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Outubro Rosa

Pesquisadores da UFU avaliam combinações de medicamentos contra câncer de mama

Professora Thaise Gonçalves de Araújo escreve, na seção Leia Cientistas, especial Outubro Rosa, sobre contribuições da universidade para a saúde

Publicado em 21/10/2021 às 09:12 - Atualizado em 22/08/2023 às 16:51

 

Um complexo metálico de cobre inédito tem sido combinado a fármacos já rotineiramente utilizados (Foto: Freepik)

Em um mês dedicado à conscientização sobre a importância de se prevenir e se diagnosticar previamente o câncer de mama, levantamos a questão sobre o papel da universidade nesse cenário. 

Os dados epidemiológicos assustam e hoje o câncer de mama é o mais frequentemente diagnosticado em todo o mundo, com 2,3 milhões casos em 2020. Em 2019, foram registradas 18.068 mortes por câncer de mama no Brasil. É uma doença heterogênea, com diferentes classificações e diferentes respostas ao tratamento. 

E como nós, pesquisadores, podemos contribuir para as mudanças desse cenário? Oriento alunos dos Programas de Pós-graduação em Genética e Bioquímica e em Biotecnologia, da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), que têm se dedicado a essas questões. Suas pesquisas são desenvolvidas em duas vertentes distintas: uma voltada para a compreensão desses tumores e outra focada em novas estratégias de diagnóstico e tratamento.

De fato, a ciência está em constante evolução na busca de terapias mais eficazes para o tratamento de tumores, melhorando a sobrevida e a qualidade de vida das pacientes, com menos efeitos adversos e menos sofrimento também às famílias envolvidas. O grupo de pesquisa avalia combinações de medicamentos potencialmente promissoras, buscando o sinergismo entre os compostos. 

A tese da aluna Paula Marynella, em parceria com o professor Wendell Guerra, vem sendo desenvolvida com esse propósito, em que um complexo metálico de cobre inédito tem sido combinado a fármacos já rotineiramente utilizados, com resultados surpreendentes. O cobre é um metal essencial ao organismo, o que pode reduzir os efeitos colaterais associados à quimioterapia. Além disso, como o metal é importante em diferentes vias metabólicas e essas encontram-se hiperativadas em células transformadas, sua captação pelas células tumorais pode ser favorecida, o que pode aumentar sua ação. 

Isoladamente, o composto já se mostrou superior a outras drogas, como Doxorrubicina, Paclitaxel e derivados de platina e ainda mais eficaz no controle de células de câncer de mama triplo-negativo. Em sua pesquisa, Paula Marynella também avaliou os danos causados no material genético, quantificando eventos relacionados como mutação e recombinação. Nosso complexo de cobre foi significativamente menos lesivo do que as drogas citadas acima. Lesões no DNA de células saudáveis podem ser correlacionadas com maiores riscos de desenvolvimento de tumores subsequentes. 

Outro problema enfrentado é a resistência aos medicamentos por mecanismos intrínsecos ou adquiridos. No intrínseco, não há resposta a partir do primeiro ciclo, uma vez que os fatores que medeiam a resistência já se encontram presentes nas células tumorais. Por outro lado, quando adquirido, as células tumorais sofrem alterações moleculares para se adaptarem, evoluindo para uma doença grave e, por vezes, letal. 

Por isso o grupo se dedica a compreender os mecanismos envolvidos na ação desses novos complexos de cobre e estudar combinações que possam reverter quadros graves. Diferentes combinações já foram testadas, as quais já conseguiram ampliar os efeitos antitumorais, sem afetar as células normais, revertendo a resistência. 

Nossos estudos ainda estão em andamento e ainda há muitos experimentos a serem realizados, inclusive em modelos animais. Já depositamos um pedido de patente nacional e publicamos e submetemos artigos científicos para revistas de elevado fator de impacto. 

É uma pesquisa em que ciência básica e aplicada andam juntas, contando com a colaboração de importantes pesquisadores da UFU. A perspectiva é aliar os resultados à nanotecnologia com um sistema de entrega aprimorada e direcionada, em consonância com os tratamentos individualizados que vêm sendo desenvolvidos na área. Esperamos contribuir para a redução no número de mortes e estabelecer um regime terapêutico otimizado.  

 

*Thaise Gonçalves de Araújo é docente do Instituto de Biotecnologia da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), atua nos programas de Pós-Graduação em Genética e Bioquímica (PPGGB) e em Biotecnologia (PPGBIOTEC) e é pesquisadora do INCT em Teranóstica e Nanobiotecnologia (INCT-TeraNano).

 

A seção "Leia Cientistas" reúne textos de divulgação científica escritos por pesquisadores da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). São produzidos por professores, técnicos e/ou estudantes de diferentes áreas do conhecimento. A publicação é feita pela Divisão de Divulgação Científica da Diretoria de Comunicação Social (Dirco/UFU), mas os textos são de responsabilidade do(s) autor(es) e não representam, necessariamente, a opinião da UFU e/ou da Dirco. Quer enviar seu texto? Acesse: www.comunica.ufu.br/divulgacao. Se você já enviou o seu texto, aguarde que ele deve ser publicado nos próximos dias.

 

Palavras-chave: Leia Cientistas Outubro Rosa fármacos Câncer de mama biotecnologia Divulgação Científica

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