Publicado em 05/09/2018 às 15:18 - Atualizado em 22/08/2023 às 16:56
Violência conjugal ocorre dentro de espaços domésticos e familiares (Foto: Marco Cavalcanti)
Identificar e analisar as relações de poder e as representações sociais de pessoas que passaram por situações de violências de gênero. Esse foi o objetivo da tese de doutorado "Jogos de poder e metamorfoses: representações sociais de violências de gênero, na esfera conjugal, em Uberlândia-MG, de 1997 a 2017", da pesquisadora Cláudia Costa Guerra, orientada pela professora Vera Lúcia Puga, no Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Uberlândia (UFU).
O trabalho, disponível no repositório da UFU, foi defendido em abril deste ano. A temática da tese surgiu na graduação de Guerra, quando a pesquisadora realizou, em seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), um mapeamento das políticas públicas de atendimento existentes em Uberlândia para mulheres que sofrem violência.
A pesquisa
O estudo foi realizado em Uberlândia, no período de 1997 a 2017. A coleta de informações ocorreu de duas formas: entrevistas e análise de documentos. Ao todo, foram 57 entrevistas que ocorreram de 2013 a 2017, com 29 pessoas que vivenciaram situações de violência e com 28 profissionais das redes de apoio, como Delegacia de Mulheres do Governo do Estado de Minas Gerais; Diretoria ou o Núcleo de Apoio à Mulher; Setor Atenção Especial da Secretaria de Desenvolvimento Social da Prefeitura de Uberlândia; Superintendência da Mulher e a ONG SOS Mulher e Família de Uberlândia.
Por meio dos relatos, foi possível observar situações já conhecidas sobre violências conjugais. Nos depoimentos, as histórias se cruzam. Algumas mulheres relatam que a união com o parceiro foi por motivos externos, como interferência dos pais ou gravidez não planejada. Com o passar do tempo, o relacionamento “conto de fadas” se transformou em um jogo de poder entre os femininos e os masculinos. No início são discussões que, após um tempo, se tornam agressões físicas e/ou sexuais, chegando às ameaças de morte e, algumas vezes, aos homicídios.
O impacto dessas violências também resultam em problemas de saúde. A pesquisa identificou que, em muitos casos, predominam sintomas de depressão, confusão mental, dependência química, depressão pós-parto, dores de cabeça e até tentativas de suicídio. Em busca de uma solução, algumas pessoas realizam ocorrências e conseguem romper o ciclo de brutalidade. Porém, há aquelas que, talvez por medo ou constrangimento, preferem não buscar auxílio e permanecem sofrendo em silêncio.
Quando o ciclo de violência se rompe, práticas deixadas no passado são retomadas ou iniciadas como forma de recomeço. Estudo, emprego, inserção em movimentos sociais, apoio familiar e de conhecidos(as) se tornam possibilidades de autonomia e fugas do isolamento. Além disso, a pesquisa também identificou que ocorrem mudanças de valores e compreensão por parte das mulheres, desconstruindo as noções sobre gênero e poder.
Os detalhes
Com um título poético, a pesquisadora explica que o nome da tese remete ao ponto de maior interesse: o jogo. Visto geralmente como uma forma de diversão, Guerra apresenta no estudo que o jogo da vida real traz regras e objetivos obscuros e, talvez, até perversos.
Já o termo metamorfose - palavra que no seu centro contém “amor” - remete às modificações vivenciadas por aqueles que passam por situações de violência conjugal. Assim como a lagarta que, após um tempo de confinamento e transformação, vivencia uma nova fase, passando a ser uma borboleta livre.
Outra inspiração relacionada com a natureza e a mudança de forma foi em relação aos nomes fictícios dos entrevistados. Com base na Flor de Lótus - espécie que se nutre da lama e do lodo para fazer desabrochar sua flor em várias tonalidades -, cada entrevistado foi homenageado com o nome de uma flor, sendo várias delas com significados intrínsecos e outros controversos, de acordo com o relato da sua história.
Palavras-chave: violência gênero história
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