Publicado em 12/11/2025 às 16:51 - Atualizado em 18/11/2025 às 11:54
Quando se pensa em foguetes, a maioria das pessoas pensa no bilionário sul-africano radicado nos Estados Unidos Elon Musk, fundador da SpaceX e da Tesla, ou na missão estadunidense Apollo 11, lançada em 16 de julho de 1969, que levou os astronautas Neil Armstrong, Buzz Aldrin e Michael Collins pela primeira vez à Lua.
Mas não precisamos ir tão longe, pois a Universidade Federal de Uberlândia (UFU) também desenvolve foguetes! A Equipe de Propulsão e Tecnologia Aeroespacial (Epta), vinculada à Faculdade de Engenharia Mecânica (Femec/UFU) e coordenada por mim desde 2016, é uma equipe de extensão com mais de 50 alunos de diversos cursos (Engenharias Aeronáutica, Mecatrônica, Mecânica, de Controle e Automação, Elétrica, Química, dentre outras). Nela projetamos, construímos e lançamos minifoguetes. Além disso, promovemos eventos de extensão para disseminar conhecimentos do setor aeroespacial para o grande público.
Um foguete é um veículo autopropulsado que se move pelo princípio da ação e reação (Terceira Lei de Newton), ou seja, o gás é expelido em alta velocidade por um bocal, também chamado de tubeira, gerando empuxo no sentido oposto. São utilizados para fins militares, científicos ou comerciais (por exemplo, lançamento de satélites).
Um minifoguete é um foguete em escala reduzida, geralmente de até dois ou três metros de altura. Eles utilizam motores de propelente sólido, motores híbridos (com a mistura de um combustível e um oxidante) ou motores líquidos, em que a mistura e queima são realizadas dentro da câmara de combustão e chegam em altitudes de até 12 mil metros (segundo a Norma BAR-2/2020). São utilizados para aprendizado em aerodinâmica, estabilidade, propulsão e eletrônica embarcada. Após atingir o apogeu, que é a altitude máxima, a recuperação é feita por paraquedas ou fita de arrasto embarcadas dentro do foguete.
Nós, da Epta, participamos, todos os anos, de competições nacionais e internacionais com os nossos foguetes. A principal competição da qual participamos é a Latin American Space Challenge (Lasc); em tradução livre, Desafio Espacial Latino-americano. Nesta competição, as equipes são pontuadas tanto pela qualidade dos relatórios de projeto quanto pela eficiência no lançamento do foguete. O objetivo é que o foguete chegue o mais próximo do apogeu almejado (500 metros, 1 quilômetro ou 3 quilômetros de altitude) e que ele pouse em segurança com uso de paraquedas. Todo o processo deve ser feito de forma automática com a eletrônica embarcada no foguete, ou seja, o foguete não é guiado por um controle remoto. Além disso, cada foguete carrega uma payload (ou carga útil) que é a missão do foguete como, por exemplo, levar um satélite à órbita terrestre.
Em 2017, participamos da Competição Nacional de Foguetemodelismo, em Natal (RN), que aconteceu na base militar do Centro de Lançamento da Barreira do Inferno (CLBI), filiada à Competição Brasileira Universitária de Foguetes (Cobruf) em um projeto em parceria com a UnB.
Participamos da competição Lasc 2021, que aconteceu de forma remota, com o foguete Osíris, de um quilômetro de apogeu. Nesta competição obtivemos o 2º lugar na categoria com motor a propelente sólido. O propelente tem, ao mesmo tempo, combustível e comburente em sua composição. Isso quer dizer que ele pode queimar até mesmo numa atmosfera sem ar, como é o caso de grandes altitudes. Na Epta, usamos o KNSU, uma mistura de nitrato de potássio com sacarose (açúcar).
Na Lasc 2022, evento que aconteceu em Tatuí (SP), desenvolvemos o foguete Ankaa, que foi lançado, porém, não recuperado. Em 2023, foi a vez do foguete Polaris, com apogeu previsto de um quilômetro, que infelizmente não pôde ser lançado por questões técnicas e pelo tempo extremamente chuvoso no local da competição.
Entre os dias 5 e 8 de novembro de 2025 participamos da Lasc 2025, em Iacanga (SP), com dois foguetes: o Nashira, com apogeu de 500 metros, e o Polaris, com apogeu de 1 quilômetro. Tivemos muitas dificuldades em participar desta competição, pois a Femec custeou a inscrição de apenas seis membros da equipe e não contratou ônibus para transporte dos alunos por falta de verbas. As Pró-Reitorias de Extensão e Cultura (Proexc) e de Pesquisa e Pós-Graduação (Propp) foram procuradas e também não puderam ajudar a equipe. Recorremos até mesmo à Prefeitura Municipal de Uberlândia para o custeio da viagem dos 40 membros, sem sucesso.
Apesar das dificuldades, a Epta trabalhou muito ao longo do ano para captar recursos com a venda de produtos (água, sorvete, rifas etc.) e alguns poucos patrocínios, aos quais somos extremamente gratos. A viagem e a inscrição dos membros foram, então, custeadas com recursos próprios da equipe e dos integrantes.
Durante a Lasc 2025, percebi uma equipe bem organizada, madura e estruturada. Cada aluno sabia sua função e todos cooperaram pelo grupo. Fomos muito elogiados pelos avaliadores do evento por conta da montagem rápida do foguete Nashira já no primeiro dia do evento e do foguete Polaris no segundo dia. Da mesma forma, tivemos um excelente retorno dos avaliadores pela carga útil (payload) proposta no foguete Nashira, que consiste em fundir dados de três tipos de sensores para reconstruir a trajetória do foguete em tempo real e mostrar tudo isso num site que pode ser acessado no celular. Tivemos sucesso em lançar os dois foguetes e, para a felicidade de toda a equipe, fomos premiados com o primeiro lugar na categoria de foguetes com apogeu de 500 metros e motor com propelente sólido, com o foguete Nashira.
Eu fico muito feliz de orientar uma equipe como a Epta. Equipes assim são cruciais para gerar interesse nos jovens em seguir carreiras nas áreas STEM (ciências, tecnologia, engenharias e matemática; do inglês, Science, Technology, Engineering and Mathematics) e também para motivar os alunos universitários a persistir nos cursos de engenharia até a conclusão. A participação em projetos como a Epta instiga os alunos na busca de conhecimento, na resiliência de permanecer no projeto até o fim, mesmo com todas as dificuldades, e na disciplina para gerenciar um projeto complexo como o de um foguete.
Com as atividades da equipe os alunos desenvolvem conhecimentos nas áreas de cálculo estrutural da fuselagem, projeto mecânico, eletrônica, seleção de materiais, cálculo de trajetória, simulação de escoamento do ar, reações químicas do propelente, gestão de projeto, marketing e captação de recursos, além de desenvolverem pesquisas relacionadas com otimização dos foguetes, áreas essenciais para o desenvolvimento de tecnologia de ponta.
Os universitários vinculados à UFU podem ingressar na equipe através do nosso processo seletivo, que é apresentado no nosso perfil no Instagram: instagram.com/equipe_epta.
O Brasil vê uma fuga de cérebros e um desinteresse dos jovens nos cursos de exatas. Todos sabemos que nenhum país consegue se desenvolver sem produção tecnológica e sem investimentos perenes em pesquisa e desenvolvimento. Equipes como a Epta devem ser valorizadas e devem ser incluídas no orçamento da Universidade e do Governo Federal.
Em 2026 pretendemos voltar à competição com um foguete ainda melhor e embarcando novas tecnologias. Estamos em busca de incentivadores de tecnologia e ciência. Os interessados em nos apoiar podem nos contatar através do e-mail epta@mecanica.ufu.br.
*Alexandre Zuquete Guarato é formado em Engenharia Mecânica pela UFU (2009) tendo cursado um ano na École Nationale Supérieure d'Ingénieurs du Mans, na França. Possui Doutorado em Metrologia Ótica pela École Normale Supérieure Paris-Saclay, uma das Universidades de maior prestígio na França. Trabalhou por três anos como engenheiro de Pesquisa e Desenvolvimento na Renault SA, de Rueil-Malmaison. De 2014 a 2017 foi bolsista Jovem Talento do Ciência sem Fronteiras de Pós-Doutorado em Manufatura Aditiva na Pontíficia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Desde 2016 é professor adjunto na Faculdade de Engenharia Mecânica (Femec) da UFU e tutor da equipe Epta. Desenvolve pesquisas na área de projeto mecânico, escaneamento 3D, manufatura aditiva e indústria 4.0. Já desenvolveu projetos de pesquisa em colaboração com Petrobras, PSA Peugeot Citroën, Renault, John Deere, Syngenta, Dragonfly, Ecorepair e Quality Systems. Já teve fomento das agências Fapemig, CNPq, Capes, Sebrae e Instituto Serrapilheira. Contato: azguarato@ufu.br
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Palavras-chave: Engenharia Mecânica foguete
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