Publicado em 17/12/2024 às 09:39 - Atualizado em 17/12/2024 às 10:08
O Alzheimer é uma doença neurodegenerativa que afeta a memória, o comportamento e as habilidades cognitivas. Em busca de novas terapias para a doença, a Universidade Federal de Uberlândia (UFU), em parceria com a empresa Mahara, testou o uso de canabidiol (CBD) em um modelo alternativo: a mosca-das-frutas, cientificamente conhecida como Drosophila melanogaster.
O canabidiol, substância presente na planta Cannabis sativa, tem sido estudado pelo seu potencial terapêutico. Ele atua no sistema nervoso central e já é utilizado no tratamento de epilepsia, ansiedade e doenças neurodegenerativas. No Brasil, ele é comercializado em farmácias sob prescrição médica especial.
No estudo conduzido por Carlos Ueira Vieira, professor do Instituto de Biotecnologia e do Laboratório de Genética da UFU, e Serena Mares Malta, doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Genética e Bioquímica, o óleo de CBD foi administrado em moscas transgênicas, que possuem genes humanos associados ao Alzheimer. Essas moscas foram geneticamente modificadas para mimetizar a doença, permitindo a avaliação de compostos de forma eficiente e com menor dependência de vertebrados, como ratos.
"Nosso laboratório é um biotério de moscas. Então, testamos diferentes compostos para várias doenças. Para além do Alzheimer, também já temos estudos voltados para depressão, epilepsia e TDAH", explica Vieira. O laboratório já realizou estudos similares com kefir e está há um ano pesquisando também com canabidiol.
Segundo o pesquisador, a administração oral do CBD nas moscas reduziu a toxicidade do peptídeo beta-amilóide, marcador da doença, no cérebro dos insetos. Isso levou à melhora de sintomas como perda de memória e problemas motores, o que os pesquisadores definem como resultados promissores: “Essa pesquisa aproximou o grupo Mahara, um dos principais nomes na comercialização de CBD no Brasil, do ambiente acadêmico, em busca de respostas para uma questão importante da sociedade: o uso do CBD no tratamento de pacientes com Alzheimer. Apesar de ainda estar em fase inicial e não incluir testes em humanos, os resultados são animadores e prometem abrir novas possibilidades para o futuro dessa área.”
Além do potencial terapêutico, o uso das moscas como modelo experimental tem um viés ético importante: a redução de testes em animais maiores, como camundongos. Para Vieira, essa abordagem é fundamental para garantir o bem-estar animal e acelerar a obtenção de dados preliminares.
Apesar da redução no uso de vertebrados, o teste em camundongos é uma etapa importante na criação de medicamentos e será o próximo passo do estudo, que ocorrerá sob a coordenação de Malta, que está na Universidade de Saskatchewan, no Canadá, já realizando os estudos com kefir.
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