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PESQUISA

O papel das moscas na polinização de Sapium Glandulosum

Estudo destaca a importância da relação entre insetos e plantas na manutenção da biodiversidade

Publicado em 08/12/2025 às 10:05 - Atualizado em 08/12/2025 às 11:04

mosca pousando em musgo
“O equilíbrio ecológico visto nas interações entre as espécies é como uma relação de custo e benefício”, expõe Silingardi (Foto: Freepik)

As interações entre insetos e plantas com flores estão no centro do equilíbrio dos ecossistemas. Nessa relação de mão dupla, conhecida como mutualismo, ambos saem ganhando: enquanto os polinizadores encontram alimento, as plantas garantem a reprodução e ajudam a sustentar a diversidade. 

Um estudo da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) identificou que as moscas são os principais polinizadores de Sapium Glandulosum, espécie popularmente conhecida como pau-de-leite, em veredas do cerrado. São esses insetos, atraídos pelos nectários das flores, os responsáveis por possibilitar a produção de frutos e sementes pela planta, uma vez que ela não possui capacidade de se autofecundar. 

“As flores de Sapium Glandulosum são discretas e muito pequenas, seu odor é muito fraco e não há pétalas para criar um contraste colorido com a folhagem”, explica a docente do Instituto de Biologia da UFU Helena Silingardi. As flores produzidas ficam próximas uma das outras em um ramo especializado para a reprodução, e neste aglomerado de flores existem glândulas com açúcares que atraem as moscas. 

Durante a alimentação dos dípteros (moscas) os grãos de pólen aderem a seus corpos e eles se tornam polinizadores da espécie. “Muitas plantas só conseguem produzir as sementes se houver troca de pólen entre flores de plantas diferentes. Esse tipo de polinização é realizado principalmente por animais que carregam por acidente o pólen preso nos pelos ou penas depois de buscar alimento nas flores”, afirma a pesquisadora. Conforme pousam em plantas distintas, os insetos garantem a diversidade ecológica do ecossistema.

 

moscas durante a polinização
Dípteros se alimentando de secreções das glândulas associadas às flores de Sapium Glandulosum (Foto: Acervo dos pesquisadores)

“Os frutos de Sapium Glandulosum são comidos por aves, que dispersam as sementes com facilidade a grandes distâncias. A planta não é muito exigente quanto ao clima ou solo e é muito bem adaptada a áreas alagadas”, destaca Silingardi. Essa característica da espécie torna seu plantio uma opção viável para a recuperação de áreas degradadas do cerrado brasileiro. 

Embora a planta produza defesas químicas contra predadores, a pesquisa também identificou um herbívoro capaz de contornar essas defesas. “Ele é o Neolithus Fasciatus, um hemíptero galhador que causa um grande prejuízo para a planta ao induzir a formação da galha, um tecido especial capaz de proteger e nutrir o herbívoro”, explica a docente. 

O equilíbrio ecológico promovido pela interação entre as espécies é essencial para a diversidade das populações e a limitação do crescimento populacional. “Ele pode ser entendido quando pensamos no que haveria se casos extremos ocorressem. Se houver muitos predadores numa área eles acabariam por consumir todas as presas, e depois ficariam sem comida ou teriam que se mudar para uma área mais distante, expõe Silingardi. Já a planta, se investir toda a energia na produção de defesas contra predadores, pode prejudicar seu crescimento e frutificação.

Segundo o artigo publicado na revista Plant Ecology, Springer/Nature, a pesquisa representa a primeira contribuição para o campo de estudos de polinização do gênero Sapium. O estudo contou com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

 

 

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Palavras-chave: polinização Mutualismo Moscas Biologia

mosca pousando em musgo

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