Publicado em 23/09/2019 às 12:59 - Atualizado em 22/08/2023 às 16:56
Falar com alguém sobre o suicídio não aumenta o risco. Pelo contrário, conversar sobre o assunto pode aliviar a angústia e a tensão que esses pensamentos trazem. (Foto: Milton Santos)
Falar sobre morte, para uma grande parte das pessoas, assusta ou até mesmo amedronta. Imagine, então, falar sobre o suícidio. Existe uma crença de que não se deve falar sobre esse assunto, pois o falar pode aumentar o risco do evento acontecer.
Na verdade, esta crença é um mito. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), falar com alguém sobre o suicídio não aumenta o risco, pelo contrário, conversar sobre o assunto pode aliviar a angústia e a tensão que esses pensamentos trazem.
Mas afinal, o que leva uma pessoa a recorrer ao suicídio? Com o intuito de compreender o panorama que permeia essa questão, o professor Nilson Berenchtein Netto, do Instituto de Psicologia da Universidade Federal de Uberlândia (IP/UFU), desenvolve estudos a respeito do suicídio sob a perspectiva histórico cultural.
O suicídio é considerado um ato de cometimento ou de permissão em que o sujeito, de uma forma positiva ou negativa, age contra si, ou permite que se haja, sabendo do resultado final. Esse é um conceito clássico, mas o professor explica que, no caso do suicídio, a compreensão deve ultrapassar as tentativas de se conceituar, pois existe um conjunto de múltiplos fatores determinantes.
De acordo com o pesquisador, existem várias formas de se compreender o suicídio e todas elas são marcadas por momentos históricos e características sociais e culturais de sociedades distintas. Por isso, é importante refletir sobre como tem sido a realidade da vida das pessoas para compreender como acontece o sofrimento.
Não existe sofrimento sem causa, que vem do nada e nem sofrimento que seja causado organicamente, exclusivamente. (Foto: Marco Cavalcanti)
Netto aponta que “não existe sofrimento sem causa, que vem do nada e nem sofrimento que seja causado organicamente, exclusivamente”. O homem é um ser social, histórico e cultural e, por isso, ao se pensar nas dores emocionais que o circulam, é necessário fazer as devidas conexões com a forma que a sociedade se organiza e o que tem sido ofertado para a promoção da qualidade (condições) de vida.
Nesse aspecto, o professor chama atenção para entender o que acontece nas relações sociais, naquilo que está por trás e determina a vida cotidiana, na qual o sofrimento é produzido, não apenas onde ele aparece. Segundo Netto, existem vários fatores que vão além das questões individuais. As pressões impostas pela sociedade fazem com que algumas pessoas busquem pelas suas próprias mortes, a começar por aquela que exige que as pessoas tenham que conseguir vender sua força de trabalho para sobreviver, numa sociedade que precisa da desigualdade para existir. Desse modo, “seja por conta de transtornos psíquicos - em geral, explicados a partir de determinantes biológicos -, ou de características psicológicas”, o que escondem a esses fenômenos está para muito além do individual.
Assim, o Setembro Amarelo, constitui uma campanha que promove a informação e estímulo para conversar sobre o tema. Mas, é necessário ir muito além, questionando a própria campanha, superando-a. Netto salienta que analisar as contradições da sociedade e evitar as concepções hegemônicas (avançando aos determinismos mais frequentes, a saber, o biológico ou o psicológico), podem fazer com que percebamos a necessidade de mudanças radicais nas condições de saúde e de vida das pessoas.
Palavras-chave: setembro amarelo Psicologia
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