Publicado em 28/04/2025 às 16:51 - Atualizado em 06/05/2025 às 09:18
Um estudo realizado com 80 pacientes combinou fatores que permitiram criar um modelo capaz de prever, com mais de 95% de precisão, a falência do tratamento da hanseníase, possibilitando um acompanhamento personalizado e mais eficaz, com intervenções precoces. Esses pacientes são atendidos no Centro de Referência Nacional em Hanseníase e Dermatologia Sanitária (Credesh), vinculado ao Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia (HC-UFU), gerido pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh).
A pesquisa foi coordenada pelo médico patologista Bruno Dornellas, que atua no HC-UFU e é doutor pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde, também da UFU, e orientada pela professora Isabela Maria Bernardes Goulart, da Faculdade de Medicina (Famed/UFU). O artigo em que relatam o trabalho, escrito com outros pesquisadores, incluindo alunos de graduação, e publicado em outubro de 2024 recebeu, em março de 2025, o prêmio Dr. L. Clarke, Jr. and Elaine F. Stout Award.
A hanseníase é uma doença causada pela bactéria Mycobacterium leprae. Ela afeta o sistema nervoso periférico, que inerva vasos, glândulas, pelos, nervos sensitivos e motores. Mais de 200 mil pessoas são acometidas, por ano, em todo o mundo. O Brasil é o segundo país com mais casos, atrás apenas da Índia. Outras informações sobre essa doença milenar estão na matéria publicada no portal Comunica UFU, em 2020, intitulada 7 fatos que precisamos saber sobre a hanseníase neste século.
A descoberta da UFU pode reduzir o número de recaídas e minimizar os danos causados pela patologia. O grande destaque da pesquisa é o uso de marcadores de exames de pele, sorológicos e moleculares para prever com alta precisão quais pacientes têm risco de falência terapêutica. Com isso, é possível intervir de forma mais rápida e eficaz, evitando a reincidência da doença e garantindo tratamentos mais seguros.
No estudo comparativo, foram observadas oitenta pessoas atendidas no Credesh, divididas em dois grupos: 40 pacientes com falência terapêutica, com tempo médio de reaparecimento dos sinais clínicos de 13 meses após o término do tratamento; e 40 pacientes sem sinais de atividade da doença, com tempo médio de acompanhamento de 113 meses sem recidiva.
Após o tratamento, foram analisados dados clínicos, laboratoriais, histopatológicos (de tecidos), sorológicos e moleculares. Os principais achados foram: presença de granulomas espumosos, que são aglomerados de células de defesa que tentam conter a infecção; maior carga bacteriana e de anticorpos anti-PGL-I e presença do material genético da Mycobacterium leprae. A combinação de alguns desses achados elevou a probabilidade de falência terapêutica para mais de 95%.
Dornellas explica que a proposta de identificar precocemente a falência do tratamento da hanseníase é essencial para evitar o reaparecimento da doença e acompanhar mais de perto quem tem mais chances de ter a doença novamente.
“O acompanhamento após o tratamento da hanseníase é realizado principalmente por observação clínica e, agora, é possível saber quais pacientes têm mais risco de ter a voltar a precisar do tratamento, propor um acompanhamento com intervalos menores entre as consultas e garantir mais saúde e qualidade de vida a cada um deles”, detalha.
O estudo pode ajudar não somente pacientes no Brasil, mas em todo o mundo, por não precisar de tecnologias avançadas, somente uma alteração na rotina já realizada em todas as partes do mundo, o que torna essa descoberta um marco na ciência e que pode beneficiar os pacientes e familiares de quem sofre com a doença.
“Além disso, as novas abordagens podem ser impactantes em regiões com recursos limitados, onde a observação clínica sozinha muitas vezes não é suficiente pois o estudo oferece uma maneira de personalizar os cuidados, mesmo em contextos com infraestrutura de saúde mais restrita”, explica o médico.
O estudo rendeu o artigo intitulado “Role of histopathological, serological and molecular findings for the early diagnosis of treatment failure in leprosy”, com tradução livre para “O papel dos achados histopatológicos, sorológicos e moleculares para o diagnóstico precoce da falha terapêutica na hanseníase”. O trabalho conquistou, neste ano, para o Brasil, pela primeira vez, o Dr. L. Clarke, Jr. and Elaine F. Stout Award, um dos prêmios mais respeitados na área de patologia médica, instituído em 2015.
O professor Gustavo Antonio Raimondi, da Gerência de Ensino e Pesquisa do HC-UFU/Ebserh e vinculado à Famed/UFU, diz que “ao considerarmos o hospital como uma instituição de ensino, pesquisa, assistência e extensão universitária, compreendemos sua missão, que está atrelada à formação de excelência de futuros profissionais de saúde e com os resultados das pesquisas, é possível aprimorar os processos, fluxos, práticas e demais ações cotidianas que resultam no aperfeiçoamento do cuidado em saúde ofertado à população”.
Sobre o reconhecimento internacional, Raimondi afirma que a premiação de práticas científicas, como esta, exemplifica e divulga a excelência das ações de pesquisa que são realizadas no hospital da UFU. Desde 2022, o HC-UFU/Ebserh implementou o Rede Pesquisa, com 565 estudos inscritos.
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Palavras-chave: Hanseníase Medicina Hospital de Clínicas
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