foi designado no nascimento e, portanto, estão localizadas em um campo de tensionamentos sinuosos e conflitantes com as normas. Assim, levando em consideração os cenários de violências e vulnerabilidade nos quais esses sujeitos estão inseridos, o cuidado à saúde das pessoas trans deve ser realizado de forma especialmente sensível aos múltiplos contextos de vida dessas pessoas, quais sejam, físico, psíquico, cultural, social, financeiro e familiar.
A partir da realização de uma pesquisa de revisão da literatura sobre grupos de cuidado psicológico com pessoas trans, notamos que dois dos temas mais abordados foram as suas relações familiares e as redes de apoio dos participantes, sinalizando que a família precisa ser considerada nos processos de cuidado em saúde das pessoas trans. Nesse caminho, a partir de pesquisas realizadas em revistas científicas, notamos que há poucas pesquisas sobre a realização de grupos com as próprias famílias de pessoas trans, apontando um cenário ainda recente de prática e estudo.
Pensando as relações com as famílias, estas podem se constituir como uma ferramenta de controle social e reiterar normas cisgêneras e heterossexuais ou atuarem como protetora e zeladora das pessoas trans, permitindo refletir sobre tais normas. Nesse processo, é importante pontuar que, muitas vezes, a concepção de família se transforma e se aproxima de relacionamentos significativos entre pessoas unidas pelo afeto, identificação ou necessidades, indo além de laços de consanguinidade.
O trabalho com famílias, nesse cenário, tem como foco auxiliar seus membros na construção de projetos de vida, de modo a acolher as necessidades em saúde de cada um. Tal postura é orientada para o futuro, para as aberturas e possibilidades e muda a ênfase de como as famílias fracassam para como elas podem produzir cenários de cuidado e de novas negociações.
Os grupos de apoio para familiares de pessoas trans são espaços de construção contínuo e, ao aceitarem o convite para conversarem, as famílias ganham possibilidades para descreverem a relação entre si a partir de uma visão conjunta, produzindo sentidos uns com os outros, conversando sobre novos temas e possibilitando a ressignificação de problemas.
Na pesquisa de grupos com pessoas trans disponíveis na literatura científica, os participantes avaliaram os grupos como parte de suas redes de apoio e como espaço de pertencimento, apontando a importância de compartilhar experiências e de construir cenários de acolhimento, legitimidade e cuidado. Os participantes relataram que os grupos foram relevantes para trabalhar os temas levantados e contaram sobre terem sentido suas demandas contempladas e suas necessidades atendidas.
Assim, considerando a relevância dos grupos com famílias de pessoas trans e as poucas investigações na área, estamos realizando uma pesquisa de mestrado no Programa de Pós-graduação em Psicologia da UFU, por meio da qual oferecemos grupos semanais com famílias de pessoas trans em Uberlândia, Minas Gerais. Os grupos são abertos a familiares de pessoas trans, são gratuitos, e acontecem todas às terças-feiras, das 18h às 19h30, no Centro de Uberlândia. Para mais informações, é possível entrar em contato pelo número (17) 99247-5563.
*Isabella Alves Azevedo Moré é psicóloga e mestranda em Processo Psicossociais em Saúde e Educação pelo programa de Pós-graduação em Psicologia da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Ela pesquisa relações de gênero, diversidade sexual e identitária e famílias.
A seção "Leia Cientistas" reúne textos de divulgação científica escritos por pesquisadores da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). São produzidos por professores, técnicos e/ou estudantes de diferentes áreas do conhecimento. A publicação é feita pela Divisão de Divulgação Científica da Diretoria de Comunicação Social (Dirco/UFU), mas os textos são de responsabilidade do(s) autor(es) e não representam, necessariamente, a opinião da UFU e/ou da Dirco. Quer enviar seu texto? Acesse: www.comunica.ufu.br/divulgacao. Se você já enviou o seu texto, aguarde que ele deve ser publicado nos próximos dias.
Palavras-chave: Leia Cientistas LGBTQIA+ grupo apoio Psicologia
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