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SÉRIE MULHERES E MENINAS NA CIÊNCIA

Uma menina apaixonada por ciência

Estudante da Escola de Educação Básica da UFU coleciona premiações com pesquisas realizadas em grupo

Publicado em 11/02/2025 às 11:19 - Atualizado em 17/02/2025 às 14:51

Laura Souza: 'Eu sempre quis ir além do que os professores ensinam em sala de aula'. (Foto: Ítana Santos)

 

Ela ainda não completou 13 anos de idade e já apresentou trabalhos científicos presencialmente em Pomerode (SC), Recife (PE) e Bragança Paulista (SP). Em Minas Gerais, já foi, com o mesmo objetivo, para Belo Horizonte e Viçosa, além de fazer várias apresentações em Uberlândia. Se incluir as participações em eventos científicos na modalidade remota, esse mapeamento se amplia, passa por Brasília e vai até o Panamá. 

“Só no ano passado foram 11 ou 12”, revela Laura Rodrigues de Souza, indicada pela Escola de Educação Básica da Universidade Federal de Uberlândia (Eseba/UFU) para representar as meninas na série de reportagens do portal Comunica UFU que, em mais um ano, celebra duas datas representativas para a igualdade de gênero: o Dia Internacional de Mulheres e Meninas na Ciência (11/02) e o Dia Internacional da Mulher (8/3). A série "Mulheres e Meninas na Ciência" de 2025 começa nesta terça-feira (11/02) e, semanalmente, até o fim de março, apresentará uma pesquisadora da UFU.

Laura está iniciando o 8º ano do ensino fundamental e é uma das 70 meninas (e meninos) da Eseba que receberam bolsa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), em 2024, para incentivar o desenvolvimento da ciência, da tecnologia e da inovação. A escola oferece turmas para a Educação Infantil, o Ensino Básico e a Educação de Jovens e Adultos.

A estudante faz parte do Grupo de Estudos, Pesquisas e Inovações Tecnológicas (GEPIT). O objetivo do grupo  — coordenado pela professora Maísa G. da Silva, da área de Matemática — é desenvolver os primeiros contatos dos estudantes com a área de Pesquisa, como parte da Alfabetização Científica. “É um grupo que busca incentivar os alunos da Eseba a ir além do que a escola oferece”, resume Laura.

Outro grupo de estudos que ela integra é o “Tem Menina no Circuito”, criado na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e que tem parceria com a UFU. O objetivo é incentivar meninas e mulheres a ingressarem nas áreas de exatas, mas especialmente nas áreas STEM (sigla em inglês para ciência, tecnologia, engenharia e matemática — áreas que, comumente, têm maior participação masculina).

“Então a gente tem esse grupo que trabalha com robótica e elétrica ao mesmo tempo. A gente faz programação de Arduino, curso de circuito elétrico. Essa parte de energia e circuito”, conta a aluna. Em 2024, ela também se dedicou a criar, em grupo, dois podcasts que foram veiculados na Rádio Eseba.

O seu envolvimento com as pesquisas científicas começou quando ela estava no quinto ano, em 2022. “Desde os meus 10 anos eu já estava ali envolvida com projetos na iniciação científica. Desde o primeiro ano [da iniciação científica] a gente realizou apresentações em outras feiras. Primeiro a gente foi para Santa Catarina, para participar de uma feira, a Febic [Feira Brasileira de Iniciação Científica], que é uma feira a nível nacional e recebe também outras pessoas de fora — quando eu fui, tinha gente do México. A gente teve várias trocas de experiências. Com 10 anos de idade eu já estava ali apresentando, inclusive eu ganhei uma premiação. Eu fui representar o grupo e ganhei uma premiação em Destaque de Iniciação Científica”, relata Laura.

Nesses três anos de iniciação científica ela acumulou premiações. Além da Febic, em 2022 ela também foi premiada em primeiro lugar na Feira de Iniciação Científica do Pontal do Triângulo Mineiro (“Um Minicurso sobre Energia e Sustentabilidade”). “Em 2023, a gente ganhou o primeiro lugar em Exatas no Ciência Viva. Também ganhei uma premiação de Destaque na Iniciação Científica e Tecnológica  no seminário da UFU”.

Em 2024, o grupo da aluna ficou em primeiro lugar novamente no Ciência Viva, mas desta vez também levaram o prêmio “Meninas e Mulheres na Ciência”. Em outubro, o grupo também participou, remotamente, da Feira Brasileira de Trabalhos de Iniciação Científica na Educação Básica e Técnica, a Febrat. Ficaram em segundo lugar na categoria Ciências Exatas e da Terra.

Ainda em outubro de 2024, o grupo ganhou credencial para a International Greenwich Olympiad 2025, em Londres, por seu desempenho na Feira Nordestina de Ciência e Tecnologia (Fenecit), realizada em Recife. “Eu considero essa premiação do ano passado a mais importante desde quando eu comecei na iniciação científica, que foi a credencial para Londres, uma feira que é considerada uma das três maiores feiras do mundo de iniciação científica”, revela a pesquisadora. 

O grupo de Laura já desenvolve a pesquisa apresentada na Fenecit há dois anos. “É um projeto sobre Seebeck, que é um conceito de física, utilizado para gerar energia. A gente usa a diferença de temperatura entre dois polos de um circuito para gerar energia e esse efeito é aplicado em diversas formas do dia a dia. Ele é aplicado, por exemplo, na Voyager I, que é uma sonda espacial enviada pela Nasa para exploração espacial. Ela se movimenta a partir do efeito Seebeck. Então, a gente estudou sobre esse efeito Seebeck e aplicou ele ali no protótipo construído pelas próprias meninas do grupo”, explica a estudante. 


Confira, a seguir, uma breve entrevista com Laura de Souza:


Quem é você no Currículo Lattes?

A gente já tem textos publicados. Inclusive publicou um agora em janeiro que foi na revista Ponto de Vista, que é uma revista vinculada a uma feira que a gente participou no ano passado, que foi em Viçosa, aqui em Minas Gerais. Tenho essa publicação e também outras revistas e também formações complementares, os cursos que o Gepit oferece, os minicursos de robótica que vou participando ao longo do tempo e também as complementações, participações em feiras… É isso que tenho no meu currículo Lattes.

 

E fora da escola e do Currículo Lattes? Quem é a Laura?

Eu gosto de tocar teclado, gosto de ficar com meus amigos, com a minha família. Mas, sou uma menina também que gosta muito de estudar. Então, no meu tempo que fico em casa, eu tiro um tempinho para estudar, porque é o que eu gosto mesmo, por prazer.

 

Quando você despertou para a ciência?

No quinto ano eu entrei no Gepit porque eu sempre tive essa curiosidade de descobrir coisas novas. Também eu sempre quis ir além do que os professores ensinam em sala de aula. Então foi aí que surgiu a ideia de entrar no Gepit e eu me apaixonei pelo meio tecnológico, científico, e acabou que estou envolvida em muitos projetos da Eseba.

 

Você já tem em mente uma área de carreira a seguir?

Eu queria Engenharia, mas depende do que eu vou me decidindo ao longo do tempo. Ainda têm quatro aninhos para eu decidir, mas eu quero seguir esse ramo.

 

Quantas pessoas têm no seu grupo de pesquisa?

Sou eu e mais quatro meninas: Alice de Faria, Pietra Ehrhardt, Luanny Vidal e Laura Castro, fora a orientadora Maísa da Silva e o co-orientador Alex Carvalho.

 

Tem alguém em que você se espelha ou que te incentiva muito?

Tem a minha orientadora, a Maísa. Ela sempre auxiliou a gente em todo passo a passo da nossa pesquisa. Ela sempre esteve com a gente. Ela viaja com a gente. Eu me espelho muito nela. Ela é uma mulher de exemplo para mim. Ela é incrível. Uma professora super simpática. É uma amiga mesmo, para a gente.

 

Você tem alguma história relacionada à ciência que você já vivenciou e que gostaria de compartilhar?

As feiras científicas, que são de grande importância para mim. Eu já vivi muitas coisas dentro delas. Eu acho que o que mais me marcou mesmo foram as premiações que a gente vai conquistando, porque vê os resultados daquela pesquisa que a gente se envolveu por meses, que se dedicou tanto. Porque vê os resultados. Acho que isso é o que mais me marca ao longo da minha caminhada.

 

Em relação a gênero, você sente alguma dificuldade, na ciência, por ser menina?

Hoje em dia têm muitos programas, têm meninas que incentivam outras meninas, ingressam elas nessas áreas. A gente tem muitos recursos. Só que, mesmo assim, ainda tem uma diferença ali, às vezes. Até como referências. Normalmente, são mais homens do que meninas. Então, é esse diferencial que desmotiva um pouco, mas, hoje em dia, a gente tem muitos programas. Mas sinto essa diferenciação nessa parte de exemplos. Os maiores cientistas geralmente são homens.

 

O que você aconselharia para outras estudantes que queiram seguir carreira como cientista?

Se dedicar ao máximo, aproveitar o máximo do que a escola oferece, sempre se envolver mais nos projetos e estar presente ali, realmente se dedicar, porque a gente consegue. Procurar também professoras que estão envolvidas nessa área para auxiliar também. Acho que é muito importante isso: se dedicar e realmente correr atrás.


 

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