Publicado em 02/01/2025 às 12:20 - Atualizado em 02/01/2025 às 12:31
A automedicação se refere ao consumo de medicamentos, sem a orientação de profissionais da saúde, com objetivo de tratar sintomas ou doenças autodiagnosticadas. No ambiente universitário, essa prática pode ser realizada por estudantes com o propósito de amenizar transtornos de saúde física e mental influenciados em razão da carga extensiva de atividades de estudo e vida social.
Essa temática é importante, visto que, a automedicação pode resultar no atraso do diagnóstico de doenças graves, piorar prognósticos, influenciar o desenvolvimento de dependência química e gerar intoxicações e reações adversas fatais.
Para prevenir essa prática, estudantes do curso de graduação em Medicina, Lucas Barbosa Silva, Luíza de Freitas Rangel, Nikolas Lisboa Coda Dias e Nattan Afonso Mariano, sob a orientação dos professores Wallisen Tadashi Hattori e Stefan Vilges de Oliveira do Departamento de Saúde Coletiva (Desco) da Faculdade de Medicina (Famed) da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), realizaram ações educativas em saúde sobre os riscos da automedicação que foram apresentadas no artigo “Saúde do estudante universitário: Relato de Experiência sobre os riscos da automedicação” publicado na Revista Conexão UEPG, em 4 de dezembro de 2024. Nosso artigo é fruto do Projeto de Extensão “Riscos da automedicação pelos universitários”, previamente divulgado pelo Comunica UFU desenvolvido através de postagens publicadas pelo perfil da Liga Acadêmica de Saúde da Família e da Comunidade (LASFC) no Instagram.
Durante os meses de janeiro a abril de 2024, utilizamos o perfil da LASFC para divulgação das publicações educativas, considerando que essa rede social funciona como um instrumento efetivo para disseminar informações confiáveis sobre os riscos da automedicação, além de permitir o contato com os perfis de estudantes de diferentes cursos de graduação.
Publicamos quatorze postagens que abrangeram os riscos da automedicação de analgésicos, anti-histamínicos, corticoides, antieméticos, antimicrobianos e medicamentos relacionados ao sofrimento mental, por meio de linguagem informal, legível e acessível ao público-alvo. As informações utilizadas em nossas publicações foram obtidas de bulas eletrônicas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária e de artigos científicos publicados no PubMed, Scielo, Google Acadêmico e Biblioteca Virtual em Saúde Brasil. Por se tratar de divulgação voltada ao público universitário, acrescentamos as referências bibliográficas ao final, para o caso de o leitor querer entender mais a fundo o tema da postagem.
Para destacar os riscos da automedicação, utilizamos informações sobre as reações adversas à saúde e interações desses medicamentos com outros fármacos e o álcool, além dos perigos dessa prática durante os períodos de gravidez e de amamentação. Além disso, através das postagens, estimulamos o consumo apropriado desses medicamentos por meio de informações sobre as indicações e as contra-indicações, além de sintomas e doenças, nas quais esses fármacos são aplicados.
Durante as publicações, observamos notícias sobre a automedicação de medicamentos para dengue. Desse modo, reforçamos informações sobre a necessidade de repouso, hidratação adequada e, se necessário, suporte hospitalar avançado, considerando a ausência de um antimicrobiano efetivo contra o vírus da dengue e a piora de sangramento associados ao consumo de anti-inflamatórios. Em relação à semaglutida, medicamento divulgado nas mídias pela sua utilização para perda de peso, reforçamos os prejuízos estéticos, como o envelhecimento e aumento da flacidez da pele.
Observamos o engajamento do público por meio das curtidas e comentários nas postagens e nos stories. No entanto, não conseguimos contabilizar a quantidade de visualizações em razão do limite de 24 horas dos stories e por não se tratar de uma conta comercial.
Priorizamos a interação com o público com o uso de enquetes, as quais contribuíram para aumentar a adesão dos leitores recorrentes, a qual foi observada pela presença e constatação de feedbacks sobre as informações e a sugestão de temas de interesse do público em geral, uma vez que se tratava de temas de amplo interesse por boa parte da comunidade acadêmica. Por exemplo, nossa publicação sobre o tema antibióticos foi sugerida pelos leitores, que nos comunicaram pelo Instagram sobre possíveis dúvidas sobre uso excessivo. Além disso, utilizamos hashtags para incentivar o compartilhamento das publicações ampliando o alcance de nossas informações.
Além da prevenção da automedicação, nosso estudo representa uma importante contribuição da aplicação da pesquisa científica para a saúde estudantil, considerando que a escolha dos medicamentos escolhidos foi baseada em informações obtidas no Projeto de Pesquisa “Perfil epidemiológico da automedicação por estudantes universitários durante a pandemia da COVID-19 no Brasil”, pelos discentes Nikolas Lisboa Coda Dias, Beatriz Guerra Santos, Maria Eduarda Puga Rezende e Lívia Danielle de Oliveira Pereira, antigos estudantes da LASFC, sob a orientação dos professores Wallisen Tadashi Hattori e Stefan Vilges de Oliveira.
Esse projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética da UFU e foi realizado através de instrumento de coleta de dados divulgado nas redes sociais. Em janeiro de 2022, buscamos alcançar alunos de diversos cursos e que vivem em diferentes regiões brasileiras, por meio do envio do formulário feito no Google Forms por meio das coordenações de cursos de graduação de universidades brasileiras de diferentes estados.
Parte dos resultados deste projeto foi publicada no artigo científico “Análise epidemiológica da automedicação do kit-covid por estudantes universitários, durante a pandemia da covid-19, no Brasil” em 14 de março de 2024 na revista Saúde e Meio Ambiente: Revista Interdisciplinar, o qual foi previamente divulgado pelo Comunica UFU.
Nesse estudo, detectamos uma prevalência de 14,32% da prática de automedicação do “Kit-covid” pelos estudantes universitários, dos quais 44,8%, 29,9%, 22,4% e 3% consumiram, respectivamente, corticoides, azitromicina, ivermectina e hidroxicloroquina. Além disso, registramos a predominância de discentes do sexo feminino (60%) e de pessoas da faixa etária de 20 a 24 anos (58%). Alguns de nossos resultados mais curiosos foram que alunos com comorbidades têm chance 2,324 maior de consumir o “Kit-covid”.
Além da influência do medo de infecção, dos transtornos psicológicos e do uso de medicamentos para tratar comorbidades, possivelmente, a sobrecarga de tarefas domésticas pelos estudantes do sexo feminino, a maior exposição a situações de risco observadas nos jovens podem ter influenciado a prática de automedicação.
Outros estudos detectaram que mais da metade dos universitários realiza a automedicação, como comprova o artigo “Práticas e Atitudes de Automedicação durante a Pandemia de covid-19 em Estudantes Universitários com Papel Intervencionista do Farmacêutico: uma Análise Regional”, da Revista Latino-Americana de Farmácia, publicado em 2021. É uma recomendação que sugere o quão alarmante é essa situação entre os estudantes e que a maioria, direta ou indiretamente, utiliza da prática de alguma forma.
Assim, inspirados por pesquisas e resultados preocupantes como esses, resolvemos criar nosso projeto de extensão, com intuito de levar informações sobre os fatores mais importantes que podem impactar negativamente a qualidade de vida dos alunos que realizam automedicação.
Iniciamos nossas postagens com a temática de prevenção dos riscos da automedicação do “Kit-covid”. Apesar do fim da pandemia de covid-19, nós incluímos informações da literatura científica que comprovaram a ineficácia desses medicamentos contra a covid-19 nas nossas postagens e destacamos as interações medicamentosas, as contra-indicações e os efeitos colaterais indesejáveis desses medicamentos que poderiam levar ao óbito.
Por outro lado, consideramos que, devido à disseminação de informações não cientificamente comprovadas, é possível que a hidroxicloroquina, azitromicina, ivermectina e os corticoides tenham ganhado uma imagem negativa socialmente, o que pode desestimular o consumo correto desses fármacos nas situações realmente necessárias. Desse modo, também incluímos informações sobre as indicações apropriadas, reforçando sempre a busca por orientação de profissionais da saúde e a compra através de meios legalizados.
Outros resultados destes projetos foram apresentados em evento científico “Semana Científica do Curso de Medicina da UFU”, publicados através de resumos que abordaram a automedicação do kit covid, de antibióticos e medicamentos psiquátricos, de analgésicos, antitérmicos e anti-histamínicos e a epidemiologia da automedicação através de análise de correspondência nos “Anais da Semana Científica do Curso de Medicina da UFU”. Além disso, aguardamos a publicação do artigo traduzido para o inglês “Perfil epidemiológico da automedicação por estudantes universitários, durante a pandemia da covid-19, no Brasil”, o qual foi aceito pela revista ABCS Health Sciences em 27 de maio de 2024.
Assinam esse texto os estudantes Lucas Silva, Luíza Rangel, Nattan Santos, Nikolas Dias, Beatriz Santos e Maria Eduarda Rezende. Lívia Pereira (fisioterapeuta) e os docentes Wallisen Hattori e Stefan de Oliveira.
A seção "Leia Cientistas" reúne textos de divulgação científica escritos por pesquisadores da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). São produzidos por professores, técnicos e/ou estudantes de diferentes áreas do conhecimento. A publicação é feita pela Divisão de Divulgação Científica da Diretoria de Comunicação Social (Dirco/UFU), mas os textos são de responsabilidade do(s) autor(es) e não representam, necessariamente, a opinião da UFU e/ou da Dirco. Quer enviar seu texto? Acesse: www.comunica.ufu.br/divulgacao. Se você já enviou o seu texto, aguarde que ele deve ser publicado nos próximos dias.
Palavras-chave: automedicação remédios pesquisa rede sociais Medicina estudantes
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