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Podcast

5 fatos que precisamos saber sobre meio ambiente no Dia da Terra

Pesquisadores da UFU falam sobre a possibilidade de conciliar os interesses humanos com a preservação ambiental

Publicado em 19/04/2022 às 11:22 - Atualizado em 22/08/2023 às 16:39

Episódio #43 do podcast Ciência ao Pé do Ouvido, publicado nesta terça-feira, aborda Dia da Terra: interesses humanos x ambiente sustentável. (Arte: Ludimila de Castro)

22 de abril é conhecido como Dia da Terra. A data foi criada em 1970 para promover a preservação do meio ambiente. Por isso, nesta semana, a Universidade Federal de Uberlândia (UFU), por meio da sua Divisão de Divulgação Científica, produziu um podcast sobre a temática ambiental e reuniu pesquisadores da universidade que trabalham com o assunto. Abaixo, confira cinco coisas que precisamos saber sobre meio ambiente neste Dia da Terra.

 

1. A ONU reconhece o meio ambiente limpo e saudável como um direito humano universal

Os direitos humanos universais dizem respeito às condições mínimas de dignidade humana (Foto: Pixabay)

No dia 8 de outubro de 2021, o Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) reconheceu o acesso ao meio ambiente saudável e sustentável como um direito humano universal. Essa resolução foi resultado da luta de ativistas e de debates durante décadas, considerando-se que negociações intergovernamentais e discussões sobre o assunto têm sido travadas desde 1972, de acordo com dados oficiais da ONU.

A professora Isabela Garbin, da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), é doutora em Relações Internacionais e fez uma fala na campanha “Explicando o Clima”, do Centro de Informação das Nações Unidas para o Brasil (UNIC Rio), abordando o impacto dessa aprovação para a realidade ambiental dos países. Garbin é especialista em direitos humanos e, para ela, existe uma relação direta entre um meio ambiente saudável e a fruição dos direitos humanos. “Alterações climáticas, quando reverberam em desastres ambientais, colocam em ameaça direitos civis básicos à habitação, à nutrição, à hidratação, e também direitos econômicos, sociais e culturais”, explica a doutora.

Além disso, as consequências das ações humanas sobre o meio ambiente, segundo Garbin, recaem sobre as populações mais pobres e que já se encontram em risco. “Na questão da alteração climática e desastres naturais, a gente vê um deslocamento forçado de pessoas, geralmente afetando populações mais vulneráveis, como povos indígenas, comunidades afrodescendentes e populações rurais”, afirma a especialista.

De acordo com a professora, a resolução aprovada é de caráter declaratório, sem obrigações acordadas para os países que fazem parte da ONU. No entanto, ela pode servir como base para decisões futuras, que deliberem ações práticas para mitigar a exploração da natureza e, consequentemente, da humanidade.

 

2. Estamos presenciando consequências diretas das ações humanas sobre o meio ambiente

O Museu do Catavento, em SP, discute consequências climáticas e o futuro das cidades na exposição 'O Dia Seguinte', em outubro de 2021. (Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil)

Não é de hoje que se tem falado sobre os impactos das ações humanas sobre o meio ambiente. São impactos no clima, nas chuvas, na quantidade de água potável disponível, na qualidade do ar que respiramos, na preservação das florestas. No entanto, tudo isso pareceu, por muito tempo, um papo que poderia ser deixado para depois. Mas, na verdade, nunca pôde. É o que esclarecem alguns pesquisadores da UFU.

O biólogo Luís Paulo Pires, técnico da Diretoria de Sustentabilidade da UFU, fala sobre um dos maiores indicadores dos problemas ambientais: a mudança climática. “O aquecimento global não é uma coisa que vai acontecer. Já é real. A Terra já está mais quente. E até o final desse século ela vai ficar ainda mais quente. A nossa janela de oportunidade de ação é o quanto mais quente ela vai ficar. O cenário ‘menos pior’, de acordo com o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU, é de 1.5º mais quente até o final do século, que a gente já sabe que a gente não vai conseguir”, afirma o biólogo. Segundo ele, já existe a certeza de que a Terra vai ficar ainda mais quente.

Já a professora Isabela Garbin explica o porquê de ter demorado tanto para termos ações concretas sobre a mitigação desses impactos ambientais. “Os alertas climáticos e ambientais já vêm sendo lançados há muito tempo. Mas, antes, existiam muitas dúvidas se esses alertas eram reais. Demandou muito trabalho para demonstrar cientificamente que as ações humanas produziam efeitos perversos na natureza”, explica a especialista em direitos humanos.

 

3. Os eventos climáticos extremos presenciados nos últimos anos têm a ver com as ações humanas

Morro da Oficina, em Petrópolis, RJ, foi o local mais atingido pelas enchentes em março de 2022. (Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil)

Apesar de as discussões sobre meio ambiente sustentável já estarem sendo feitas há muitos anos, ainda existem grupos de pessoas que duvidam da relação entre o desequilíbrio ambiental e as ações humanas. Nas redes sociais, não é difícil encontrar pessoas não especializadas, figuras públicas e até mesmo cientistas afirmando que o aquecimento global é apenas um processo natural, sem relação com a poluição, desmatamento, ou queima de combustíveis fósseis.

No entanto, o biólogo Luís Paulo Pires e o economista ambiental da UFU Marcos Henrique Godói explicam que as catástrofes ambientais e climáticas presenciadas atualmente são intensificadas pelas ações danosas dos seres humanos. “Existem alguns fenômenos naturais que são chamados de eventos climáticos extremos. Eles estão dentro de uma média de eventos que acontecem ao longo do tempo, ocorrendo uma vez a cada muitos anos. O que nós estamos vendo é justamente que esses eventos climáticos extremos estão acontecendo com mais frequência”, explica o biólogo.

Mais de quais eventos estamos falando? No dia 16 de janeiro, por exemplo, a avenida Rondon Pacheco, em Uberlândia, MG, foi inundada mais uma vez pelas fortes chuvas. Ocorreu o alagamento de um hospital, carros foram arrastados e pedaços de asfalto foram arrancados. Esse evento, no entanto, não é isolado, e acontece quando há chuvas fortes na cidade. Godoi explica que o aumento na intensidade das chuvas é influenciado pelo aquecimento global: "Quanto mais a atmosfera aquece, mais vapor de água ela segura. E aí, quando vai chover, chove muito”, afirma o economista ambiental.

Também houve deslizamentos de terra em Petrópolis, RJ, em fevereiro deste ano, com fortes chuvas, o que levou a Prefeitura dessa cidade a decretar calamidade pública. No dia 29 de junho de 2021, o Canadá, país com clima temperado, bateu um recorde de 49,6º C. Na mesma época, no Brasil, um país tropical, foi registrada a mínima de -5,1º C no Rio de Janeiro, cidade conhecida pelas altas temperaturas.

Além disso, o acontecimento que fez o mundo parar nos últimos dois anos foi a pandemia de covid-19, iniciada no final de 2019, na China, e que se espalhou por todo o planeta, levando mais de 6 milhões de pessoas à morte. A pandemia foi causada por um coronavírus que ainda não havia sido registrado em humanos, apenas em alguns animais. Existem hipóteses de que o desmatamento pode contribuir para o surgimento de novas doenças em humanos, em decorrência da migração de animais silvestres para locais urbanos.

De acordo com Godói, não podemos afirmar que a pandemia de covid-19 foi causada por questões ambientais, mas que ações humanas podem aumentar a frequência de eventos extremos. O economista ambiental usa uma analogia de jogo de dados para explicar a ocorrência de catástrofes, ressaltando que, quando o assunto é a natureza, não existe uma relação direta de causa e consequência. “As pessoas estão acostumadas a pensar em termos causais. Eu faço isso, acontece aquilo. Agora, se eu jogo mais energia no sistema, ele funciona mais rápido, e é como se eu jogasse cada vez mais dados, e aí vai saindo cada vez mais resultados extremos”, afirma.

 

4. A agropecuária não precisa ser inimiga do meio ambiente sustentável

Represa natural na Fazenda do Glória da UFU, onde existem plantações de soja, milho, sorgo e café, além da criação de gado. (Foto: Milton Santos)

É muito comum lidar com a ideia de que a agricultura e a pecuária são antagônicas ao desenvolvimento sustentável. Essa é uma crença presente na cultura brasileira, que leva em consideração, por exemplo, o desmatamento feito antes de se iniciar uma nova plantação. Mas a agropecuária não precisa ser considerada a vilã da história. “Nós precisamos considerar que o número de habitantes no nosso planeta está aumentando todos os dias. Então, não é possível parar de produzir. É preciso que se consiga utilizar cada vez mais técnicas que a pesquisa já provou que é possível utilizar em benefício da natureza”, afirma o pesquisador Reginaldo de Camargo, professor de Gestão Ambiental na agricultura, no curso de Agronomia.

De acordo com Camargo, é possível produzir alimento para toda a população por meio de uma gestão ambiental sustentável, e medidas para isso já estão sendo tomadas em muitos setores. No entanto, os passos ainda são lentos por vários outros fatores. “A produção animal ou vegetal é um processo que utiliza recursos ambientais. Hoje, cada vez mais, as empresas estão produzindo menos produtos danosos para o meio ambiente. Cada vez menos os produtos ‘tarja vermelha’ (muito nocivos) têm sido encontrados no mercado. Mas tudo passa por uma vontade política”, pondera o professor.

Além disso, Camargo explica que é necessário que os poderes públicos fiscalizem e priorizem a sustentabilidade, em detrimento aos demais interesses. “O ser humano já percebeu que a natureza responde à altura toda e qualquer agressão que é feita a ela. O que falta é que o aspecto ambiental se sobreponha cada vez mais aos interesses econômicos. É preciso que nós tenhamos políticas de estado pré-definidas que perdurem entre diferentes governos. Não é preciso conciliar agricultura e meio ambiente, é preciso conciliar política e meio ambiente”, finaliza o especialista em Agronomia.

 

5. A UFU está trabalhando para melhorar este cenário

Adubo organomineral produzido pela UFU a partir do lodo de esgoto. (Foto: Divulgação Geociclo)

Agora que já entendemos a urgência de medidas concretas para melhorar a situação ambiental do planeta, vamos falar sobre o que já está sendo feito para alcançar a sustentabilidade ambiental. As ações passam pelas esferas pública, privada e individual, e precisam ser feitas por todos. Na UFU, existem projetos que solucionam questões ambientais na região. É o caso do Grupo de Pesquisas em Fertilizantes Especiais (GPFE), do curso de Agronomia.

Uma das questões ambientais é o que fazer com os dejetos e produtos descartados pela população, que, como já falado, cresce cada dia mais. O lixo vai para os aterros sanitários e, muitas vezes, demoram anos para se decompor. No entanto, outro subproduto se torna um problema: o esgoto. Jogar o esgoto que sai das casas das cidades na água polui os rios, gerando consequências futuras. Para evitar isso, existe o tratamento de esgoto, que, na cidade de Uberlândia, é feito pelo Departamento Municipal de Água e Esgoto (Demae). O esgoto, quando tratado, é separado em duas partes: a parte líquida, que é devolvida para os rios e mares, e a parte sólida: o lodo de esgoto. Esse subproduto costuma ser levado aos aterros sanitários, o que pode poluir o solo.

É aí que entra o trabalho desenvolvido pela UFU. O grupo de pesquisa realiza, há mais de sete anos, estudos sobre como aproveitar este material de forma sustentável. A resposta é: como adubo. O GPFE, recentemente, publicou um artigo na Revista Plos One, uma das cinco mais importantes do mundo na área de Ciência e Medicina, com os resultados do fertilizante na plantação de cana-de-açúcar.

O professor Reginaldo de Camargo, coordenador do grupo de pesquisa, conta sobre como o adubo organomineral, com base em lodo de esgoto, é feito. “Após o tratamento pela estação, nós pegamos este resíduo, levamos para uma estrutura e fazemos um novo tratamento, para reduzir ainda mais a carga de microorganismos, de forma que ele possa ser utilizado de forma segura como fertilizante. Misturamos esses resíduos com uma fonte concentrada de nitrogênio, de fósforo e de potássio”, relata o especialista.

De acordo com Camargo, foi utilizado o adubo organomineral por dois anos na indústria de cana-de-açúcar, e os resultados foram tão bons quanto adubos totalmente minerais, convencionalmente utilizados, e a produção foi, ainda, 5% maior que a convencional. Com isso, é feita uma atividade de reciclagem de um material que seria descartado, e a produção agrícola é fortalecida. Além disso, Camargo explica que essa produção é vantajosa no momento atual que estamos vivendo. “Nós estamos atravessando agora um momento em que os países de maior produção de fertilizantes do mundo estão em Guerra. Cada vez mais tem-se buscado uma alternativa para substituir, em parte, o adubo completamente mineral”, afirma.

 

Gostou desse conteúdo? Saiba mais sobre preservação do meio-ambiente no episódio #43 do podcast Ciência ao Pé do Ouvido na sua plataforma de streaming favorita.

 

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