Publicado em 15/01/2025 às 12:04 - Atualizado em 15/01/2025 às 12:54
Entre os dias 6 e 11 de dezembro, integrantes do Grupo de Pesquisa em Astronomia, ligado ao Instituto de Física da Universidade Federal de Uberlândia (Infis/UFU), participaram de um treinamento prático no Observatório do Pico dos Dias (OPD). A experiência permitiu o aprendizado sobre telescópios profissionais e aprofundou os conhecimentos teóricos em astronomia.
Localizado em Brazópolis (MG), o OPD é o principal observatório astronômico do Brasil e abriga o maior telescópio óptico do país, com diâmetro de 1,60 metros. A atividade foi realizada em parceria com o Laboratório Nacional de Astrofísica (LNA) e teve duração de cinco noites, proporcionando aos alunos uma imersão prática em astronomia observacional.
Professor do Infis, Altair Ramos Gomes Júnior destacou a importância do treinamento para a formação dos estudantes: “Não há disciplinas obrigatórias em astronomia no curso de Física [da UFU], apenas optativas. O mesmo pode-se dizer para a pós-graduação. Assim, há uma dificuldade para os alunos se inserirem nesta área e o grupo se mantém pequeno. A ida ao observatório foi de grande importância para que eles pudessem entender de forma mais aprofundada e na prática aquilo que só tiveram conhecimento teórico, trabalhando com telescópios profissionais, em um treinamento intensivo com colaboração de pesquisadores experientes na área.”
Cinco noites sob o céu
No primeiro dia, os estudantes utilizaram o telescópio Zeiss, com diâmetro de 60 cm. O treinamento incluiu atividades como apontamento manual do telescópio, observação da Nebulosa de Órion e introdução a softwares de calibração e manuseio de equipamentos. Nos dias seguintes, foram explorados diferentes telescópios, como o Perkin-Elmer, e o SPARC4, instrumento avançado para fotometria e polarimetria em quatro bandas.
Os estudantes também aprenderam sobre processos fundamentais de calibração, como FLAT e BIAS, utilizados para eliminar ruídos gerados pelas câmeras e garantir a qualidade das imagens capturadas. Entre os alvos observados estiveram na mira planetas como Júpiter e Marte, a estrela Betelgeuse e a Nebulosa do Cavalo.
Para muitos, a experiência foi transformadora. “O observatório tem o céu com o mínimo de poluição visual possível. Por muitas vezes, a vastidão do céu noturno passa despercebida para nós que moramos na cidade. Olhar para aquele céu que me permitia ver muito mais do que eu geralmente vejo, foi muito inspirador”, conta Mariana Milena Prado de Sá, aluna do curso de Engenharia Mecatrônica da UFU.
Gomes Júnior também comentou sobre o impacto do treinamento: “Em diversas ocasiões, os alunos puderam participar dessas observações de forma remota. É bem diferente estar remotamente na frente de um computador digitando números e apertando botões do que estar no observatório e vendo ele se mexer, se está apontando para a região correta do céu, ouvir os barulhos dos instrumentos…”
Além de aprofundar os conhecimentos técnicos, os alunos também puderam vivenciar a rotina exaustiva de observações noturnas, que exige atenção constante às condições climáticas e ao funcionamento dos instrumentos, entre 18h e 6h.
“Como eram atividades práticas e, naquele momento, supervisionadas, cada erro contava muito, porque são erros que poderíamos ter quando não estivéssemos em treinamento e sim numa atividade com objetivo em pesquisa. Para mim, é muito importante passar o que eu aprendi lá para a comunidade e usar o conhecimento para desconstruir mitos a respeito da observação astronômica”, completa De Sá.
O Observatório do Pico dos Dias
Fundado na década de 1980, o OPD desempenha um papel crucial na astronomia nacional e internacional. Além de abrigar telescópios como o Perkin-Elmer e o PANEOS — fruto de uma colaboração Brasil-Rússia para monitoramento de asteroides —, o local é um dos poucos no Brasil com condições ideais para observações ópticas.
Os dados gerados por esses telescópios passam por um rigoroso método de processamento e calibração. “Quando a gente vê imagens dos telescópios Hubble ou James Webb, parece que as observações são obtidas como são apresentadas. Na verdade, existe um grande trabalho de processamento de dados para que as imagens tenham a melhor qualidade possível,” explica o professor.
Iniciativas como a visita do grupo da UFU reforçam a formação de novos cientistas e o desenvolvimento da astronomia no Brasil. “Carl Sagan tem uma frase que diz que nós somos poeira das estrelas, ou seja, que nós somos uma forma do universo se autoconhecer. Então, é um privilégio poder estar aqui [na Terra] e não estar só passivamente, mas poder questionar e buscar respostas para essas questões”, finaliza De Sá.
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Palavras-chave: Astronomia microscópio visita Física Observatório observatório pico dos dias
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