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Leia Cientistas

A utilização de memes virtuais no combate à desinformação acerca da vacina contra a covid-19

Pesquisa realizada no curso de graduação em Jornalismo analisou recurso de humor e crítica

Publicado em 11/06/2025 às 12:34 - Atualizado em 16/06/2025 às 17:00

'Meme' teve origem antes do surgimento das redes sociais. (Foto: Freepik)

 

Eu tenho contato com o estudo dos memes desde os 16 anos, quando ainda cursava o Ensino Médio. Na ocasião, todos os alunos da minha série foram orientados a escolher um tema para realizar uma pesquisa científica individual nos moldes de uma monografia acadêmica, e a minha, naturalmente, foi sobre o estudo dos memes virtuais a partir da visão da Comunicação Social. Minha identificação com o tema que escolhi foi tanta que, seis anos depois, eu não poderia ter escolhido outro assunto para abordar no trabalho que marcaria o fim da minha graduação em Jornalismo pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU).

Portanto, a pesquisa que eu desenvolvi como monografia de conclusão de curso estuda como os populares memes virtuais podem utilizar seu humor para combater a desinformação, com foco principal naquela que é compartilhada na Internet sobre a vacinação contra a covid-19.

Para a realização desta pesquisa, eu precisei afunilar a área do conhecimento em que eu aplicaria o estudo do potencial combativo dos memes virtuais quando falamos de desinformação. Depois de vários momentos de reflexão, cheguei a um período recente da história humana que se destacou como um evento sem precedentes, de grande repercussão mundial e que gerou vários impactos nas áreas da política e da saúde brasileira até hoje: a pandemia de covid-19. Seria um enorme desafio realizar este trabalho, mas, considerando o perigo que o movimento antivacina representou – e ainda representa – à saúde pública entre os anos de 2020 e 2022, considerei que seria interessante insistir nesse recorte.

Para a aplicação dos dados levantados durante a revisão bibliográfica, foi escolhida como técnica principal a análise de conteúdo a partir da definição de categorias que conversam com os estudos dos pesquisadores Claire Wardle, Handherson Damasceno e Isabella Moraes. 

O percurso metodológico da pesquisa teve início a partir da seleção de memes sobre a vacina contra a covid-19 por meio de pesquisas no banco de imagens da ferramenta Google – mais especificamente, o Google Imagens, com a inserção das palavras-chave “memes” e “vacina” lado a lado na barra de busca; assim como sua retirada direta de artigos que também os utilizaram como objeto de análise. Logo depois, foram definidas as categorias de análise para a realização do estudo em si.

Mas, o que é isso que chamamos de “meme”? A base desse conceito tem uma origem mais antiga do que o surgimento da Internet ou das mídias sociais tal qual as conhecemos hoje: no ano de 1976, o biólogo Richard Dawkins introduziu esse termo pela primeira vez ao questionar se seria possível que a teoria da seleção natural de Charles Darwin fosse aplicada em qualquer meio que permitisse seu desenvolvimento. O ambiente escolhido por ele foi a mente humana e o nome dado para as unidades básicas de transmissão cultural que se desenvolvem nela foi, justamente, “meme” – nomenclatura justificada pela semelhança com a palavra “gene”, que consiste na unidade genética primordial dos seres vivos e que são responsáveis por passar as características “de pai para filho”. Com isso em vista, os memes lutam constantemente para se perpetuar nas mentes humanas, e o conjunto daqueles que se mostram mais predominantes em uma sociedade específica passam a ser chamados de sua “cultura”.

Com a virtualização desses memes, eles começaram a receber uma ressignificação de seu conceito. Um meme virtual é definido como uma pequena unidade formada, majoritariamente, por um recurso imagético (vídeos ou fotos de pessoas “comuns”, celebridades, animais, entre outros) acompanhado por um texto que pode ou não possuir uma relação direta ao seu conteúdo não verbal. Tal junção possui como objetivos produzir efeitos humorísticos ou críticos que afetem a interpretação de seu interlocutor, através da replicação de conteúdos já disseminados pela grande mídia.

Quando finalmente iniciei os estudos sobre como os memes virtuais poderiam auxiliar na luta contra a desinformação, descobri que, primeiramente, havia a necessidade de se entender a forma como ela ocorre para depois compreender como combatê-la. Em um mundo em que a atenção das pessoas se tornou um recurso cada vez mais raro, os memes demonstram uma notável capacidade de capturar o interesse de indivíduos e grupos sociais em torno de determinados temas ou acontecimentos. 

Assim, notei que diversos grupos sociais que não concordavam com as normas sanitárias divulgadas pelas organizações de saúde nacionais e internacionais a respeito do combate à doença causada pelo coronavírus tenderam a criar e consumir memes que subvertiam esses valores e os transformavam em informações falsas. Mas, ao mesmo tempo, outros grupos usavam os memes para evidenciar estes conflitos ideológicos e emitir opiniões que fossem favoráveis às medidas sanitárias adotadas para o combate a essa doença.

Com isso em vista, concluí que os memes podem ser utilizados como meios de disseminação de conhecimento, persuasão, manipulação de informações e das emoções de seus consumidores; além de funcionar como uma forma de expressar sentimentos e características dos usuários inseridos no universo das mídias sociais.

Acredito que, no futuro, além do estudo mais aprofundado sobre o engajamento de memes desinformativos e informativos, é possível estudá-los sob a ótica de outras técnicas e metodologias – tais como a análise de discurso. Mas, por enquanto, tenho orgulho da minha contribuição para o estudo desses que são instrumentos de comunicação digital tão promissores para o futuro.

 

*Giovana Sallum Seno é jornalista e pesquisadora recém-formada pela Universidade Federal de Uberlândia. Atualmente, possui vínculo com o grupo de pesquisa Observatório da Opinião Pública na Arena Digital (O²PAD), junto ao qual desenvolveu sua monografia de conclusão de curso.

 

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Palavras-chave: Leia Cientistas memes Humor crítica Internet redes sociais Jornalismo

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