Publicado em 07/03/2024 às 17:18 - Atualizado em 08/03/2024 às 14:42
“Avaliação de assinaturas moleculares relacionadas a processos redox em mulheres com câncer de mama” é o título da tese de doutorado defendida pela pesquisadora Letícia Lopes Dantas Santos, no início deste ano, e orientada pela professora Yara Cristina de Paiva Maia no Programa de Pós-Graduação em Genética e Bioquímica da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Essa pesquisa tem como objetivo analisar o soro de pacientes com câncer de mama na procura de um diferencial que seja útil para determinar quais as consequências da doença no paciente e, desse modo, tornar o tratamento mais eficaz.
Conforme as pesquisadoras, esses processos redox, ou reações de oxido-redução, consistem na remoção de um ou vários elétrons de uma primeira molécula, uma etapa chamada oxidação, e uma subsequente doação desses elétrons para uma segunda molécula, uma etapa chamada redução. Entretanto, esses processos podem ser desequilibrados no sentido pró-oxidativo devido, entre outros fatores, à superexpressão da proteína HER2, relacionada ao crescimento e desenvolvimento das células mamárias.
De acordo com o estudo de Santos e Maia, esse desequilíbrio demonstrou ser importante no prognóstico do câncer de mama. Ao final do estudo, as pesquisadoras concluíram que, dentre os biomarcadores do estado redox que foram avaliados, esse desequilíbrio, também chamado de estresse oxidativo, foi uma característica que estava presente no soro de mulheres com câncer de mama HER2+, que é o subtipo mais agressivo dessa doença, diferente das amostras dos subtipos HER2- e DBM, nos quais essa menor capacidade antioxidante não foi encontrada. Essa diferenciação seria fundamental para melhorar o prognóstico dessa doença e, consequentemente, indicar se mudanças na terapia ou intervenções são necessárias ao longo do tratamento do câncer. Essas informações estão detalhadas no artigo publicado no periódico MDPI.
O câncer de mama é o tipo de câncer mais comum entre mulheres e sua incidência nas brasileiras também é a mais elevada (após o câncer de pele não melanoma), correspondendo a mais de 30% de todos os tumores que atingem a população feminina e mantendo ascendente a taxa de mortalidade. Os tumores malignos de mama são a segunda principal causa de morte entre a população feminina e têm crescido especialmente nos países em desenvolvimento, como os da América do Sul. O Instituto Nacional de Câncer (Inca) elenca os principais fatores associados ao aparecimento dessa doença em mulheres, dos quais cerca de 90% são ambientais, como atividade física insuficiente, consumo de álcool, obesidade e sedentarismo. Entretanto, esses fatores são passíveis de prevenção, por exemplo, com melhoria da qualidade de vida, dieta e saúde. Além disso, apenas cerca de 10% dos cânceres de mama são causados por questões genéticas.
Embora a pesquisa de Santos tenha sido concluída, por ser um estudo pioneiro e com um tamanho amostral pequeno, ainda levará tempo para que seus resultados sejam aplicados na prática em hospitais brasileiros, seja em particulares ou no Sistema Único de Saúde (SUS). É preciso que outros pesquisadores continuem desenvolvendo esse trabalho, o que já está acontecendo, para aumentar o tamanho amostral e realizar um estudo prospectivo e de validação. Após este estudo, ainda é preciso patentear essa tecnologia e somente assim transferi-la para a sociedade.
“Pensar nos pacientes e como isso irá chegar para eles é o grande motivador para mim, ver como a pesquisa pode ajudar de alguma forma, não necessariamente estas mulheres agora, mas as que passarão por isso no futuro. Por isso, estamos trabalhando para que os artigos sejam publicados e para que gerem visibilidade para a pesquisa, para ocasionar estudos maiores, para que os resultados cheguem o mais rápido possível à população”, relata Santos.
Principais desafios ao realizar a pesquisa
Letícia Santos é aluna de Yara Maia há 12 anos e essa relação vai além do meio acadêmico. Elas cultivam uma amizade e enfrentam desafios. Segundo Santos, como é uma pesquisa realizada com seres humanos, especialmente com mulheres que ou estão com câncer de mama ou são sobreviventes à doença, questões éticas são sempre muito importantes, como sempre respeitar a decisão das pacientes caso não queiram participar ou até mesmo desejem interromper o estudo no meio. Por isso, as cientistas enfatizam que o grupo de pesquisa tem profissionais capacitados que entendem essa situação e tratam esses pacientes, que estão em uma fase de muita vulnerabilidade, com o máximo respeito.
Outro grande desafio é a questão do fomento, já que a pesquisa é onerosa devido à necessidade de comprar reagentes e outros materiais. Porém, apesar disso, a agora doutora e sua orientadora salientam que em nenhum momento passaram por alguma dificuldade financeira para a compra de reagentes. “Todos os meus alunos que querem têm bolsas, em nenhum momento tivemos dificuldade de comprar reagentes, mas porque nós nunca tivemos uma postura passiva de esperar que as coisas viessem até nós, fazemos a otimização da técnica e dos métodos para utilizar menos reagentes e recursos com o objetivo de economizar”, afirma Maia.
Por fim, as pesquisadoras também destacam como desafio todas as etapas de tramitação pelas quais uma pesquisa precisa passar para conseguir ser desenvolvida, de modo que o processo é muito lento até que as cientistas consigam, de fato, entrar em um hospital e iniciar a pesquisa. Apesar disso, as entrevistadas afirmaram “entender que esse processo é necessário, para que certificar de que a pessoa no trabalho é séria, mas alguns pontos burocráticos poderiam ser facilitados, para almejar uma celeridade maior”.
Santos também recebeu o Travel Award no evento da Sociedade para Biologia Redox e Medicina (SFRBM) 2023, ocorrido no Uruguai. Clique aqui para mais informações.
Financiamento e parcerias
A pesquisa contou com financiamentos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Teranóstica e Nanobiotecnologia-INCT-Teranano.
Ademais, o estudo contou com a parceria do grupo do professor Foued Salmen Espíndola, vinculado ao Instituto de Biotecnologia da UFU; do Hospital de Amor de Barretos; e da oncologista Paula Philbert Lajolo Canto e do mastologista Donizeti William Santos, vinculados ao Hospital de Clínicas da UFU.
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Palavras-chave: câncer Câncer de mama
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