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Fazendas UFU

Criação de rãs da UFU é referência nacional

Ranário está localizado na Fazenda Experimental do Glória, que oferece diversas possibilidades para pessoas interessadas na prática do ensino, pesquisa e extensão em setores do agronegócio

Publicado em 21/12/2021 às 15:11 - Atualizado em 22/08/2023 às 16:51

Pandemia de coronavírus não alterou o funcionamento da Fazenda Experimental do Glória, pois os seus 57 colaboradores, sendo 19 servidores da UFU, têm o trabalho considerado como essencial e existe a necessidade da alimentação dos animais e dos plantios na época recomendada. (Foto: Milton Santos)

Além da Reserva Ecológica do Panga, a Universidade Federal de Uberlândia (UFU) conta com três fazendas experimentais: Água Limpa, Capim Branco e Glória. Essa última é considerada como um laboratório ao ar livre para a prática de ensino, pesquisa e extensão em setores do agronegócio, principalmente para os cursos de graduação oferecidos no Campus Glória (Agronomia, Engenharia Ambiental, Medicina Veterinária e Zootecnia), que está localizado na rodovia BR-050, KM 78, (Uberlândia–MG), em uma área que divide espaço com a fazenda. Diferentemente da Fazenda Experimental Água Limpa, na qual só é trabalhada a produção vegetal, na Fazenda Experimental do Glória também é empenhado o ramo animal.

 

Produção animal

A produção animal na Fazenda Experimental do Glória se divide em duas áreas: bovinocultura de leite (criação de gado para produção de leite) e a aquicultura (produção de organismos aquáticos), que se ramifica em piscicultura (criação de peixes) e ranicultura (criação de rãs). “O setor bovinocultura de leite é o que tem maior demanda na área acadêmica, tanto no sentido de aulas práticas, que ocorriam quando não tínhamos a pandemia, e também na condução de pesquisas”, ressalta Adriano Pirtouscheg, que é professor da Faculdade de Medicina Veterinária (Famev/UFU) e diretor de experimentação animal nas fazendas da UFU.

Apesar de não ser a mais procurada se comparada aos outros setores, a criação de rãs da UFU é referência no âmbito nacional. Denis Douglas Pessoa, o zootecnista da Fazenda Experimental do Glória, que trabalha no setor de aquicultura há dois anos, diz que não é cultural se alimentar de rã no Brasil e que elas são comumente associadas aos sapos. “A ranicultura é um nicho meio fechado. Tem a questão do pessoal ter um bloqueio”, comenta.

Para diferenciar a rã de um sapo basta observar sua pele, que é lisa, e suas pernas traseiras, que são longas e geralmente contêm membranas nas patas, enquanto que os sapos não possuem tais estruturas e ainda têm a pele rugosa com glândulas de veneno em sua maioria, impossibilitando o seu consumo. (Foto: Milton Santos)

Da mesma maneira que a maioria dos anfíbios, o ciclo de vida das rãs tem início através do desenvolvimento do embrião em um ovo, que desenvolve para uma larva até se tornar girino, se alimentando de algas, bactérias, fungos e outros microrganismos. Somente com a metamorfose vem a adaptação para o ambiente terrestre, quando se transformam em imago (formação completa), deixando de ter a respiração branquial, como os peixes, e passando a respirar via pulmão e pele. Além disso, insetos, crustáceos, anelídeos, moluscos e pequenos vertebrados passam a ser sua base alimentar.

A finalidade da criação de rãs na UFU é amparar o tripé universitário (ensino, pesquisa e extensão), com o excedente sendo destinado para venda (com valores revertidos para o local). “Esses tempos atrás teve um pessoal da Unicamp [Universidade Estadual de Campinas] buscando girino para o controle de toxidade do meio ambiente. Vem o pessoal de várias instituições, a UFU, desde o Guimará [primeiro professor a cuidar do ranário da UFU], é conhecida nacionalmente”, comenta Pessoa. O zootecnista aproveita para destacar o reconhecimento do setor, existente desde 1988 e ampliado em 2008 para a engorda dos animais, que são considerados uma iguaria da gastronomia, com diversos relatos de que sua carne tem gosto semelhante ao frango, além de possuírem um baixo teor de gordura e ser rica em proteínas.

Maior parte da carne consumida das rãs vem de suas coxas e patas posteriores, por esse motivo são transferidas para a engorda na Fazenda Experimental do Glória, após se habituarem com a alimentação a base de ração e atingirem 40 ou 50 gramas. (Foto: Milton Santos)

Experiente com a criação dos animais, Pessoa informa que quando chega alguém desconhecido no ranário, elas já começam a pular devido ao estresse. “Elas estão acostumadas com o ambiente e vocês são pessoas novas, daí querendo ou não o animal não está acostumado. Dependendo da situação, se isso aqui tiver lotado com pessoas diferentes, elas ficam tudo pulando. Estressa o animal”, explica. Ele ainda complementa que as rãs são capazes de reconhecer a presença de quem está no seu dia a dia e estranhar a presença de quem não está familiarizada.

As pesquisas científicas desenvolvidas com as rãs geralmente abordam a questão do ganho de peso, melhoramento genético e eficiência alimentar, segundo Pessoa. Ele também constata uma maior relação com os cursos de Veterinária, Biologia e Zootecnia, os quais têm estagiários atuantes na Fazenda Experimental do Glória. “Um outro destaque também no setor é a oportunidade que a gente oferece aos alunos de realizar os seus estágios obrigatórios e como também desenvolver atividades acadêmicas voluntárias, no sentido de o aluno ter a oportunidade de colocar em prática os conhecimentos adquiridos e adquirir uma experiência maior nas vivências das práticas rurais”, enfatiza Pirtouscheg.

Fazenda Experimental do Glória da UFU tem atuação em cinco setores do agronegócio, como a aquicultura (foto), mas deixou de abrigar o setor de avicultura, destinado à criação de aves, pois o retorno oferecido não dava suporte para manutenção da atividade. (Foto: Milton Santos)

 

Produção vegetal

“A parte animal nas fazendas é bem mais antiga do que a vegetal. A Veterinária existe bem há mais tempo e a Agronomia na UFU é de 1986”, salienta Maurício Martins, que é professor do Instituto de Ciências Agrárias (Iciag/UFU) e diretor de experimentação em produção vegetal nas fazendas da UFU. A produção vegetal na Fazenda Experimental do Glória tem três frentes de trabalho: olericultura (cultivo de legumes, vegetais e hortaliças), cafeicultura e a área de irrigação e drenagem. “Nós temos também, mas que no momento está parada, a seção de processamento de verduras. Normalmente processavam-se e eram entregues aos restaurantes da universidade. O motivo do fechamento é porque os restaurantes estão fechados”, acrescenta Martins.

O destaque no ramo vegetal da fazenda é o café, que foi iniciado em 2001, sendo a produção mais recente do local. Atualmente são cerca de 110 mil pés de café plantados e é o produto mais rentável neste momento, de acordo com Pirtouscheg. “O café se sustenta”, diz Martins, adotando o mesmo posicionamento do diretor de experimentação animal, embora afirme que as áreas de maior procura na pesquisa são a soja e a fruticultura. Ao comentar sobre a questão da produtividade e da formação de novos profissionais para atender o mercado, Martins afirma: “é questão de dedicação e aplicação correta das tecnologias”.

Após a colheita, é realizado o contato com os compradores tradicionais, com intermediação da Fundação de Desenvolvimento Agropecuário, e a venda é concretizada para quem oferecer o melhor preço. (Foto: Arquivo anterior à pandemia/Milton Santos)

 

Comercialização dos produtos

A comercialização dos produtos é conduzida pela Fundação de Desenvolvimento Agropecuário (Fundap) e o recurso retorna para manutenção das fazendas, o que propicia a continuidade dos setores através do reinvestimento. “O orçamento da universidade não cobre todas as despesas, principalmente aquelas emergenciais. Se fosse depender de licitação e tudo, aí você não consegue. Como comprar medicamentos para um animal dependendo de licitação? Não tem como prever tudo o que precisa”, pondera Martins.

Além da venda para os compradores tradicionais, existe a possibilidade de pessoas físicas realizarem diretamente a compra de peixes e rãs na Fazenda Experimental do Glória, de acordo com a disponibilidade. “Nós temos muita dependência das condições de mercado para ter uma receita satisfatória e manter as atividades. Têm períodos em que temos muitas dificuldades porque os preços recebidos são insuficientes para cobrir os custos de produção”, analisa Pirtouscheg.

Nas fazendas da UFU, Maurício Martins (à esquerda) é o diretor de experimentação em produção vegetal e Adriano Pirtouscheg (à direita) é o diretor de experimentação animal. (Foto: Milton Santos)

 

Visitações, agendamentos e futuro da Fazenda Experimental do Glória

Para chegar até a Fazenda Experimental do Glória, os estudantes e os servidores da UFU podem contar com o serviço de intercampi, que oferece transporte entre os campi da universidade, apesar de estar suspenso temporariamente em decorrência da falta de demanda e com retorno previsto para a primeira quarta-feira (05/01) de 2022. “O retorno do intercampi e das atividades presenciais de ensino e pesquisa vai ser muito importante para facilitar o acesso à fazenda. Porque ali nós teremos o transporte para o campus e até aqui a fazenda é muito próximo. A pessoa pode vir a pé”, finaliza Pirtouscheg, que destaca esse diferencial em relação às outras fazendas da UFU.

No futuro, conforme o projeto estabelecido para o Campus Glória, a área da fazenda pertencente à UFU compreenderá a estrutura planejada para o campus. “Essa ocupação vai demorar acho que uns 40 ou 50 anos, porque existe uma necessidade de recurso para isso. A universidade fez um projeto para o futuro”, conclui Martins.

Represa existente na Fazenda Experimental do Glória demarca a divisão das áreas pertencentes à Fundação de Assistência, Estudo e Pesquisa de Uberlândia (aproximadamente 270 hectares) e a UFU (mais de 300 hectares), embora toda área seja ocupada devido à existência de um convênio entre as duas partes. (Foto: Milton Santos)

A Fazenda Experimental do Glória já foi tema da versão impressa do Jornal da UFU, de um episódio do “Tour pela UFU”, no “Canal da UFU” no YouTube, e de uma matéria do Comunica UFU quando o local completou 40 anos e recebeu a visita do professor Luiz Antônio de Castro Chagas, o responsável por pautar a transformação das terras em uma fazenda escola. O espaço, que é aberto para visitações de todas as pessoas interessadas na prática do ensino, pesquisa e extensão, funciona de segunda a sexta-feira, das 7h às 11h e das 12h às 16h.

Para mais informações e/ou fazer agendamentos, é possível entrar em contato via e-mail: mauricio.martins@ufu.br. Martins ressalta que as fazendas existem justamente para dar esse apoio, mas que a demanda aumentou após a matéria do Comunica UFU na Fazenda Experimental Água Limpa e que por isso os pedidos estão sendo encaminhados aos gerentes das fazendas para realizarem a programação. “O ideal seria as pessoas procurarem durante a semana, porque as fazendas não têm atividade no sábado e domingo. Para receber alguém nesses dias, que seria mais fácil para o visitante, aí teria que ser uma agenda combinada com o gerente”, finaliza.

 

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