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Geografia

Gigante pela própria natureza: por que alguns países parecem maiores nos mapas?

Forma do planeta e eurocentrismo são algumas das explicações

Publicado em 09/03/2023 às 14:32 - Atualizado em 30/08/2023 às 08:23

Que a Rússia é o maior país do mundo e que o Brasil também está entre os cinco maiores, você já deve saber. Mas, por que alguns países e lugares, como a Groenlândia, parecem tão grandes nos mapas, superando até mesmo o continente africano? Será que a Antártida é tão grande assim que ocupa quase um terço do mapa-múndi?

Mapa-múndi com representação distorcida de territórios do planeta. (Imagem: Ludmila de Castro)

Como o próprio Hino Nacional já diz, o Brasil é gigante pela própria natureza. É uma área de 8.516.000 km². Porém, outras regiões vão ao oposto, como a já citada Groenlândia, que tem quatro vezes menos área territorial que nosso país, são 2.166.000 km², mas em muitos mapas parece ser maior que toda a América do Sul.

Para explicar porque os mapas são distorcidos, é necessário entender como funciona o processo cartográfico. Ao transformar uma superfície curva numa superfície plana, inevitavelmente, ocorrem distorções, conhecidas como deformações cartográficas.

A correspondência entre a superfície da Terra e os mapas nunca vai ser exata por dois motivos básicos. O primeiro deles é a escala. Fazer uma correspondência numa escala de 1:1 (lê-se “de um para um”), que é a escala real, é impossível, já que a terra tem, aproximadamente, um raio de 6.378 km. Por isso, são utilizadas escalas reduzidas, como de 1:50.000, por exemplo. Porém, ao reduzir a escala, há perda de informações. Para exemplificar, basta imaginar um globo terrestre no modelo dos utilizados nas escolas. Nele, é possível ver apenas continentes e países, mas não é possível ver ruas e casas, já que está em escala reduzida.

A redução de escala faz com que haja perda de informações em mapas. (Foto: Pixabay)

O segundo motivo é a superfície curva da Terra: ela não se ajusta a um plano. A partir do século XVI, consolidou-se que a forma mais adequada da Terra é a elipsóide. Sim, a terra não é uma esfera, já que tem seus polos achatados. Com isso, ao longo do tempo, foram criados modelos de representação em mapas.

“Criamos modelos [de representação] porque a superfície real, física da Terra é extremamente irregular, complexa e dinâmica. Esses modelos nos permitem calcular coordenadas, áreas e volumes, por exemplo, de uma forma mais fácil. É uma questão de aproximação. A engenharia é isso. Geralmente, quando temos um problema real, nós desenvolvemos um problema aproximado, porque a partir dele conseguimos criar soluções reais”, explica Vinicius Rofatto, professor do curso de Engenharia de Agrimensura e Cartográfica da Universidade Federal de Uberlândia (UFU).

Depois de fazer uma aproximação dos dados, eles são simplificados para tornarem algo prático. Os mapas são exemplos disso, já que é mais fácil tratar dados geométricos em uma superfície plana. Porém, nessa transformação do curvo para o plano, ocorre uma espécie de deformação para que haja os ajustes necessários para encaixar o objeto de estudo naquela forma proposta.

“A solução imperfeita para esse problema, já que não tem como a gente ficar livre das deformações, é desenvolver e usar um método que cause as menores distorções possíveis. Esse é o objetivo das projeções cartográficas”, complementa Rofatto.

Alguns mapas são construídos para preservar a forma, mas não preservam a área por um problema matemático. Logo, a utilização de diferentes tipos de mapas será de acordo com a necessidade. Por exemplo, se você estiver preocupado com questões de navegação, aquele que preserva a forma será melhor. Essas distorções acontecem principalmente em representação de lugares que são maiores, como países.

Cada tipo de projeção é criada para tentar atender, da melhor forma possível, uma finalidade. (Foto: Pixabay)

“Imagine a Terra como uma pequena bola oca e de papel. Se você achatar ela sobre uma mesa, por exemplo, possivelmente ocorrerão dobras e rasgos. Logo, as projeções da Terra sempre terão deformações, que afetam propriedades, ângulos, áreas e comprimentos, que não são possíveis de se manterem juntas”, exemplifica o professor.

Tendo esse impasse em vista, existem quatro categorias de projeções cartográficas: a conforme, que mantém a forma e ângulo; a equivalente, que preserva a área; a afilática, que não preserva nem a área nem o ângulo, mas busca amenizar ambas; e a equidistante, que preserva a distância em algumas direções, mas não em todas.

A representação mais conhecida foi criada em 1569 e levou o sobrenome do criador, Gerhard Mercator. Ela preserva a forma, mas não a área, isso porque ela foi desenvolvida pensando em resolver a questão das navegações, que era algo recorrente e que, por questões matemáticas, se tornou o mais preciso para essa finalidade, se popularizando até os dias atuais. Por isso, o continente europeu e a Groenlândia parecem bem maiores que a realidade, já que os países mais próximos da linha do equador são aqueles, em questões de tamanho, mais bem representados nessa projeção e os mais próximos dos polos são os que sofrem maiores distorções.

 

O eurocentrismo e seu reflexo nos mapas

Países europeus são colocados, na maioria das vezes, como o centro do mundo. (Foto: Pixabay)

O eurocentrismo é representado nos mapas de várias maneiras, algumas mais óbvias do que outras. A própria projeção de Mercator é uma delas, já que distorce as áreas dos países.

Além disso, os nomes de lugares em mapas muitas vezes são dados em idiomas europeus, mesmo que esses nomes tenham sido dados por povos locais. Isso pode criar a impressão de que a Europa tem uma influência maior no mundo do que realmente tem.

Outro ponto a ser destacado são as coordenadas. As que são usadas nos mapas muitas vezes são baseadas no meridiano de Greenwich, que passa por Londres. Isso pode levar a uma visão de que a Europa é o centro do mundo.

Um exemplo disso é o mapa que glorifica o Império Britânico no fim do século XIX. Cartograficamente, ele usou a projeção de Mercator centrada no meridiano de Greenwich, colocando a Grã-Bretanha logo acima do ponto central do mapa. Além disso, uma caixa de inserção foi colocada perto de cada uma das principais colônias, listando estatísticas sobre área geográfica, população e comércio.

Mapa de 1886 que destaca a Grã-Bretanha. (Imagem: John Charles Ready/Norman B. Leventhal Map & Education Center)

 

Então, como ter uma noção real do tamanho dos países?

Tendo em vista que todo mapa vai ter algum tipo de distorção, é difícil fazer comparações reais dos tamanhos dos países. O site The True Size (O Tamanho Real, em tradução literal) surge com uma proposta para contornar o problema. Ele coloca ao fundo um mapa com a projeção de Mercator e é possível arrastar qualquer país para fazer a comparação do tamanho real.

Groenlândia colocada próxima à linha do Equador, mostrando seu tamanho real comparado ao do Brasil. (Imagem: Captura de tela/The True Size)

 

Engenharia de Agrimensura e Cartográfica

O curso de graduação em Engenharia de Agrimensura e Cartográfica foi implantado na UFU, no Campus Monte Carmelo, em 2011. Ele é o único da região do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, considerada uma das mais produtivas e promissoras do país, com demandas por produtos e serviços de informações geoespaciais.

O engenheiro agrimensor e cartógrafo é o profissional responsável pelo planejamento, projeto, gerenciamento e fiscalização das atividades de levantamento em suas diversas modalidades, como topografia, fotogrametria, sensoriamento remoto e geodésia. Inclusive, a geodésia é tema de estudo de Vinicius Rofatto e você pode entender mais sobre essa ciência aqui.

Rofatto também fala mais sobre o curso de Engenharia de Agrimensura e Cartográfica no vídeo abaixo, disponível no Canal da UFU no YouTube.

 

 

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Palavras-chave: cartografia mapas Engenharia de Agrimensura e Cartográfica

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