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Cultura

Choro: o gênero musical vivo, pulsante e genuinamente brasileiro

Essa expressão artística, que remonta ao Século XIX, também pode ser objeto de estudo, como visto no projeto Oficina Experimental de Choro

Publicado em 05/05/2025 às 10:23 - Atualizado em 06/05/2025 às 15:56

Ações extensionistas relacionadas ao choro oferecem oportunidades aos discentes de ter contato com atividades de formação profissional e de enriquecimento artístico. (Foto: arquivo pessoal/Denize Novais)

 

Em fevereiro de 2024, o choro foi oficialmente reconhecido como "Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil". A honraria, concedida pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), ressalta a importância cultural e histórica desse gênero na construção da identidade musical brasileira e na preservação de sua memória, destacando seu papel na diversidade cultural do país.

Os primeiros conjuntos de choro surgiram no Rio de Janeiro, antiga capital do Brasil, no final do Século XIX. Essa melodia é resultado das criações musicais das classes populares cariocas, sendo uma fusão de influências musicais africanas, europeias e indígenas — e pode ser considerada como a primeira música urbana tipicamente brasileira.

Diante disso, iniciativas de ensino e difusão do choro seguem fortalecendo o gênero em diferentes espaços. Na Universidade Federal de Uberlândia (UFU), o projeto Oficina Experimental de Choro e o programa de extensão Música Popular UFU promovem a prática e a formação de novos músicos, contribuindo para a continuidade e renovação dessa tradição musical, que é sinônimo de brasilidade.

A Oficina Experimental de Choro surgiu no segundo semestre de 2024, a partir da iniciativa de estudantes do curso de Música da UFU, que voluntariamente começaram conversas relacionadas ao choro e construíram uma apostila com o repertório a ser tocado nas rodas. No segundo encontro, o músico Wellington Gama, que possui mais de 25 anos de carreira, foi convidado para ministrar uma aula prática. Posteriormente, ele tornou-se instrutor e arranjador do projeto.

Gama relata que os integrantes da Oficina são músicos com uma grande diversidade de linguagens e que é preciso um trabalho cuidadoso para proporcionar um contato incisivo com o choro — para que eles possam conhecer os fundamentos e construir conceitos sobre o gênero: “Eu coloco muitas gravações para eles ouvirem, explico as comparações entre uma gravação e outra. O choro é uma música que quebra barreiras e, com eles, não seria diferente.”

Na avaliação do músico, o reconhecimento do choro como Patrimônio Imaterial do Brasil é uma pequena e simbólica fatia de um todo; entretanto, mais ações são necessárias para contribuir com a valorização do gênero em território nacional. “É a música genuinamente brasileira. Eu acredito que ainda faltam muitos espaços, em questão de mídia e editais específicos para esse segmento”, acrescenta Gama.

No segundo semestre de 2025, a Oficina Experimental de Choro participará da programação do VI Festival Uberlândia tem Choro, evento organizado por Wellington Gama. O festival se consolida como um importante espaço de valorização do choro e de integração entre músicos, pesquisadores e o público, reforçando o papel da universidade na promoção e preservação desse patrimônio cultural.

Já o Música Popular UFU nasceu da necessidade de existência de um programa de extensão que pudesse acolher artistas locais e de fora de Uberlândia, que desejassem fazer apresentações nos espaços da UFU. Por meio desta iniciativa, foi possível fazer uma ponte entre os artistas e a universidade, criando condições para que os músicos possam apresentar seus trabalhos nas dependências dos campi. A primeira ação foi o lançamento do álbum “Dedicatórias”, do guitarrista Agnes Brito, realizado no último dia 22 de abril.

Professor do Instituto de Artes (Iarte/UFU) e coordenador de ambos os projetos, Daniel Lovisi afirma que iniciativas como essas dão enfoque às produções de músicos que se dedicam ao gênero. Todavia, elas exigem certa complexidade. “Os músicos da cena independente não são instrumentistas em tempo integral e têm que se desdobrar em mil. Viabilizar projetos não é tarefa simples, e, por isso mesmo, a integração da universidade com músicos de fora da academia que estão tocando choro é fundamental. Criar essas pontes, via projetos de extensão, é uma forma de fortalecer essa produção local e contribuir para o enriquecimento da cena musical da cidade e da região”, destaca.

O docente comenta que os projetos estão ocorrendo na UFU sem apoios financeiros, mas que é necessário pensar em maneiras de viabilizar recursos para a realização das atividades com mais tranquilidade, como a obtenção de bolsas de extensão. “O choro habita festivais de música, as rodas de músicos e estudantes, além de shows de artistas desse campo; porém, carece de formas de se sustentar materialmente. Arrisco dizer que a maioria dos projetos ligados ao choro se sustenta com o apoio das leis de incentivo à cultura”, argumenta Lovisi.

No que tange às perspectivas, ele diz que acredita que o gênero possui um futuro tão promissor quanto seu passado, desde que iniciativas de valorização sejam promovidas. “Vejo o choro como um gênero vivo, pulsante e que segue atraindo a juventude. Andando pelas rodas de choro, vejo muitas caras novas tocando, compondo, arranjando... Creio que o papel da universidade como instituição que abriga um curso de Música, como a UFU, é fortalecer essa produção, abrindo seus espaços para a realização de eventos, festivais, projetos de extensão, oficinas, palestras, concertos; enfim, tudo aquilo que possa fortalecer a cultura do choro”, conclui.

 

O legado de Pixinguinha
Estátua em homenagem a Pixinguinha
Pixinguinha é considerado um dos maiores gênios da Música Popular Brasileira. (Foto: Donatas Dabravolskas/Wikimedia Commons)

 

Alfredo da Rocha Vianna Filho nasceu no bairro da Piedade, Zona Norte do Rio de Janeiro, em 23 de abril de 1897, filho de Alfredo da Rocha Vianna e Raimunda Maria da Conceição. O menino teria sido apelidado por sua avó de Pizindin (que significava “menino bom”, em um dialeto africano) e o nome Pixinguinha seria derivado da mistura desse apelido com “Bexiguinha”, pois, quando criança, foi acometido pela varíola (chamada popularmente de bexiga).

Durante a infância, aprendeu a tocar cavaquinho com seus irmãos e, em pouco tempo, passou a acompanhar seu pai, um músico amador, em bailes. Aos 11 anos, Pixinguinha compôs sua primeira música, o choro Lata de leite. Em 1919, tornou-se integrante do grupo Oito Batutas, como flautista. Apesar das críticas — majoritariamente motivadas por racismo —, o grupo fez sucesso, realizando uma turnê nacional e internacional entre 1919 e 1922, ano em que o conjunto fez apresentações bem sucedidas em Paris e Buenos Aires. Ainda em 1922, os Oito Batutas participaram da primeira transmissão de rádio feita no Brasil.

Nos anos posteriores, Pixinguinha fez diversas composições de sucesso, como “Rosa”, e uma das canções nacionais mais reproduzidas no mundo, “Carinhoso”. Faleceu em fevereiro de 1973, em decorrência de um infarto fulminante. No ano seguinte à sua morte, recebeu uma homenagem póstuma feita pela escola de samba Portela, que foi a vice-campeã daquela edição do carnaval carioca, com o enredo “O Mundo Melhor de Pixinguinha”.

O Dia Nacional do Choro é comemorado em 23 de abril, em homenagem ao nascimento deste músico marcante, de modo a memorar as suas contribuições para o gênero, que é sinônimo de brasilidade.

 

 

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Palavras-chave: Artes música choro chorinho extensão IARTE

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