Publicado em 12/11/2025 às 09:14 - Atualizado em 17/11/2025 às 13:05
Maria da Graça Oliveira, a Graça do Aché, nasceu no dia 12 de novembro de 1949, no bairro Patrimônio em Uberlândia/MG — o bairro mais antigo da cidade, com 167 anos atualmente. Graça era de uma família desabastada e, com 20 anos de idade, ela migra para a cidade de São Paulo para trabalhar.
Graça do Aché estudou até o primeiro ano do ensino médio e, enquanto residiu em São Paulo, trabalhou como telefonista e em algumas funções administrativas. Em Uberlândia, ela trabalhou como cozinheira na casa de várias famílias ricas e era uma excelente cozinheira.
Devido às suas habilidades profissionais, Maria da Graça, adquiriu a habilidade de circular e interagir com pessoas de diferentes setores e escalões na cidade. O protagonismo de Maria da Graça como pessoa que estabelecia relações com os diferentes grupos de cultura da cidade era algo que a tornava um modelo de liderança.
E o Bloco Aché?
O Bloco Aché nasceu de uma ideia conjunta entre Maria da Graça e seu marido, Saturnino ao observarem o contexto brasileiro da época e, principalmente, como era representado pela principal mídia da época: a televisão. Em 1988, a Rede Globo lançou uma vinheta com diversos artistas negros em celebração ao Centenário de Abolição da Escravatura. Nesse sentido, Graça e Saturnino tiveram a ideia de criar um bloco para celebrar o centenário da abolição. Maria da Graça denominou o bloco carnavalesco de “Bloco Aché”, sim, com “CH”, pois ela queria algo diferente, para não confundir ninguém no que diz respeito à pronúncia da palavra.
No início das ações do bloco, os recursos eram escassos. Com o objetivo de conseguirem fundos, alguns eventos foram realizados no bar que Graça e seu marido tinham, no bairro Santa Mônica, na cidade de Uberlândia. Naquele contexto, eles almejavam levantar fundos para que o bloco pudesse sair na avenida. No primeiro ano do bloco, havia cerca de 70 integrantes, trajados com roupas bem simples.
À medida que os anos foram passando, o Bloco Aché foi se tornando o bloco mais popular da cidade, sempre levando para a avenida temas ligados à história e à cultura negra. O Bloco Aché cresceu tanto que, em determinado momento, ele possuía mais componentes do que as escolas de samba mais populares de Uberlândia. Tal crescimento apenas fomentou as ações de Maria da Graça como articuladora da união dos diferentes grupos de cultura negra — Congado, escolas de samba, Reisados etc. — que atuavam resistindo ao racismo muito presente na cidade, sendo ainda a precursora no que diz respeito à conscientização social e racial em Uberlândia.
Além disso, o principal foco da Graça do Aché eram os jovens negros e negras. Para ela, o jovem era como “uma pedra preciosa a ser lapidada”. Nesse sentido, desenvolveu ações com o objetivo de conscientizar a juventude preta da periferia, promovendo iniciativas como cursos gratuitos de informática voltados à comunidade negra da cidade, assim como rodas de conversa com meninas pretas a respeito da prevenção à gravidez na adolescência.
Em todas essas ações, instruía-as a estudar, pois, para Maria da Graça, era por meio da educação que os jovens negros poderiam romper com a subalternização imposta por uma sociedade racista e excludente.
Infelizmente, Maria da Graça faleceu no dia 21 de dezembro de 1999, devido a complicações após a realização de uma cirurgia. O legado de Graça do Aché permanece vivo até hoje na memória de vários uberlandenses, familiares, amigos e participantes do movimento negro uberlandense, representado pelo Carnaval, Congado, capoeira e religiões de matrizes africanas.
Portanto, a herança e a memória a respeito de sua história também são preservadas no Centro de Memória da Cultura Negra Graça do Aché, importantíssimo equipamento cultural da Universidade Federal de Uberlândia a serviço da comunidade interna e externa, especialmente através das atividades desenvolvidas no espaço, que sempre colocam a população e a cultura preta uberlandense em evidência.
Ana Marília Alves Simões é licenciada e discente do bacharelado em História pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Foi pesquisadora Fapemig, estagiária no Centro de Memória da Cultura Negra Graça do Aché e membro do Grupo de Pesquisa Estudos Negros. E-mail: ana.simoes@ufu.br.
A seção "Leia Cientistas" reúne textos de divulgação científica escritos por pesquisadores da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). São produzidos por professores, técnicos e/ou estudantes de diferentes áreas do conhecimento. A publicação é feita pela Divisão de Divulgação Científica da Diretoria de Comunicação Social (Dirco/UFU), mas os textos são de responsabilidade do(s) autor(es) e não representam, necessariamente, a opinião da UFU e/ou da Dirco. Quer enviar seu texto? Acesse: www.comunica.ufu.br/divulgacao. Se você já enviou o seu texto, aguarde que ele deve ser publicado nos próximos dias.
* Defendeu TCC agora? Divulgue sua pesquisa na seção ‘Leia Cientistas’
Política de uso: A reprodução de textos, fotografias e outros conteúdos publicados pela Diretoria de Comunicação Social da Universidade Federal de Uberlândia (Dirco/UFU) é livre; porém, solicitamos que seja(m) citado(s) o(s) autor(es) e o Portal Comunica UFU.
Palavras-chave: Centro de Cultura Graça do Aché história consciência negra Dia da Consciência Negra cultura
Política de Cookies e Política de Privacidade
REDES SOCIAIS