Publicado em 14/06/2022 às 17:19 - Atualizado em 22/08/2023 às 16:39
“Oh, Mariazinha! Oh, Mariazinha!Entrarás na roda ou ficarás sozinha?- Sozinha eu não fico, nem hei de ficar!Pois eu tenho o Pedrinho para ser meu par”
A roda de crianças girando para lá e para cá, cantando sobre amores futuros e negando uma possível solidão era uma cena marcante no passado. Talvez, hoje, a ciranda fosse modificada, e o tema central deixasse de ser os amores da infância.
Mariazinha, no século XXI, prefere ser chamada de “Mari”, se define como mãe de planta no Tinder e não busca relacionamentos sérios. Na terapia, ela sempre reclama dos seus amores passageiros, mas prefere não se envolver demais com as pessoas porque acredita que isso não combina com o jogo do amor.
Quando questionada sobre sua crença no amor, ela afirma que ele não existe nos dias de hoje e que seu relacionamento com Pedrinho afundou como o Titanic.
A pergunta “O que é o amor?” pode vir acompanhada de diversas respostas. O amor é fogo que arde sem se ver, o amor é paciente e bondoso, o amor mexe com a nossa cabeça e nos deixa assim.Olha o que o amor te faz, te deixa sem saber como agir.
Mas pensar no amor vai além de tudo isso. É viver com a certeza na incerteza de ter alguém. É unir todos os amores e direcionar a uma pessoa que tem uma vida e uma vivência diferente da sua.
O amor no século XXI passou pela fase líquida descrita por Zygmunt Bauman no começo dos anos 2000. Esse processo desenvolveu formas mais abertas e flexíveis de relacionamento. Entretanto, a consequência foi a perda de referência.
A psicóloga e professora Aline Accioly, da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), explica esse processo: “Acabamos ficando nas mãos dos novos velhos, das recuperações mitológicas antigas de referências. Então, quando vamos nos encontrar com outras pessoas, não sabemos mais o que podemos exigir como direito, como uma ética mínima de relação, e o que a gente não pode exigir, como algo que pode ser construído e trabalhado”.
Segundo Accioly, esse problema não está na fluidez do amor, mas, sim, no fato de ainda não haver exemplos suficientes para esse novo formato de relacionamento. “Quando não temos uma referência que nos ligue, a gente precisa recriar as referências todas as vezes que encontramos com uma pessoa. Isso pode se tornar muito confuso e gerar angústia”, completa.
Talvez, entre entrar na roda ou ficar sozinha, Mari possa repensar como cantar sua própria ciranda, ajustando a melodia com aquilo que mais fizer sentido para ela.
Aline Accioly é a entrevistada no episódio #51 do Ciência ao Pé do Ouvido, “O que é o amor no século XXI?”, que já está disponível em todas as plataformas de streaming. Ouça agora no Spotify, Apple Podcasts, Amazon Music ou diretamente no Anchor.
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