Publicado em 25/07/2024 às 12:20 - Atualizado em 09/08/2024 às 13:38
O primeiro semestre de 2024 trouxe à tona dados alarmantes sobre a violência contra as mulheres no Brasil, especialmente em Minas Gerais. Segundo o Monitor de Feminicídios no Brasil (MFB), iniciativa do Laboratório de Estudos de Feminicídios no Brasil (Lesfem), Uberlândia registrou o maior número de feminicídios consumados no estado, superando inclusive a capital, Belo Horizonte. Este dado ressalta não apenas a gravidade da situação, mas também a disparidade entre os números oficiais e os levantados pelo MFB.
Feminicídios em Uberlândia
Uberlândia, com 7 feminicídios consumados e 3 tentados, lidera os tristes números de Minas Gerais, enquanto Belo Horizonte registrou 5 feminicídios consumados e 7 tentativas. Outras cidades como Governador Valadares (4 consumados e 3 tentados) e Betim (4 consumados e 1 tentado) completam a lista das quatro cidades mineiras com mais incidências deste tipo de violência.
A partir da observação destes dados, a pesquisa sobre feminicídio ganhará um foco especial na cidade de Uberlândia. A cidade foi escolhida devido aos altos índices de feminicídios consumados e tentados, evidenciados por estudos recentes, e por possuir pesquisadores atuantes. Márcio Ferreira de Souza, um dos coordenadores do Lesfem e pesquisador na UFU, enfatiza a importância da divulgação de dados mais precisos, que podem contribuir significativamente para o entendimento da complexidade do fenômeno e a elaboração de políticas públicas eficazes. "Uberlândia tem apresentado altos índices de feminicídios consumados e tentados", afirma o pesquisador, reforçando a necessidade de atenção redobrada para a região.
Confira, abaixo, os dados completos de feminicídios ocorridos em Minas Gerais:
Contexto nacional
No panorama nacional, o MFB registrou 905 feminicídios consumados e 1.102 tentativas de feminicídio no primeiro semestre de 2024. Isso representa uma média diária de quase 5 feminicídios consumados e mais de 6 tentativas. O levantamento foi realizado a partir de notícias veiculadas na internet.
Entre os estados brasileiros, São Paulo lidera com 150 feminicídios consumados e 133 tentativas, seguido pelo Paraná (com 69 consumados e 99 tentativas) e Minas Gerais (85 consumados e 79 tentativas). Estes números reforçam a necessidade urgente de políticas públicas eficazes e uma melhor articulação entre os órgãos de segurança pública e a sociedade civil para o combate a essa forma extrema de violência contra as mulheres.
Acesse o Informe de Feminicídios no Brasil - Janeiro/Junho de 2024 e veja os dados completos da pesquisa.
Subnotificação
Em comparação com os dados do Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública (Sinesp), os números do MFB são sistematicamente superiores desde abril de 2023 (ver gráfico abaixo). Esta discrepância evidencia uma preocupante subnotificação dos feminicídios.
"A subnotificação de crimes de feminicídio no Brasil é uma realidade preocupante", conforme pontua Márcio Ferreira de Souza. Assassinatos de mulheres em contextos específicos, como prostituição, envolvimento com tráfico de drogas e de mulheres transexuais, muitas vezes não são reconhecidos como feminicídios devido aos estigmas sociais. "Além disso, há uma resistência das autoridades em adotar os protocolos e diretrizes que orientam a adoção da hipótese de feminicídio como primeira opção das investigações", sublinha o pesquisador.
Importância dos dados do MFB
Os dados apresentados pelo MFB não apenas revelam a magnitude dos feminicídios no Brasil, como também destacam a importância de uma coleta de dados precisa e abrangente. Em um contexto onde a subnotificação pode mascarar a verdadeira extensão do problema, o trabalho do MFB é fundamental para informar políticas públicas e ações de combate ao feminicídio.
O MFB e as pesquisas realizadas no Lesfem são resultado de trabalho de parceria entre Universidade Estadual de Londrina (UEL), Universidade Federal da Bahia (UFBA) e Universidade Federal de Catalão (UFCAT), além da cooperação com diversas outras instituições. Na UFU, além do professor Márcio Ferreira de Souza e da professora Maria Lúcia Vanucchi - ambos vinculados ao Instituto de Ciências Sociais (Incis) -, os participantes do Núcleo de Estudos de Gênero (Neguem), vinculados ao Instituto de História (Inhis), também têm prestado apoio em trabalhos acadêmicos com análises sobre feminicídios no Brasil.
Política de uso: A reprodução de textos, fotografias e outros conteúdos publicados pela Diretoria de Comunicação Social da Universidade Federal de Uberlândia (Dirco/UFU) é livre; porém, solicitamos que seja(m) citado(s) o(s) autor(es) e o Portal Comunica UFU.
Palavras-chave: feminicídio monitoramento pesquisa
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