Por: Diélen Borges
Publicado em 27/03/2025 às 09:22 - Atualizado em
31/03/2025 às
13:38
Histórias contadas nas pastas organizadas e armazenadas sob a guarda da Secretaria-Geral da Universidade Federal de Uberlândia (Seger/UFU) e nos livros “A UFU no Imaginário Social” e “Primeiros Tempos”. Foi o que a pesquisadora Gislaine Marli da Rosa Kalinowski encontrou durante o doutorado no Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGED/UFU), concluído em 2024, sob orientação do professor Armindo Quillici Neto. A tese é intitulada “Com quantos fios se tece uma trama? Uma análise de registros e produções de memórias institucionais da Universidade Federal de Uberlândia”.
Uma instituição nascida em 1969, durante a ditadura militar, como Universidade de Uberlândia (UnU), que integrava as seis escolas de ensino superior existentes na cidade: Música; Direito; Filosofia, Ciências e Letras; Engenharia; Ciências Econômicas; e Medicina. Foi fundada logo depois da Reforma Universitária de 1968, federalizada em 1978 e se consolidou em meio à redemocratização do Brasil.
Ao mesmo tempo, constata a pesquisadora, a UFU foi uma possibilidade de acesso à universidade no Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba e contribuiu para o desenvolvimento regional. A instituição produziu “um caminho próprio de existência no período, que ajuda a evidenciar os potenciais limites do processo de recuperação democrática”, afirma Kalinowski.
Um conjunto de documentos históricos selecionados para a pesquisa são as pastas da Secretaria-Geral, localizada na Reitoria, no Campus Santa Mônica. São certidões, certificados, registros, discursos, fotografias, leis, decretos, ofícios, portarias, pareceres, relatórios, memorandos, termos de posse, entre outros materiais, guardados desde 1969. A então aluna de doutorado produziu mais de mil cópias digitalizadas, inclusive do Decreto-Lei nº 762, de 14/08/1969, que ela chama de “Certidão de Nascimento” da UFU, a primeira imagem desta reportagem.
“Encontrar um corpus documental organizado de maneira espontânea por um órgão interno da universidade e pensado como elemento de preservação histórica é um acontecimento singular, uma vez que este não está diretamente ligado a centros de preservação de memória”, diz Kalinowski. A pesquisadora explica que esse corpus é “um constructo vivo”, que segue sendo elaborado por uma unidade da instituição, enquanto seus servidores tratam de suas atribuições oficiais. Essa equipe selecionou documentos que julgou importantes para história, “organizando um quadro próprio, um sentido autoral para o registro histórico. Tal descoberta precisa ser explorada como fonte histórica”, defende a doutora em Educação.
Os outros documentos analisados por Kalinowski são dois livros: “A UFU no Imaginário Social”, de Coraly Gará Caetano e Miriam Michel Curi Dib, e “Primeiros Tempos: O Início da Universidade Federal de Uberlândia – Depoimento sobre Fatos e Pessoas”, de Juarez Altafin. Ambos estão disponíveis nas bibliotecas da UFU.
O primeiro livro foi publicado em comemoração aos dez anos de federalização da UFU, em 1988, como resultado de um projeto de pesquisa sugerido pelo então reitor, Ataulfo Marques Martins da Costa. O segundo é de autoria do ex-reitor Juarez Altafin, que esteve à frente da gestão da instituição de 1971 a 1975, e é uma espécie de desdobramento da obra de Caetano e Dib.
A tese “Com quantos fios se tece uma trama?” apresenta uma série de fatos sobre as três primeiras décadas da UFU. Por exemplo, a relação com Monte Carmelo. A UFU tem, desde 2011, um campus nesse município, mas, de acordo com o estudo, a relação é bem anterior ao Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni). A pesquisa encontrou, entre os documentos da Seger, o Decreto nº 79.130, de 1977, que autorizou a UFU a ministrar cursos de licenciatura em Monte Carmelo, por meio de sua Faculdade de Filosofia Ciências e Letras, nos meses de férias acadêmicas (janeiro, fevereiro e julho).
A tese também tem uma subseção sobre o político Rondon Pacheco (1919-2016), devido à sua participação na história nacional, como civil protagonista da ditadura, e local, como viabilizador da UnU. “Enquanto agente político civil direto da ditadura, seu maior ‘feito’, sem dúvida, foi ter dado a redação final ao Ato Institucional nº 5 de 13 de dezembro de 1968 (AI-5) do Executivo nacional. Esse instrumento, que recrudesceu a já truculenta ditadura, inaugurou os “Anos de Chumbo” e costurou acordos com o autor inicial, ministro Gama e Silva, fato de maior importância, que neste trabalho concorre com a articulação para criação da UnU, realizada no amálgama do ministro/deputado”, escreve a pesquisadora.
“Não foi o Rondon Pacheco que criou a UFU, ele foi o agente político que viabilizou a UnU. Se não tivéssemos aqui, já, as escolas isoladas com seus agentes, as equipes de Uberlândia decididas a terem uma universidade”, diz a pesquisadora, não teria acontecido a criação da instituição. A tese aborda, inclusive, a perseguição do regime militar a profissionais e estudantes que tinham ideias e/ou comportamentos considerados subversivos.
O arquivo completo da tese “Com quantos fios se tece uma trama? Uma análise de registros e produções de memórias institucionais da Universidade Federal de Uberlândia” está disponível no Repositório Institucional.
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Palavras-chave: Educação história UFU