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Outubro Rosa

7 fatos sobre câncer de mama que precisamos saber neste Outubro Rosa

O que significam seus exames, rastreamento organizado, imunoterapia e outras informações científicas

Publicado em 20/10/2023 às 16:23 - Atualizado em 24/10/2023 às 14:34

BI-RADS indica chance de achado em exame de imagem ser câncer: (1) Sem achados; (2) Achados benignos; (3) Achados provavelmente benignos; (4) Achados suspeitos de malignidade; (5) Achados altamente suspeitos de malignidade; (6) Achados já com diagnóstico de câncer; (0) Incompleta ou não conclusiva (Foto: Marco Cavalcanti)

 

Os laços cor-de-rosa nos postos de saúde e meios de comunicação nos lembram que estamos em mais um Outubro Rosa, o período da campanha de prevenção ao câncer de mama. São mais de 20 anos dessas ações pelo mundo, para falar de um dos cânceres com maior número de casos, mas que, a cada ano, vem diminuindo as taxas de mortalidade graças ao conhecimento científico, diagnósticos precoces e tratamentos focados nas características de cada paciente. 

O que aprendemos nesses anos e o que precisamos fazer melhor? Como os pacientes podem lidar com os sinais dos seus corpos e o que fazer a partir dos resultados dos seus exames? Para responder a essas perguntas, nós pesquisamos os principais documentos do Ministério da Saúde e das sociedades científicas das áreas de Oncologia e Mastologia e entrevistamos o médico Donizeti William Santos, que é coordenador do Serviço de Mastologia e preceptor da Residência Médica em Oncologia na Faculdade de Medicina (Famed) da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). A partir desse levantamento, confira sete fatos sobre câncer de mama que precisamos saber neste Outubro Rosa.

 

1. É recomendável mamografia aos 40, mas rastreamento a partir dos 50 também faz sentido

As sociedades científicas, como a Sociedade Brasileira de Mastologia, orientam que o exame mamográfico comece a ser feito a partir dos 40 anos de idade. O Ministério da Saúde indica o exame a partir dos 50 anos. “Todos estão certos”, afirma Santos. O câncer de mama é mais prevalente após a menopausa. Dos 40 aos 50 anos, explica o mastologista, são necessárias 1700 mamografias para prevenir uma morte por câncer de mama, enquanto que, a partir dos 50 anos, 400 mamografias previnem uma morte. Por isso, faz sentido procurar o exame aos 40 anos, quando se tem esse acesso, mas também é importante focar na população prioritária quando se faz a gestão pública da saúde coletiva em um país com recursos limitados.

 

2. Entenda seus exames: BI-RADS é chance de ser câncer, não estágio da doença

O resultado de um exame de imagens das mamas vem com uma classificação chamada BI-RADS. Adotada em vários países, incluindo o Brasil, trata-se de um sistema estadunidense, criado pelo American College of Radiology, que significa Breast Imaging Reporting and Data System (em português, Sistema de Relatórios e Dados de Imagem da Mama). A classificação varia de 0 a 6 e estima qual é a probabilidade de que alguma coisa encontrada na mama seja câncer. Esse número não mede o estágio da doença, nem o grau de crescimento nem o tipo de tumor. Até 3, são achados benignos ou provavelmente benignos, que serão apenas acompanhados. Os achados 4 e 5 devem ser investigados, pois são suspeitos ou altamente suspeitos de malignidade. O número 6 é quando já há o diagnóstico de câncer e o 0 é quando está incompleto ou inconclusivo, sendo necessários outros exames.

 

3. Existem 22 tipos de câncer de mama

Quando um paciente tem suspeita de câncer, é feita a biópsia, um exame em que se retira um fragmento do tecido corporal (geralmente com uma agulha ou, em casos mais raros, por meio de cirurgia) para ser analisado em um laboratório de patologia. Caso o diagnóstico seja positivo, é preciso descobrir qual tipo de câncer. Então, é feita uma análise molecular chamada imuno-histoquímica, que classifica os subtipos – no caso do câncer de mama, são 22 diferentes. A partir desse resultado é que a equipe médica define a sequência do tratamento.

 

4. O melhor tratamento é individualizado

Dependendo do tipo de câncer, o paciente será encaminhado para tratamento com quimioterapia, radioterapia, bloqueio hormonal, cirurgia ou imunoterapia. Segundo o mastologista da UFU, esses tratamentos são os mesmos há algumas décadas, com exceção da imunoterapia, que é mais recente. É aprovada pela Anvisa, mas é a única ainda não oferecida pelo Sistema Único de Saúde (SUS) nem por alguns convênios, devido ao alto custo. “Terapia com anticorpos ligados a quimioterápicos é a vanguarda agora no tratamento do câncer de mama. A célula [cancerígena] reconhece o anticorpo [que atua na defesa do organismo] não como inimigo, e ela o permite internalizar. É a terapia 'Cavalo de Troia'. Quando entra, o anticorpo libera o quimioterápico, não dá tempo da célula se adaptar e ela é destruída. Tem sido uma grande evolução no câncer de mama”, explica o médico.

 

Mastologista Donizeti William Santos
O médico Donizeti William Santos é coordenador do Serviço de Mastologia e preceptor da Residência Médica em Oncologia na Faculdade de Medicina da UFU (Foto: Milton Santos)

 

5. Brasileiras estão tendo câncer de mama mais jovens

Mais de 40% das pessoas com câncer de mama no Brasil tem menos de 50 anos, segundo a pesquisa Amazona III, conduzida pelo Grupo Latino-Americano de Oncologia Cooperativa (Lacog, na sigla em inglês) e pelo Grupo Brasileiro de Estudos do Câncer de Mama, com apoio do Instituto Avon. A ciência ainda não encontrou a causa exata para isso, mas entre os motivos, segundo Santos, pode estar o fato de o Brasil ser considerado, por diversos pesquisadores, o maior consumidor de agrotóxicos do mundo. São produtos químicos sintéticos utilizados nos ambientes rural e urbano para matar plantas, insetos, fungos etc. Com base em estudos científicos que apontam os potenciais efeitos mutagênicos e carcinogênicos dessas substâncias, o Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca) recomenda a redução progressiva e sustentada do uso de agrotóxicos e apoia a produção de base agroecológica.

 

6. Autoconhecimento é importante, mas não substitui exame clínico

Os médicos têm preferido a expressão “autoconhecimento mamário” a “autoexame”, como aparecia em campanhas mais antigas. Isso porque a ciência já descobriu (são destacados, na comunidade científica, dois ensaios clínicos randomizados feitos na Rússia e na China, com mais de 380 mil pessoas) que os exames de toque feitos pela própria pessoa não diminuem a mortalidade por câncer de mama. Santos, no entanto, não descarta o autoexame. “Se toque de forma descompromissada, do jeito que você quiser, no intervalo que você quiser, porque você vive 24 horas com as suas mamas. No dia em que surgir uma coisa sutil, diferente, você vai ser a primeira a perceber”, aconselha o mastologia Santos, destacando que os exames clínico e mamográfico são os mais importantes para prevenir a mortalidade por câncer.

 

7. Precisamos ir além do Outubro Rosa e adotar o rastreamento organizado

“A gente pensa que rastreamento é passar o caminhão da mamografia no bairro chamando as mulheres. A gente fala para a paciente: atingiu 40 anos, tem que fazer mamografia. ‘E aí, como eu faço?’ ‘Marca a consulta com o ginecologista’. ‘O ginecologista me deu o pedido. Onde eu marco?’ ‘Ah, vai ali e pega uma fila’. Isso demanda meses. Isso não é rastreamento”, alerta Santos. Além disso, o acesso a mamógrafos em diferentes regiões brasileiras é desigual. “O rastreamento tem que ser organizado. É 70%, no mínimo, da população-alvo. Já sair da mamografia sabendo dia, horário e local do retorno para ver o resultado. Se alterado [o resultado do exame], já ter dia, horário e local de fazer a biópsia e, caso a biópsia dê um carcinoma, ter a oportunidade de começar o tratamento de forma oportuna. É isso que diminui mortalidade por câncer de mama. Essa briga não é de outubro, é do ano inteiro”, conclui o médico.

 

Extra

O episódio #69 do podcast Ciência ao Pé do Ouvido falou sobre câncer de mama e de próstata em pessoas cis e trans. Ouça!


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Palavras-chave: Outubro Rosa câncer Câncer de mama Medicina

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