Publicado em 02/04/2024 às 09:09 - Atualizado em 08/04/2024 às 10:01
Na última quarta-feira (27/3), a Universidade Federal de Uberlândia (UFU) recebeu Almir Suruí, responsável pelo desenvolvimento do Projeto Pamine, ganhador do Prêmio Nobel Verde de 2023. Na ocasião, Suruí ministrou a oficina "Plano de Gestão Territorial Suruí Paiter: Sustentabilidade e Preservação na Amazônia Brasileira". O evento foi promovido pelo Museu dos Povos Indígenas (MuPI).
De acordo com Lídia Meirelles, a reflexão discutida por Almir Suruí é sobre um tema universal, que aborda tudo que envolve o meio ambiente. "Ele traz um exemplo de sustentabilidade de aproveitamento do ambiente amazônico, de uma forma coerente, racional e responsável", resumiu a coordenadora do MuPI. Na oficina, Almir, líder maior do povo Suruí Paiter e ambientalista, debateu a respeito do papel da resistência indígena contra a invasão e desmatamento de não indígenas, apresentando o plano de gestão territorial que foi criado em conjunto com toda sua comunidade.
Ele detalhou sobre o Plano de Gestão Territorial Suruí Paiter da seguinte forma: "Começamos nos anos 2000, construindo uma estratégia de 50 anos; então, isso possibilitou que a gente pudesse fazer um diagnóstico do território, dos desafios e dos problemas enfrentados e, assim, buscando soluções. E uma das soluções é a necessidade de fazer um reflorestamento da área desmatada e degradada, dentro do nosso território.".
O plano tem como fundamento o fortalecimento da autonomia daquele povo e a proteção de seu território, além da defesa da biodiversidade da terra indígena Sete de Setembro. "Para a comunidade acadêmica, é um crescimento poder usufruir de alternativas de ocupação racional de um ambiente, de uma forma tão exitosa para os alunos das mais diversas áreas do conhecimento", completou Lídia.
Comunidade Suruí Paiter
Falantes da língua Tupi Monde, a comunidade Suruí Paiter possui mais de 15 aldeias e é dividida entre cinco clãs: Gameb, Gabgir, Kaban e Makor. Vivem na terra indígena Sete de Setembro, entre os municípios de Cacoal (RO) e Aripuanã (MT).
O contato oficial desse povo aconteceu em 1969 e trouxe diversos impactos negativos para a população, como epidemias e invasões. Foi esse primeiro contato conturbado que mostrou para o povo Suruí Paiter a necessidade de reivindicar e lutar em defesa de suas terras e cultura.
Segundo o líder maior, o plano de gestão é importante não apenas para o equilíbrio ambiental e climático brasileiro, mas também para a melhoria da qualidade de vida da comunidade, devido ao reflorescimento acontecer com plantas nativas que podem ser produzidas para além do uso próprio, como castanha, cacau e pupunha.
A oficina
"Quando a gente chama lideranças indígenas para ocuparem um espaço dentro da universidade, além de trazerem toda cosmologia nativa para cá de um modo muito mais acessível, a gente também ganha a oportunidade de ter uma referência para que outras pessoas possam se enxergar. No caso, por exemplo, de pessoas indígenas não aldeadas, assim como eu, pessoas que são chamadas de pardas, às vezes mestiças, reconhecem nessa liderança de povos indígenas uma possibilidade de existir no mundo", observou Leandro Dias, participante da oficina e estudante de Psicologia.
Oficinas como a promovida pelo MuPI são significativas para que estudantes das mais diversas áreas de conhecimento compreendam a história dos povos indígenas e a sua importância no equilíbrio social, ambiental e econômico do Brasil, contribuindo para a criação de uma consciência ambiental em prol da proteção da biodiversidade brasileira dentro da comunidade acadêmica.
Em 2023, o Prêmio Nobel Verde reconheceu o papel de Almir Suruí na preservação da flora e fauna brasileira, por meio do desenvolvimento do Projeto Pamine. "Nós entendemos que não apenas florestas desmatadas precisam ser desenvolvidas; um desenvolvimento justo vem de planejamento com visão de médio-longo prazo. Então, é por isso que a gente tem tentado mostrar que é possível produzir em conjunto com as florestas", complementou Almir.
Para o chefe indígena, o recente Ministério dos Povos Indígenas é o mais novo aliado na resistência dos povos originários na preservação ambiental e cultural de seus territórios. Ele avalia o ministério como uma forma de possibilitar a implementação ou execução de políticas públicas direcionadas aos povos indígenas e também de reconhecer seus direitos.
Almir Suruí comentou, ainda, sobre a vinda do presidente francês, Emmanuel Macron, ao Brasil. Para ele, a visita "é uma forma de reconhecer a luta brasileira contra as mudanças climáticas e pelo desenvolvimento da Amazônia, tendo em vista que a França, como uma potência econômica, tem a possibilidade de apoiar o desenvolvimento sustentável do Brasil, como um todo". E acrescentou: "Existem outros biomas no país que deveriam ser discutidos e reconhecidos, por serem importantes para o equilíbrio climático, ambiental, econômico e cultural do povo brasileiro."
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Palavras-chave: Almir Suruí Oficina MuPI meio ambiente Povos Indígenas
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