Pular para o conteúdo principal
Leia Cientistas

Educar com Gaia

Aprender e entrar em relação com uma Terra/terra viva e ferida em tempos de desastres

Publicado em 29/05/2025 às 08:47 - Atualizado em 05/06/2025 às 16:20

Galhos, folhas e sementes se tornam testemunhos de vidas que resistem e persistem. (Foto: acervo do pesquisador)

 

É possível educar para resistir? Como ensinar em um mundo onde a Terra arde e a terra seca sob nossos pés? Em tempos de desastres climáticos e sociais, qual é o papel da educação? Essas questões nos atravessaram durante o desenvolvimento da pesquisa “Educar com Gaia”. Inspirados pela Teoria de Gaia, de James Lovelock, e pelos saberes ancestrais pelo pensador indígena Ailton Krenak que reconhecem a Terra/terra como um organismo vivo e pulsante, percorremos caminhos que vão além da sala de aula. Educamos com Gaia e pelas cosmogonias ancestrais que compreendem o planeta como um organismo vivo, mergulhamos em um processo de investigação que buscou não apenas entender, mas sentir a Terra em suas múltiplas dimensões.

A escolha por uma metodologia sensível e implicada veio da necessidade de estar em relação com o objeto de estudo. Não se tratava apenas de observar de fora, mas de experimentar, de tocar, sentir, dialogar com a Terra/terra viva. Nesse sentido, a Terra, com letra maiúscula, representa o planeta em sua totalidade viva e pulsante, enquanto a terra, com letra minúscula, nos conecta ao solo que pisamos, às raízes que o atravessam e às memórias que ele guarda.

Nos projetos de extensão: Coletivo Goiabal Vivo e no grupo habitAR, que integramos com orgulho, resgatamos a relação sensível com os territórios que habitamos. As práticas coletivas de cuidado e pertencimento com a Terra/terra se materializam em cada encontro, em cada conversa e, principalmente, nas Mesas de Trabalho com Gaia. Nelas, arte, ciência e saberes tradicionais se entrelaçam para criar novos modos de pensar e sentir a Terra. Galhos, folhas e sementes, cuidadosamente dispostos sobre a mesa, deixam de ser meros objetos e se tornam testemunhos de vidas que resistem e persistem.

Foi durante as Mesas de Trabalho com Gaia que compreendemos a dimensão ancestral da vida. Inspirados pela visão de Donna Haraway sobre espécies companheiras, vimos que as relações entre os seres são mais profundas do que imaginamos. Galhos retorcidos de ipês, sementes de baru, frutos do jacarandá... cada elemento ali presente carregava não apenas vida, mas memórias, histórias e pertencimentos. A cada toque, a cada traço desenhado, era como se Gaia se revelasse em pequenos fragmentos, sussurrando sua história e convocando-nos a cuidar.

Como educar em tempos de desastres? Em um cenário de queimadas, secas e destruição, a educação emerge como um ato de resistência. Ensinar a cuidar da Terra/terra é também ensinar a cuidar de nós mesmos. É compreender que o futuro é ancestral. O que está por vir carrega em si a memória dos que vieram antes e o compromisso com os que virão depois. Para nós, educar é reconhecer que o solo que pisamos é sagrado, que as águas que correm também contam histórias, e que o vento que sopra traz consigo a voz daqueles que resistem.

Aqui, presente na Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Campus Pontal, estamos entrelaçados com os projetos de extensão, o Coletivo Goiabal Vivo, resistimos com ações. Nos encontros semanais, discutimos estratégias de relacionamentos e realizamos práticas educativas que emergem do chão que habitamos. No habitAR, buscamos construir diálogos trans/interdisciplinares que integrem ciência, arte e cultura, para que o saber não fique preso em teorias, mas floresça em práticas que transformam. Esse é o legado que desejamos deixar: que educar seja sempre um ato de amor e resistência.

Ao final das Mesas de Trabalho com Gaia, o que fica não são apenas desenhos ou relatos; ficam memórias, pertencimentos e um desejo profundo de continuar cuidando. Porque educar em tempos de desastres é também semear esperança. E em cada semente lançada à terra, vemos a promessa de um amanhã que insiste em nascer, mesmo entre as cinzas.

 

*Mike Nascimento dos Santos é licenciando no curso de Ciências Biológicas, integrante do Coletivo Goiabal Vivo na Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Campus Pontal.

 

A seção "Leia Cientistas" reúne textos de divulgação científica escritos por pesquisadores da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). São produzidos por professores, técnicos e/ou estudantes de diferentes áreas do conhecimento. A publicação é feita pela Divisão de Divulgação Científica da Diretoria de Comunicação Social (Dirco/UFU), mas os textos são de responsabilidade do(s) autor(es) e não representam, necessariamente, a opinião da UFU e/ou da Dirco. Quer enviar seu texto? Acesse: www.comunica.ufu.br/divulgacao. Se você já enviou o seu texto, aguarde que ele deve ser publicado nos próximos dias.

 

Defendeu TCC agora? Divulgue sua pesquisa na seção ‘Leia Cientistas’

 

Política de uso: A reprodução de textos, fotografias e outros conteúdos publicados pela Diretoria de Comunicação Social da Universidade Federal de Uberlândia.

 

Palavras-chave: Leia Cientistas Gaia Biologia meio ambiente educação

A11y