Mobilidade urbana para pedestres em Uberlândia: como melhorar?

Integrantes do grupo Flutua observam sinalização para pedestres na praça Sérgio Pacheco, localizada no centro de Uberlândia (Foto: Flutua)

“Uma cidade mais caminhável”. Esse é o lema do informativo Flutuanda, que estimula um novo olhar para o pedestre em Uberlândia. O material foi produzido pelas estudantes do curso de graduação em Arquitetura e Urbanismo, Beatriz Justo e Isadora Carvalho, da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), junto a Lara de Sene e Luiza de Moraes, graduadas na mesma área e instituição.

Elas acreditam que o material, com identidade visual desenvolvida pela estudante Luisa Ruiz, do curso de Design da UFU, vai auxiliar na melhoria da mobilidade urbana na cidade, que deve oferecer estruturas acessíveis aos pedestres, como calçadas largas, iluminação, travessias, passagens seguras e arborização adequada para a passagem à pé.

O informativo alerta que o uso crescente de transportes individuais (carros e motos) pode trazer riscos à saúde da população, como o sedentarismo, problemas respiratórios causados pela poluição do ar, falta de contato com a natureza e o aumento do estresse devido ao congestionamento de automóveis e à poluição sonora.

De acordo com as autoras, as formas não motorizadas de locomoção, denominadas por modais ativos, necessitam de manutenção constante: “Há obstáculos encontrados nas travessias, calçadas e praças. Além disso, falta um lugar destinado para caminhadas, o que resulta na ausência de planejamento e compreensão de uma rede de deslocamento que seja conectada, segura e fluida para pedestres”.

“O incentivo ao uso dos veículos motorizados colaboram para o desenvolvimento de doenças cardíacas, respiratórias e psíquicas”, afirma Justo. Outra preocupação da estudante é a verba destinada ao ambiente urbano: “são poucos os investimentos direcionados à construção e manutenção de estruturas cicloviárias e das vias caminháveis, em comparação aos investimentos aplicados nos espaços por onde circulam os veículos motorizados”.

Conforme o material, o deslocamento casa-trabalho em veículo individual motorizado, por muito tempo, refletiu um padrão de locomoção masculino. As mulheres, socialmente responsáveis pelas tarefas domésticas, como as compras e o cuidado de crianças, idosos e parentes, realizavam viagens diversificadas, principalmente a pé ou com auxílio do transporte público”.

Além das questões físicas, são identificados e discutidos fatores de identidade de gênero, classe, raça e orientação sexual que dificultam a caminhada segura de certos grupos sociais: “sabemos que colocar o corpo feminino no espaço público gera fragilidades e riscos”. O informativo aponta que as mulheres são frequentemente assediadas nas ruas e transportes coletivos e são vistas como alvos mais fáceis para assaltos.

Andar democrático

Integrantes do Flutua afirmam que caminhar melhora a qualidade de vida das pessoas. (Foto: Flutua)

As autoras explicam que os habitantes devem ter o hábito de caminhar nas proximidades para incentivar a melhoria da mobilidade urbana: “o deslocamento para lugares pouco distantes não precisa do uso de um transporte motorizado”, além de estimular o comércio e o serviço local”.

Um andar democrático consiste na possibilidade de andar em rede por toda a cidade, inclusive os bairros mais distantes da região central.  Para chegar em destinos mais afastados, as integrantes do Flutua afirmam que as melhores opções são o uso dos modais ativos, como as bicicletas, e uma um sistema de transporte público de qualidade, que permita a locomoção mais fácil e com segurança.

A participação ativa e colaborativa da população contribui para uma “cidade mais caminhável”, com o incentivo da criação de políticas públicas voltadas para os pedestres.Por isso, é importante realizar o boletim de ocorrência (B.O.), ao sofrer lesões ou quedas no trânsito para que o poder público contabilize a frequência dos acidentes em determinado local. Para promover melhorias da infraestrutura de locomoção voltadas para pedestres, Justo acredita que o primeiro passo é promover a conscientização da população.

“Devemos trabalhar junto aos cidadãos para que seja possível um maior entendimento sobre o cenário atual da mobilidade em Uberlândia, de forma que as pessoas possam ter um olhar mais cuidadoso ao se deslocar pela cidade. O caminhar é um meio de deslocamento que traz qualidade de vida e do viver na cidade”, defende a estudante.

De acordo com o informativo, a cidade precisa da criação de um “Sistema de Sinalização”, que vai informar sobre a localização das linhas de transporte público e edifícios históricos próximos. Além disso, deve-se instalar uma orientação sonora e luminosa, focada nos deslocamentos a pé. Também é necessário  criar um plano de arborização que promova o equilíbrio socioambiental e ofereça espaços mais confortáveis para os cidadãos: "Algumas ruas podem mudar completamente sua caracterização, sendo mais atrativas”.

Dia mundial do pedestre

No dia 8 de agosto é comemorado o dia mundial do pedestre. O grupo Flutua acredita que o cidadão cria a cidade onde mora. Com o objetivo de mobilizar e promover a educação urbanística em Uberlândia, o projeto produziu um vídeo com cenários da cidade.

A data foi escolhida em referência à fotografia de quando a banda “The Beatles” atravessou na faixa de pedestres da rua Abbey Road, em 08 de agosto de 1969, em Londres.

Flutua

O informativo Flutuanda é um projeto do grupo Flutua, que busca trocar conhecimentos através da arte, do afeto e do tato e incentivar a reflexão das pessoas sobre si e qual sua relação com o espaço em que vivem.

Oficina “Brincadeiras Recicladas”, feita com plástico, papelão, metal e materiais de construção, realizada no bairro Élisson Prieto, também conhecido como ocupação do Glória, em Uberlândia. Foto: Flutua

As práticas do Flutua acontecem por meio de oficinas educativas em escolas, universidades, comunidades em situação de vulnerabilidade e eventos de artes, arquitetura, design e entretenimento. Outra ação do grupo é a instalação de estruturas infláveis feitas de resíduos plásticos para compor ambientes, que foi conquistou o prêmio Tomie Ohtake, em São Paulo, em 2018.

Instalação inflável feita com mais de 2.000 sacolinhas plásticas de reuso. Foto: Flutua

A mobilidade urbana voltada para pedestres em Uberlândia é um assunto em destaque nas ações do Flutua, que visa ao andar como um dos elementos fundamentais do desenvolvimento urbano sustentável. A produção afirma que as cidades caminháveis são mais adaptáveis, mais equitativas e resilientes,  permitindo oportunidades mais igualitárias”.

O grupo conta com a contribuição dos habitantes de Uberlândia. Através de um formulário on-line, busca compreender a rotina de deslocamento dos cidadãos para que possa promover ações que vão melhorar as condições de caminhada pela cidade.

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