“Os efeitos do bullying e da violência psicológica em jovens adultos são muitas vezes subestimados”, afirma Isabela Teixeira, que é psicóloga clínica e mestranda em Psicologia pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). A prática comumente associada ao ambiente escolar, a violência, construída como bullying, é ainda reproduzida no contexto acadêmico e comercial, mesmo que nem sempre identificada com a mesma facilidade. “O bullying, embora mais associado ao ambiente escolar, também ocorre no ensino superior”, diz a pesquisadora.
No que concerne a instância universitária, associada à violência psicológica, que consiste em causar dano emocional prejudicando o desenvolvimento pessoal e controle de comportamentos e decisões, há a manutenção de uma posição de negligência, uma vez que esse é um assunto pouco tratado na instância. “Quando o meio acadêmico falha em reconhecer ou agir diante dessas situações, reforça uma cultura de silenciamento e naturalização da violência”, reflete a psicóloga. Dentro do contexto acadêmico, é possível observar diversas formas de pressão psicológica, como o caso dos trotes violentos que envolvem bullying entre veteranos e calouros, além de julgamentos devido à atividade intelectual ou condições físicas, até mesmo por parte de professores. Nessas situações, o constrangimento pode acontecer por conta de características pessoais, orientações ou desempenho, além de assédio moral.
O “bullying” — palavra inglesa que tem como raiz o termo “bull”, que significa touro ou “valentão" — remete à atitude de usar poder ou força para perseguir, humilhar, implicar, intimidar, excluir e também diminuir outra pessoa ou o que se entende sobre ela. Ele se classifica em dois tipos: direto (físico e verbal) e indireto (relacional). Com a evolução das tecnologias, o que antes dependia do convívio físico agora também acontece no ambiente virtual. As redes sociais on-line trouxeram o aumento desses casos, que passaram a ser nomeados como cyberbullying.
Segundo Isabela Teixeira, define-se bullying no ensino superior as ações que visam excluir, humilhar ou deslegitimar os colegas. Já a violência psicológica, gama mais ampla, são aquelas que causam sofrimento emocional, como desqualificações constantes, manipulação, pressão abusiva ou invalidação de experiências.
Teixeira comenta que os malefícios dessas violências em jovens adultos é maior do que se pensa. “Esse período da vida é marcado por importantes transições, como a construção da identidade, a escolha profissional, a busca por autonomia e o estabelecimento de vínculos significativos. Quando o sujeito é exposto a práticas que o desqualificam [...] isso pode gerar impactos duradouros na autoestima, na saúde mental e no engajamento com a própria trajetória”, aponta a mestranda. Quanto aos prolongamentos da negligência à problemática, ela pontua: “Isso pode impactar diretamente os índices de permanência, conclusão de curso e engajamento estudantil. A longo prazo, esse cenário compromete o papel formativo da universidade, que deveria ser não apenas um espaço de produção de conhecimento, mas também um ambiente que promova bem-estar, equidade e pertencimento.”
O ataque psicológico provoca prejuízos claros às vítimas e questões como desenvolvimento de dificuldades de aprendizagem, traumas, pânico, depressão e distúrbios psicossomáticos, atingindo até casos de suicídio devido à demasiada pressão psicológica. Com isso, as violências, como o bullying, refletem circunstâncias de exclusão e rejeição de um ser por determinado círculo, na redução de alguém à invisibilidade, por atitudes que, de acordo com a psicóloga, fazem a vítima duvidar do seu valor e competência pela produção de sentimentos intensos de inadequação. “Quando essas violências se direcionam a marcadores identitários como raça, gênero, classe, orientação sexual e/ou deficiência, o sofrimento tende a se aprofundar, pois não se trata apenas de uma experiência individual, mas da reprodução de violências estruturais que afetam o senso de pertencimento e legitimidade desses estudantes nos espaços acadêmicos”, acrescenta Teixeira.
Para que os estudantes se protejam e reajam diante dessas situações, ela sugere: “O primeiro passo é reconhecer que esse sofrimento é legítimo; não é fraqueza, nem exagero. Buscar apoio em pessoas de confiança, coletivos ou atendimento psicológico pode ajudar a reduzir o isolamento e a elaborar estratégias possíveis. [...] Enfrentar esse tipo de violência não deve ser uma tarefa solitária. Fortalecer-se em rede é, muitas vezes, o caminho mais potente de proteção.”
Na UFU, as estudantes podem contar com o apoio do coletivo Acolhidas para enfrentar situações de violência. O grupo, fundado em 2015, é um projeto de extensão na luta contra a violência direcionada às mulheres. Criado a partir da sensibilização de mulheres do curso de Direito e com o objetivo de estabelecer um espaço seguro para tratar e abordar os casos de violência, a iniciativa oferece atendimento psicológico e, caso optado, o acionamento jurídico.
O Acolhidas é organizado por núcleos de atuação com a intenção de atuar na expansão da conscientização acerca dessas pautas. O contato pode ser feito por meio de um perfil no Instagram ou via e-mail (acolhidas.ouvidoria@gmail.com).
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Palavras-chave: saúde mental bullying Coletivo Acolhidas