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Ciência

Cientistas da UFU respondem como pesquisas contribuem para reduzir desigualdades

Esse é o tema da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia de 2018

Publicado em 17/10/2018 às 17:14 - Atualizado em 22/08/2023 às 16:56

O Cepes é referência na apuração de índices sociais e econômicos na região do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba (Foto: Milton Santos)

 

A Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNTC) acontece de 15 a 21 de outubro e, neste ano, tem como tema “Ciência para a Redução das Desigualdades”. Por isso, perguntamos a cientistas da Universidade Federal de Uberlândia (UFU): como a sua pesquisa contribui para a redução das desigualdades? Confira as respostas.

 

1. Tenho realizado pesquisa em inserção de fontes renováveis (parques eólicos no sistema elétrico brasileiro). Então, esta pesquisa contribui com a diminuição da desigualdade devido às seguintes constatações: o incentivo da inserção de geração eólica no sistema elétrico brasileiro é capaz de distribuir renda entre os pequenos produtores rurais que estão , em geral, no sertão nordestino; cada torre construída em sua propriedade pode render de R$ 500/ mês a mais de R$ 1.500/ mês; além disto, há pagamento de royalties para as prefeituras de cidades pobres no sertão; a economia local será aquecida devido à criação de novos empregos tanto durante a implantação dos empreendimento eólicos, quanto durante sua manutenção e operação; isto evidentemente vai na contramão das hidrelétricas, onde a distribuição de renda é bem mais limitada.

Ivan Nunes Santos, professor da Faculdade de Engenharia Elétrica

 

2. Desenvolvi uma tese de doutoramento perante a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP) e também pesquisas realizadas no Moritz College of Law da Ohio State University, cujo tema foi “O princípio da não discriminação no emprego”.

Rubens Valtecides Alves, professor aposentado da Faculdade de Direito

 

3. Dentro do Centro de Estudos, Pesquisas e Projetos Econômico-Sociais (Cepes) – órgão complementar do Instituto de Economia e Relações Internacionais da UFU (IERI/UFU) – desenvolvemos pesquisas ligadas à temática do emprego, com enfoque para o município de Uberlândia e também para a mesorregião do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba. Atualmente me encontro responsável pelo prosseguimento com as pesquisas relacionadas a esse tema.

O mercado de trabalho é uma das dimensões fundamentais para apreensão do desenvolvimento econômico-social, por conseguinte, da distribuição da renda em uma sociedade. A inclusão dos cidadãos à dinâmica de emprego implica geração de riqueza local, mas, sobretudo, incorporação da população ao sistema econômico, fortalecendo, outrossim, a verdadeira democracia que, por sua vez, é incoerente com a marginalização das pessoas nesse sistema.

Desse modo, analisar e informar à população do município e mesorregião acerca da dinâmica de emprego, qualificando estes dados quanto a aspectos que traduzem acentuação ou redução de precariedades no mercado de trabalho, tem sido um papel que o Cepes tem assumido há algumas décadas. O anseio fundamental por trás desse tipo de trabalho é levar a conhecimento da sociedade informações que permitam conscientização do público em geral, e até mesmo planejamento por parte de órgãos públicos e instituições privadas.

Sob esta perspectiva, entendemos que os vários estudos que já elaboramos com respeito a este tema, dentre os quais podemos citar a publicação quadrimestral, desde 2012, do Boletim do Emprego de Uberlândia, contribuem de forma significativa para redução de desigualdades no campo social e econômico. O supracitado boletim já se firmou como uma das publicações periódicas do nosso centro, e sempre suscita visibilidade à universidade, despertando interesse da imprensa na divulgação dos dados analisados.

Alanna Santos de Oliveira, técnica administrativa no cargo de economista-pesquisadora do Cepes

 

4. Pesquisamos no Observatório de Políticas Públicas a Assistência Estudantil nas Universidades Federais, propondo uma avaliação que diagnostique sua efetividade, eficácia e eficiência. De modo geral, nos interessa saber se a assistência estudantil contribui para que estudantes vulneráveis possam fruir seu direito constitucional à educação, sem que as desigualdades sociais os privem das oportunidades acadêmicas. Cremos que assim poderemos indicar os pontos de excelência e de necessidade de ajuste da política vigente, ampliando sua capacidade de garantir direitos.

Leonardo Barbosa e Silva, professor do Instituto de Ciências Sociais

 

5. A pesquisa que desenvolvi com meus orientadores, Gilberto Cézar de Noronha e Mara Regina do Nascimento, 18 colegas do curso de História da UFU e duas bolsistas juniores do Ensino Médio, entre 2013 e 2018, como técnica administrativa e discente em História, teve como um de seus resultados a disponibilização on-line de 847 trabalhos de conclusão do curso de História em forma de monografia produzidos/defendidos entre 1987 e 2017, através do Repositório Institucional do Sistema de Bibliotecas desta mesma instituição. Antes, estes se encontravam, apenas, no Centro de Documentação e Pesquisa em História (CDHIS). O que dificultava o acesso de pesquisadores de outras localidades e dos próprios discentes do curso de História do período noturno que, em sua maioria, são trabalhadores e não podem frequentar o centro, que abre em horário comercial. Com isso, contribuímos para valorizar os primeiros exercícios de pesquisa empreendidos pelos aprendizes de historiador/professor de História e para que se possa conhecer o que se pesquisa no âmbito de nosso curso. Alguns dos resultados, ainda em via de análise, podem ser visualizados no blog “30 anos de História”.

Rosemary Ribeiro, técnica administrativa da UFU

 

6. Minha área de pesquisa é imagens médicas e atuo bastante na modalidade mamografia. Atualmente, tanto na qualidade e processamento das imagens mamográficas quanto na gestão dos serviços que oferecem o exame. Recentemente, minha aluna Sarah Mansur Resende de Miranda avaliou a desigual distribuição dos equipamentos mamográficos no estado de Minas Gerais, com o objetivo de mostrar que existe uma grande dificuldade de acesso, das mulheres de baixa renda e de pequenas cidades, ao rastreamento mamográfico e a detecção precoce do câncer de mama. Leia mais sobre a pesquisa no Comunica UFU.

Ana Claudia Patrocinio, professora da Faculdade de Engenharia Elétrica

 

7. Atualmente, atuo como pesquisadora-economista no Cepes/UFU, na pesquisa mensal de preços na cidade de Uberlândia. Tal pesquisa é desenvolvida desde 1979 pelo Cepes, sendo acompanhada de uma estimação de um índice de preços ao consumidor para Uberlândia (denominado IPC-Cepes); além do cálculo do gasto da Cesta Básica de Alimentos, do tempo de trabalho necessário para aquisição desta Cesta e do Salário Mínimo Necessário para o município de Uberlândia. Todas essas informações são divulgadas, mensalmente, para a sociedade.

Destaca-se que a pesquisa mensal de preços do Cepes disponibiliza informações acerca da inflação em Uberlândia (vale lembrar que poucas são as cidades no Brasil que têm um índice próprio de inflação), sendo importante conhecer o nível inflacionário da cidade, pois uma inflação elevada gera uma série de custos para a sociedade, como: i) dificuldade na comparação de preços entre bens; ii) diminuição nos investimentos produtivos; iii) redução do valor real da moeda; iv) redistribuição arbitrária da renda, prejudicando os mais pobres.

Os cidadãos que vivem em uma condição financeira precária, normalmente, não têm como se defender do efeito da corrosão que sua renda sofre com o aumento contínuo dos preços (alta inflação), pois raramente têm acesso a estratégias financeiras que permitem alguma manutenção do seu poder de compra. Como os mais pobres no Brasil estão em uma situação de rigorosa restrição orçamentária, a corrosão inflacionária de seus salários é um componente mais que importante a ser considerado na definição de políticas sociais, que objetivam a redução das desigualdades sociais e a existência digna do trabalhador.

As políticas sociais envolvem o conhecimento das causas e consequências daquilo que se procura transformar com tais políticas. Em termos específicos, uma política de âmbito econômico-social deve proteger e até expandir o poder aquisitivo dos mais pobres, o que torna necessária a mensuração do impacto do aumento dos preços sobre sua renda real. Tradicionalmente, isso é realizado por meio da construção de índices de preços, que são construídos para um determinado perfil familiar.

Portanto, a pesquisa mensal de preços calcula um índice de preços ao consumidor de Uberlândia (IPC-Cepes), que é um indicador inflacionário específico capaz de retratar a dinâmica de preços praticados na cidade. Esta pesquisa, que há anos vem sendo desenvolvida pelo Cepes, é uma contribuição para a sociedade uberlandense, fornecendo informações sobre a dinâmica econômica do município com dados que podem contribuir para melhoria do planejamento do orçamento familiar. Seus resultados ainda possibilitam que a sociedade acompanhe o poder aquisitivo dos salários praticados no município, propiciando assim o aprofundamento das questões relacionadas ao financiamento e endividamento, compras de longo prazo, entre outros.

Graciele de Fátima Sousa, técnica administrativa no cargo de economista do Cepes

 

8. Na condição de negra, mulher e trabalhadora, eu sou concomitantemente sujeito e objeto de pesquisa, movida pela problematização do complexo cotidiano pessoal e profissional no qual estão alocados diversos estigmas raciais e de gênero. É porque, do meu ponto de vista, ao mesmo tempo que sou negra, mulher e técnica administrativa titulada, sofro estigmas por tais atributos. O racial é porque quem diria "a pretinha" ir tão longe: doutora, concursada pública, vida econômica estável. O de gênero pelas críticas e olhares da sociedade pela minha opção pelo trabalho, pelo estudo, pela pesquisa e não estar em casa, não acompanhar os filhos na rotina doméstica na tradicional imagem da mãe e esposa. O de técnica titulada por sofrer constantemente o preconceito por parte da comunidade interna e externa à UFU: posso ter títulos, publicações, pesquisas etc., mas não sou docente, então não é suficiente para ocupar melhores cargos na gestão ou às vezes nas tomadas de decisão (tudo tem que passar pela decisão de quem é docente) ou em outras situações diversas. Sobre a pesquisa venho, nos últimos anos, aprofundando minhas leituras e estudos nessa área da educação para relações étnico-raciais. Ano passado tirei licença capacitação para fazer um curso sobre "Estudos teórico-metodológicos da África". Venho atuando em várias comissões voltadas para cotas raciais: concurso público, denúncias, ingresso via vestibular. Faço parte da diretoria executiva do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (Neab/UFU). E venho refletindo, estudando sobre a questão dos critérios fenotípicos que devem fundamentar as autodeclarações de negros e pardos.

Jane Maria dos Santos Reis, técnica administrativa e coordenadora da Divisão de Licenciatura

 

9. Minhas investigações científicas abordam os riscos e impactos sociais, espaciais e naturais causados por grandes projetos de investimentos, particularmente os hidrelétricos. A contribuição para a redução das desigualdades são no sentido de desmistificar alguns discursos empresariais sobre sustentabilidade, na perspectiva de identificar e mapear as vulnerabilidades que os grupos humanos, animais e vegetais estão submetidos em territórios sob o risco das atividades econômicas de grande porte, o que pode auxiliar o poder público e comunidades sob riscos e perigos nos territórios e mesmo o empreendedor adotarem atitudes de que promovam a prevenção e a segurança em lugares ameaçados, evitando situações de desastres.

Hudson Rodrigues Lima, professor de Geografia da Escola de Educação Básica (Eseba/UFU)

 

10. A pesquisa de Doutorado que realizei, intitulada de "Aprendizagem criativa da leitura e escrita e suas inter-relações com o desenvolvimento da subjetividade" foi realizada com crianças do 1º e 2º ano do Ensino Fundamental. Acredito que a mesma contribui sobremaneira para o trabalho efetivo do professor em sala de aula com as singularidades dos aprendizes, ao destacar a forma como as múltiplas experiências vividas pelos estudantes em diferentes contextos sociais se organizam subjetivamente e podem fazer parte da aprendizagem. Considero que este conhecimento profundo do aprendiz, da subjetivação dos processos que experiencia, pode ser um viés para a redução de desigualdades sociais, pois favorece ao professor elementos e recursos para desenvolver um trabalho não apenas com foco nos conteúdos curriculares, mas junto a este aprender, contribuir com o desenvolvimento da subjetividade e da condição de sujeito do aprendiz frente ao mundo. Além do mais considero que uma boa aprendizagem da leitura e da escrita, tendo em vista a emergência da criatividade neste processo, pode contribuir para aprendizagens posteriores, minimizando possíveis dificuldades de aprendizagem e consequentemente o fracasso escolar, que constitui hoje, uma das principais fontes das desigualdades sociais no Brasil.

Luciana Soares Muniz, professora da Escola de Educação Básica (Eseba/UFU)

 

11. Considerando que o conhecimento é a base para a ação, o Painel de Informações Municipais de Uberlândia-MG, elaborado pelo Cepes há vários anos, desde 2003, contribui para a redução das desigualdades por proporcionar à comunidade maior conhecimento a respeito das condições socioeconômicas do município, reunindo informações em diferentes temas, como: demografia, produção econômica, comércio internacional, trabalho, finanças públicas, etc., os quais, além de proporcionarem maior conhecimento e informação a respeito de Uberlândia, têm como efeito indireto subsidiar outros estudos, projetos e ações ao combate da desigualdade social, que é uma das maiores enfermidades da sociedade contemporânea.

Henrique Ferreira de Souza, técnico administrativo no cargo de economista-pesquisador do Cepes

 

12. Em 2016, fui voluntária no projeto Capinópolis Solidária. Na oportunidade, realizamos o diagnóstico e o planejamento estratégico do município. Identificamos as fragilidades e posteriormente elaboramos um plano de capacitação para o público de 28 mulheres que foram vinculadas ao projeto. Com o projeto ainda em andamento e com previsão de instalação de uma minifábrica de sabão ecológico, conseguimos impactar socialmente a vida dessas mulheres da comunidade. Resta agora, avançarmos com a implantação e partirmos para novos projetos. Assim, a pesquisa foi essencial para o empoderamento do público-alvo, constituindo geração de emprego e renda, capacitação e envolvimento de todos. Esse projeto é uma parceria entre o Ministério Público, UFU e Prefeitura de Capinópolis. Também foi constituído a Associação de Desenvolvimento Sustentável de Capinópolis (Adescap).

Angela Marcia de Souza, professora da Faculdade de Administração, Ciências Contábeis, Engenharia de Produção e Serviço Social (Campus Pontal)

 

13. Minha pesquisa contribui para a redução das desigualdades porque ela aborda a área da tecnologia assistiva, a qual torna possível a inclusão de pessoas com deficiência na sociedade. Mais informações em www.nta.ufu.br.

Eduardo Lazaro Martins Naves, professor da Faculdade de Engenharia Elétrica

 

14. O Cepes realizou dois inéditos Levantamentos de Informações Econômico-sociais das Pessoas com Deficiência no Município de Uberlândia/MG, composto por duas fases (LIPD 2004 – I e LIPD 2008 - II), em parceria com o Conselho Municipal dos Direitos das Pessoas com Deficiência (Compod). As pesquisas que entrevistaram as Pessoas com Deficiência (PcD), realizadas pela equipe de pesquisadores do Cepes/UFU, objetivaram a inclusão integral das PcD na sociedade, diminuindo as barreiras físicas, sociais e atitudinais que bloqueiam o acesso pleno aos recursos (educacionais, trabalho, saúde) e espaços (transporte, locomoção, acesso), com vistas a reduzir as desigualdades observadas em relação às pessoas sem deficiência no aproveitamento das oportunidades. Os resultados dos LIPD 2004 e 2008 contribuíram para a redução das desigualdades entre as PcD e as pessoas sem deficiência, com benefícios para a sociedade como um todo (leia aqui quesitos destacados).

Agora em 2018, o Cepes já delineou novo projeto de pesquisa em busca de parcerias para a realização de levantamento atual a fim de avaliar conquistas, mudanças ou perdas experimentadas pelas pessoas com deficiência, nos últimos dez anos. Os LIPD relativos às pessoas com deficiência estão disponíveis em: www.ie.ufu.br/cepes/pesquisas.

Luiz Bertolucci Júnior, técnico administrativo no cargo de economista do Cepes

 

Os professores, técnicos e estudantes que quiserem responder a esta pergunta podem enviar seus textos, informando seu nome e vínculo institucional, para nossas redes sociais ou para o e-mail comunicaciencia@ufu.br.

Palavras-chave: SNTC Divulgação Científica

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