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Novembro Azul

7 perguntas sobre câncer de próstata respondidas por oncologista da UFU

O médico Glauco Costa Silveira, do Hospital de Clínicas, fala sobre rastreio, tratamento e prevenção

Publicado em 22/11/2023 às 13:24 - Atualizado em 27/11/2023 às 14:10

Pesquisa publicada no jornal científico Jama Network Open, dos Estados Unidos, diz que população negra tem de 60% a 80% mais chances de receber diagnóstico de câncer de próstata (Foto: Freepik)

 

Durante cada Novembro Azul, por vezes, somos convidados a refletir sobre a saúde do homem – e fizemos isso na primeira temporada do podcast de divulgação científica da UFU, o Ciência ao Pé do Ouvido, no episódio #09 Porque os homens vivem menos?. Em outras vezes, refletimos mais especificamente sobre os cuidados com a próstata, uma glândula que fica abaixo da bexiga e envolve a uretra, o canal que liga a bexiga ao pênis – portanto, pode estar presente em homens cis, mulheres trans e algumas pessoas não binárias, como falamos no episódio #69 A saúde entre o rosa e o azul.

Neste ano, o portal Comunica UFU entrevista o médico oncologista Glauco Costa Silveira, chefe da Unidade de Oncologia do Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia (HC/UFU/Ebserh). Ele conta que ingressou na UFU como aluno, em 1996, e aqui fez toda a sua formação. “Cursei a graduação, seguida das residências médicas de Clínica Médica e Oncologia Clínica, por um período de 11 anos de formação. Tive a oportunidade de participar durante a graduação do Programa Especial de Treinamento [atual Programa de Educação Tutorial] (PET), patrocinado, na época, pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), que ajudou no meu desenvolvimento acadêmico, profissional e pessoal.” Confira a entrevista!

 

1. Estamos no Novembro Azul, mês da campanha de prevenção e combate ao câncer de próstata. Nos meios de comunicação, é comum ver conteúdos que incentivam os homens a fazerem exames preventivos. Por outro lado, o Ministério da Saúde e a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomendam exames de toque retal e PSA (exame de sangue que mede a quantidade de uma proteína produzida pela próstata - Antígeno Prostático Específico) apenas para pessoas que têm próstata com sintomas e/ou com histórico de câncer na família. Afinal, qual recomendação deve-se seguir com relação a exames de próstata?

A iniciativa internacional Novembro Azul teve origem na Austrália, no ano de 2003, e foi comemorada no Brasil pela primeira vez em 2008. O movimento tem como objetivo sensibilizar e conscientizar a população masculina em relação aos cuidados com a saúde e à identificação do câncer de próstata. A campanha do Instituto Nacional de Câncer (Inca) e do Ministério da Saúde, em 2023, chama a atenção para o cuidado com a saúde do homem e a prevenção do câncer, especialmente o de próstata, segunda doença que mais mata homens no mundo.

O câncer de próstata é o segundo tipo de câncer mais incidente na população masculina em todas as regiões do país, atrás apenas dos tumores de pele ‘não melanoma’. No Brasil, estimam-se 71.730 novos casos de câncer de próstata por ano para o triênio 2023-2025. Atualmente, é a segunda causa de óbito por câncer na população masculina. A idade é o principal fator de risco para o câncer de próstata, sendo mais incidente em homens a partir da sexta década de vida, bem como histórico familiar de câncer de próstata antes dos 60 anos e obesidade para tipos histológicos avançados. 

Quando discutimos sobre o rastreamento populacional, existem divergências entre o Ministério da Saúde e as Sociedades de Especialidades. As evidências atualmente disponíveis apontam para um balanço desfavorável entre os riscos e benefícios para a saúde dos homens para o rastreamento (exames de rotina) para o câncer de próstata de modo populacional.  

Caso o homem deseje realizar esses exames, deve-se realizar a decisão compartilhada, após o profissional de saúde conversar sobre todos os possíveis riscos do rastreamento, como um tratamento desnecessário frente a uma doença que algumas vezes pode ser indolente.

Os exames são especialmente importantes para três grupos de risco, que devem garantir uma rotina periódica de testes a partir dos 45 anos: homens negros [leia estudo sobre acessibilidade da população negra ao cuidado oncológico no Brasil]; homens que tiveram parentes próximos com câncer de próstata, como pai, irmão ou avô; e pacientes obesos. Para os demais homens, a avaliação deve ser discutida após os 50 anos.

 

2. Quais são os sinais ou os sintomas que o corpo pode dar de que pode haver algum problema com a próstata?

O câncer de próstata pode não apresentar sintomas em fases iniciais, mas podem aparecer sintomas como dificuldade de urinar, diminuição do jato de urina, necessidade de urinar mais vezes durante o dia ou à noite e sangue na urina. Se surgirem estes sintomas, deve-se iniciar a investigação diagnóstica para que o tratamento adequado possa ser estabelecido o quanto antes. 

 

3. Quando um paciente tem suspeita de câncer de próstata, qual é o caminho percorrido, ou seja, quais são os encaminhamentos e os exames até que se constate, por exemplo, as características do câncer e o tratamento?

O primeiro passo é o exame de toque retal. Caso o médico sinta alguma alteração suspeita e haja dosagem do PSA com alteração significativa, o segundo passo é a biópsia para confirmação. Após a confirmação, realizamos os exames de estadiamento do tumor, com exames de imagens, dos ossos, abdome, pulmões e laboratoriais. Algumas vezes, estudamos também os fatores hereditários ou de mutações presentes no tumor. Com estas informações, discutimos as possibilidades de tratamento com o paciente.

A classificação radiológica que utilizamos nos exames de próstata é o PI-RADS [em inglês, Prostate Imaging Reporting and Data System, que pode ser traduzido como Sistema de Dados e Relatórios de Imagem da Próstata. Em PI-RADS 1 e 2, é improvável que seja câncer; em 3 há uma ambiguidade que deve ser investigada; em 4 e 5, a probabilidade de câncer é alta]. Os exames de imagem são utilizados para auxiliar a biópsia e para o estadiamento quando se tem o tumor.

 

4. Além de câncer, existem outros problemas que podem acometer a próstata?

Sim, os principais problemas relacionados à próstata são o crescimento benigno – hiperplasia benigna da próstata e infecção da próstata (prostatite). Estas são condições mais frequentes que o câncer de próstata.  

 

5. Quais são os tipos de tratamentos mais usados para se tratar câncer de próstata?

O tratamento do câncer de próstata se desenvolveu muito nos últimos anos, com melhor conhecimento de sua biologia tumoral, fatores hereditários, tratamentos mais específicos, como novos agentes hormonais e drogas-alvo. Para exemplificar, o paciente com câncer de próstata avançado na última década, se o tempo de sobrevida da doença em meses fosse medido em quilômetros, ele conseguiria completar uma corrida de 6 a 12 km, atualmente, sua jornada de tratamento com acesso aos tratamentos, ele pode ultrapassar uma maratona (42 km). 

Os principais tratamentos contra o câncer de próstata são o tratamento cirúrgico, que pode ser realizado de forma menos invasiva por videolaparoscopia ou por via robótica; tratamento radioterápico com tratamento local ou conformacional [que envolve exame tridimensional para localizar o alvo com precisão] e hormonioterapia. 

De acordo com o estádio da doença, utilizamos medicações especiais como novos agentes hormonais (inibidores dos receptores androgênicos, inibidores da síntese de testosterona, inibidores da enzima PARP) e quimioterapia. Nestes últimos anos tivemos descobertas importantes no manejo do câncer de próstata, mesmo quando descoberto avançado, que possibilitaram dar maior tempo de vida para os pacientes, com qualidade de vida. 

 

6. Quando o câncer de próstata não é tratado, quais são as possíveis sequelas?

Depende do estágio da doença. Hoje, em algumas situações de tumores indolentes [que se desenvolvem lentamente], o médico pode discutir com o paciente o acompanhamento através de uma estratégia chamada vigilância ativa, para evitar tratamentos desnecessários – com piora da qualidade de vida do paciente – e sem afetar sua sobrevida. 

Em casos com doença agressiva, esta conduta não se aplica e, portanto, o paciente, quando não adere ao tratamento adequado, pode ter piora da sua qualidade de vida, com dores ósseas importantes, problemas urinários e risco de morte. 

 

7. Na sua avaliação, o que é importante, individualmente e como sociedade, para prevenir o câncer de próstata?

Individualmente, o homem deve ser orientado a se cuidar. Precisamos sair da nossa zona de conforto e realizar nossos exames periódicos para mantermos uma boa qualidade de vida e com boa saúde. 

Em geral, os homens devem realizar ao menos uma vez ao ano, após os 45 anos: verificação da pressão arterial; hemograma completo; dosagem da glicemia; dosagem do colesterol; atualização da carteira vacinal; verificação do perímetro abdominal e do Índice de Massa Corpórea (IMC); cuidar da saúde mental; avaliação da saúde da próstata com toque retal e PSA (avaliar o risco individual). Após os 50 anos, realizar colonoscopia para prevenção do câncer de intestino (se o primeiro exame normal, pode ser feito a cada 5 a 10 anos). 

Outras medidas preventivas incluem: dieta rica em frutas, verduras, legumes, grãos, cereais integrais; menos gordura, principalmente as de origem animal, ajuda a diminuir o risco de câncer, e de outras doenças crônicas não-transmissíveis.

Nesse sentido, outros hábitos saudáveis também são recomendados, como fazer, no mínimo, 30 minutos diários de atividade física, manter o peso adequado à altura, identificar e tratar adequadamente hipertensão, diabetes e problemas de colesterol, diminuir o consumo de álcool e não fumar.

 


Política de uso: A reprodução de textos, fotografias e outros conteúdos publicados pela Diretoria de Comunicação Social da Universidade Federal de Uberlândia (Dirco/UFU) é livre; porém, solicitamos que seja(m) citado(s) o(s) autor(es) e o Portal Comunica UFU.

 

Palavras-chave: novembro azul câncer câncer de próstata Medicina

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