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Campus Umuarama

'Aos que partiram, nossa memória. Aos que cuidaram, nossa gratidão. A todos, nosso compromisso com a ciência'

Universidade Federal de Uberlândia inaugura escultura em memória às vítimas da covid-19, aos profissionais de saúde e à força da comunidade acadêmica no enfrentamento da pandemia

Publicado em 19/12/2024 às 17:10 - Atualizado em 06/01/2025 às 12:36

Docente do curso de Design, Aline Teixeira Souza Silva (à direita, falando ao microfone) está entre os autores da escultura. (Fotos: Milton Santos)

 

O maior drama da humanidade no Século XXI foi oficializado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) no dia 11 de março de 2020. Naquela data, após a constatação de casos de covid-19 em vários países de diferentes regiões do mundo, foi decretada uma pandemia. O Brasil, país com dimensões continentais, registrou estatísticas devastadoras. Números que ainda crescem. Dados do Ministério da Saúde, atualizados no último dia 12 de dezembro, revelam que são mais de 714 mil vidas perdidas em decorrência desta doença no nosso país. Ao longo desses quase cinco anos de convívio com ela, os casos registrados ultrapassam a marca de 39 milhões.

E poderia ser ainda pior, não fosse a atuação da ciência, dos profissionais da saúde e a união de esforços em um pacto coletivo firmado pela sociedade. Um verdadeiro exército que teve muitos soldados na comunidade acadêmica da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Gente que segue entre nós, resiliente. Mas também quem não está mais por aqui e cujo legado precisa se manter presente. Imponente.

Que tal um monunento? Uma escultura!

Motivos não faltam e rendem uma frase enorme, como a que foi lida no roteiro da solenidade oficial de inauguração do Memorial Covid-19, realizada pela UFU nesta quinta-feira, 19 de dezembro de 2024: "Com o propósito de reconhecer o trabalho das diversas equipes profissionais multidisciplinares que colocaram suas próprias vidas em risco, em benefício de outras vidas, tanto no complexo do Hospital de Clínicas (HC-UFU/Ebserh) quanto nos mais diversos setores da instituição, e também objetivando homenagear a cada uma das pessoas que se recuperaram das cepas mais virulentas da doença e, sobretudo, honrar aqueles e aquelas que perderam suas vidas na pandemia, a Universidade Federal de Uberlândia materializa sua homenagem por intermédio deste memorial, que simboliza a união de mãos, a solidariedade entre as pessoas e nações, a união entre a ciência e a prática, em benefício de uma vida melhor no planeta."

O choro, que se fez presente em tantos momentos de dor nos leitos isolados e em despedidas diante de caixões fechados, provocou um sentimento bem diferente dentre os presentes no evento. Sorrisos, balançar de ombros e cabeças. Palmas. Muitas palmas para os quatro estudantes do curso de Música da UFU que abrilhantaram aquele momento com a execução de clássicos como "Vou vivendo", de Pixinguinha e Benedito Lacerda. O quarteto faz parte do projeto @chorodoalmoço, que costuma se reunir para praticar o chorinho em frente ao Bloco 3M do Campus Santa Mônica, das 11h30 às 13h - confira vídeo no perfil da UFU no Instagram.

 

Discursos

Falando também em nome dos três demais autores da obra - a docente Juliana Cardoso Braga e os graduando em Design na UFU Gabriel Gomes Ribeiro e Renato Marco Pereira -, a professora Aline Teixeira Souza Silva explicou que até mesmo a escolha da matéria-prima para o monumento teve um sentido especial: "O aço corten foi escolhido também com essa simbologia de resistência, por ser um material resistente e que se transforma ao longo do tempo, esteticamente. Então, ele não recebe um acabamento de propósito, porque vai se transformar e vai mostrar essa persistência, essa nossa resiliência, ao longo dos anos em que ele estiver instalado aqui."

Em suas palavras, a gerente de Atenção à Saúde do HC-UFU/Ebserh, Liliane Barbosa da Silva Passos, fez questão de ressaltar a força do trabalho em equipe praticado nos momentos mais graves da crise sanitária, em 2020 e 2021. "Quando me lembro do que passamos, obviamente, me lembro muito de ciência, porque sempre tudo foi muito baseado em ciência, mas me lembro e faço questão de deixar registrado aqui a respeito do quanto que a equipe do hospital sempre é unida (...) a rapidez com que nós conseguimos mobilizar todos os servidores RJU [com Regime Jurídico Único], os empregados Ebserh [Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares] (...) Medo todos nós sentimos, mas todos esses trabalhadores colocaram na frente o compromisso profissional; então, também queria deixar aqui isso registrado e expressar o nosso respeito, a nossa gratidão, a nossa homenagem a esses trabalhadores de saúde (...) e agradecer à universidade pelo apoio incondicional de sempre", declarou.

Presidente do Comitê de Monitoramento à Covid-19 UFU, Armindo Quillici Neto comentou sobre os inúmeros desafios enfrentados por aquele grupo, formado por representantes dos três segmentos da UFU - professores, técnicos administrativos e docentes - e por profissionais de saúde. Destacou que os principais princípios norteadores dos trabalhos do comitê e de suas comissões era a preservação da vida e a busca e propagação de informações. "A cada reunião era um sofrimento, as pessoas vinham sofrendo. Pessoas do grupo do comitê que apareciam com covid e isso gerava uma insegurança; então, foi um período de dois anos praticamente, de muito sofrimento. E o comitê também trabalhou com muita seriedade na proposição do retorno das atividades de aulas e de trabalho (...) Além de agradecer às pessoas que contribuíram na estrutura do comitê e das comissões, quero agradecer à contribuição que o Hospital das Clínicas deu, por meio das professoras que nos ajudaram e de vários outros médicos que fizeram palestras constantemente (...) Então, foi um momento, apesar de sofrimento, rico de experiência. Acho que a gente vai carregar isso por muito tempo, essa experiência de vida difícil. E para isso eu também parabenizo a iniciativa deste memorial para as vítimas da covid, principalmente aquelas que pertenciam à Universidade Federal de Uberlândia. Acho que isso vai ficar marcado para todo o tempo."

Próximo a falar, o diretor-geral da Fundação de Assistência, Estudo e Pesquisa de Uberlândia (Faepu) recordou das inúmeras dificuldades vivenciadas pelos profissionais do HC, que precisaram trabalhar de forma ininterrupta. Uma sobrecarga que atingiu não apenas as equipes de saúde. "Eu lembro que nós tivemos mais de 50 costureiras produzindo máscaras, gorros, jalecos; porque estes materiais estavam em falta no mercado (...) as compras que eram realizadas muitas vezes eram confiscadas, ou na própria distribuidora ou na divisa do estado. Tamanha era a dificuldade da situação que nós vivenciamos. Mas uma coisa que marcou muito, e aqui eu quero reforçar, é realmente a união dos profissionais que atuavam na área de saúde, de forma direta ou indireta. Isso foi uma coisa assim, excepcional, e que com certeza contribuiu para minimizar os impactos de uma situação tão grave", sublinhou Renato Gonçalves Darin.

A mensagem proferida pelo diretor da Faepu suscitou uma das reflexões apresentadas pelo o superintendente do HC-UFU/Ebserh, Marcus Vinícius de Pádua Netto. Para ele, "precisou de um evento catastrófico desse para que a gente resgatasse a união entre os povos. Pessoas que tinham um pouco a mais de máscara cediam para os outros; serviços que tinham oxigênio cediam ao outro que não tinha". Relembrando os discursos dos professores Aline Teixeira Souza Silva e Armindo Quillici Neto, o superintendente tam´bém fez questão de frisar a importância da valorização da ciência: "Ela por muitas vezes 'andou por linhas tortas', mas ainda bem que a grande maioria soube respeitar e buscar dentro da ciência tudo que fosse possível para que diminuísse o que a trágica pandemia da covid estava trazendo para nós."

Último a fazer uso do microfone, o reitor Valder Steffen Junior foi o responsável pelo mais extenso dos discursos. Ao longo dos 13 minutos de pronunciamento - de improviso, guiado apenas por lembranças e, sobretudo, pela emoção daquele momento -, homenageou em especial a memória de Luiz Ricardo Goulart Filho, esta que foi uma das mais importantes baixas sofridas pela UFU por conta da covid-19:  "Isso me remete a uma experiência que tivemos com a vinda do ministro do Estado da Ciência, Tecnologia e Inovação [Marcos Pontes] no laboratório do professor Luiz Ricardo. Quando uma equipe com pessoas da imprensa e do ministério foi visitar o laboratório, o Luiz Ricardo compartilhou comigo o seguinte: ‘Olha, eu não posso entrar ali, porque tenho todas as comorbidades possíveis'. De fato, ele não entrou. A equipe entrou. Portanto, a localização desse monumento é muito apropriada: ali, a poucos metros, nós temos um memorial e um agradecimento ao professor Luiz Ricardo; tem uma árvore plantada, simbolizando o trabalho que ele realizou; a liderança que teve; representando a comunidade científica da Universidade Federal de Uberlândia."

Antes de encerrar sua participação no evento, Steffen Junior citou um pensamento presente na obra "Conjecturas e Refutações", do filósofo britânico Karl Popper, para reiterar que a segurança e saúde que temos hoje se devem à ciência: "Em um capítulo deste livro, Popper fala da ciência. Ele diz que a ciência não tem a pretensão de ser a verdade absoluta, mas ela é a melhor resposta num dado momento histórico. E a própria ciência tem a abertura, a humildade necessária para restabelecer as suas 'verdades', à medida que novos conhecimentos são agregados. A ciência foi a maneira pela qual nós enfrentamos a pandemia, a maneira pela qual nós saímos da pandemia e a maneira pela qual nós permanecemos saudáveis, embora a pandemia ainda esteja por aí. Dizem os especialistas e os cientistas da área que o mundo poderá enfrentar, em breve, novas pandemias. Que a experiência da covid-19 na UFU e no nosso país sirva de referência para as gerações futuras, em momentos de dificuldade."

Confira, abaixo, um álbum especial da cerimônia de inauguração da escultura - que possui uma placa com um QR code redirecionando para site do Memorial Covid-19:

 

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