Publicado em 24/02/2023 às 09:09 - Atualizado em 05/09/2023 às 19:19
Pesquisadora em sua apresentação no II Seminário de Pesquisa da UFU (Foto: Marco Cavalcanti)
Imagina que seu gosto por um gênero específico de filmes, como romance, terror ou comédia, levasse você a ser um pesquisador. Foi isso que aconteceu com Giovanna Abelha Rodrigues. A graduanda de 25 anos está no sexto período do curso de Jornalismo na Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e estuda cyberpunk e pós-modernismo.
Logo no início do curso, a aluna descobriu e se interessou pelo Grupo de Pesquisa em Narrativa, Cultura e Temporalidade (Narra), liderado pelos professores Nuno Manna e Nicoli Tassis. O grupo é registrado no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e se dedica à investigação da comunicação a partir de estudos da narrativa, da cultura e da temporalidade.
Devido à sua afinidade com ficção científica, Abelha decidiu integrar a equipe. Diferente de alguns grupos, no Narra é preciso fazer uma pesquisa por meio da Iniciação Científica (IC) Voluntária, com a possibilidade de se tornar uma IC com bolsa pelo Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic). “A ideia de escrever sobre cyberpunk veio de uma conversa que a gente teve, porque eu já tinha interesse por filmes e ficção científica e buscando afunilar um pouco, fui para essa temática porque é um subgênero da ficção científica”, explica a pesquisadora.
Abelha e integrantes do Grupo Narra (Foto: Marco Cavalcanti)
Ao longo da pesquisa, Abelha percebeu que o tema ainda estava muito abrangente, pois estudava como o subgênero era trabalhado e se transformou ao longo do tempo. Desse modo, ela decidiu afunilar ainda mais e passou a focar no pós-modernismo, usando os filmes Blade Runner, de 1982 e 2015, como objeto de estudo. Por meio da sua pesquisa, ela percebeu que o pós-humanismo é algo intrínseco, porque trata sobre os avanços tecnológicos e a miséria humana.
“Quando pensamos em tecnologia, pensamos muito nas melhorias que ela traz para nossa vida, como na saúde, no conforto, na forma de produção e no nosso dia a dia. Mas no cyberpunk, por causa da época em que foi criado, ela está muito associada à miséria humana, às guerras, então, ao invés da tecnologia surgir para melhorar a vida, ela surgiu para causar mais problemas na sociedade”, exemplifica em relação à sua pesquisa.
O Narra também faz extensão através de um perfil no Instagram. O diferencial é que ele utiliza a plataforma para fazer divulgação científica. E de divulgação científica Abelha entende bem. A futura jornalista fez parte da primeira edição do projeto UFocas, criado pela Diretoria de Comunicação Social (Dirco/UFU), que tem o objetivo de ampliar os espaços de formação prática para os estudantes de Jornalismo da UFU. Graças ao projeto, a estudante pôde atuar junto à Divisão de Divulgação Científica da universidade.
Abelha junto à equipe da Divisão de Divulgação Científica da UFU durante o 4º Prêmio Triângulo de Comunicação (Foto: Arquivo pessoal)
Leia abaixo a entrevista da pesquisadora para a série Mulheres e Meninas na Ciência, do portal Comunica UFU:
Quem é você na plataforma Lattes?
Meu Lattes transparece muito o que sou enquanto universitária atualmente, não tanto como, ainda, pesquisadora, porque apenas comecei e finalizei essa pesquisa sobre pós-humanismo, cyberpunk e Blade Runner. Nele tem muitos conteúdos que escrevi no curso, de projetos que participei, acho que é um Lattes bem dinâmico, caracteriza bem o que fiz na universidade, já que fiz um pouco de cada coisa. Mas eu acho que ele não traz muito o que vem por aí, apesar de eu já ter isso formado na minha cabeça. Eu acho que reflete muito o que eu sentia até então, eu queria fazer um pouco de tudo para agora no final do curso eu ter uma ideia do caminho, de fato, que eu quero seguir.
Qual foi a primeira vez que passou pela sua cabeça a ideia de ser uma pesquisadora?
Isso é até engraçado, porque eu nunca pensei em ser pesquisadora. Antes de entrar na universidade eu tinha muita dificuldade em decidir o que eu queria fazer, porque, assim como na faculdade eu gosto um pouco de tudo, na escola não era muito diferente, tudo parecia muito interessante e eu tinha muita dificuldade em escolher o que eu queria cursar, tinha receio de fazer algo que me limitasse. Acabei escolhendo o Jornalismo porque percebi que na profissão eu tinha várias possibilidades de fazer coisas diferentes, mas eu nunca havia pensado em pesquisar, porque na minha cabeça, por incrível que pareça, não tinha essa possibilidade de pesquisar na área de humanas, porque acho que falta um pouco falar sobre isso nas escolas.
A gente tem muito a noção de que a pesquisa é mais focada na parte da ciência ou das exatas, porque elas têm esse material mais palpável de um resultado, o que nas humanas não necessariamente tem, às vezes é um resultado mais interpretativo ou de revisão. Então, não era próximo da minha realidade pensar que fazer um curso de humanas ou de ciências sociais [aplicadas] me daria a possibilidade de ser pesquisadora. Só comecei a pensar nisso quando comecei a namorar. Meu namorado faz Biologia e ele fazia Iniciação Científica. Conversando com ele achei super interessante. Ele foi me ajudando, então comecei a ir atrás de grupos de pesquisa e de como funciona a pesquisa na área de humanas.
Como era a sua relação com a ciência quando você era criança?
Ela não era muito forte, acho que até por isso eu demorei para pensar em fazer pesquisa e só fui começar quando já estava na faculdade e quando comecei a conviver com pessoas que sabiam o que era isso. Na minha infância, eu não era muito boa em ciências no geral, mas quando criança eu era muito curiosa e antes de tudo acho que você ser curioso é um grande fator que te define como um pesquisador.
Você tem alguma boa história que já vivenciou como cientista e que quando conta todo mundo acha interessante? Poderia nos contar também?
Algumas coisas depois que entrei no Narra foram impactantes para mim. Uma delas foi a apresentação da minha pesquisa no seminário da UFU. Inclusive foi a Renata Neiva [diretora de Comunicação da UFU] quem me avaliou, então fiquei muito nervosa e foi gratificante ter esse momento, porque foi uma situação de finalização e término de ciclo e me marcou bastante. Foi muito um sentimento de “ufa, passei por isso, amadureci, fiz pesquisa, me desafiei e aprendi coisas que eu nunca imaginei que iria aprender”. Inclusive, agora, estou muito mais madura enquanto pesquisadora. Agora é algo consciente.
Como foi sua participação no projeto UFocas?
O que foi mais importante para mim foram as experiências que eu tive para além do que a gente aprende dentro da sala de aula e que puderam me aproximar um pouquinho da experiência de um estágio sem mesmo estar em um estágio. A noção que a gente tem de produção dentro e fora da universidade é bem diferente e participar do projeto me ajudou muito nesse sentido, porque quando entrei fui para a Divisão de Divulgação Científica e lá eu tinha a supervisão dos jornalistas que me ajudavam com as diversas coisas e isso me preparou para o estágio. Inclusive, consegui meu estágio atual por recomendação de pessoas que conheci no projeto.
Do que precisamos para ter mais meninas e mulheres na ciência?
Acho que principalmente o que impacta em não ter tantas mulheres e meninas interessadas na pesquisa e na ciência é o fato do sistema educacional e da universidade, principalmente antigamente, serem muito focados, infelizmente, numa figura masculina, europeia e branca. Então, quando a gente estuda, estamos muito de frente com esses autores em que a gente não se reconhece, então a gente nem coloca na nossa cabeça que existe a possibilidade de você estar ali um dia, naquela posição que eles assumiram. Acho que devam existir projetos que levem essas pesquisadoras para falarem das suas pesquisas, exatamente como vocês estão fazendo; os grupos de pesquisa se organizarem para irem às escolas ou fazerem alguma feira aberta para a comunidade; ter mais divulgação nas redes sociais; e falar mais sobre. Hoje, apesar de ainda não ser o que a gente quer, felizmente, temos mais mulheres na ciência, então falta muito dar destaque e redefinir esse pensamento e imagético que criamos sobre quem é cientista.
Por fim, qual mensagem você pode deixar para quem tem interesse em pesquisa, mas não sabe como iniciar?
Tenho duas dicas. A primeira é: converse muito com os professores que você tem, seja na universidade ou escola, que, inclusive, não era uma coisa que eu sabia que eu tinha possibilidade de fazer. Vá atrás, leia editais, se inscreva. Se der errado, deu; se der certo, melhor ainda, mas tenta. A segunda é: se pergunte, quais grupos de pesquisa existem na universidade? Mande e-mail para a coordenação, veja se existe alguma lista e como fazer parte. E se você não entrar em um grupo, você não está impedido de fazer uma iniciação científica.
A série "Mulheres e Meninas na Ciência" será publicada no portal Comunica UFU até 8 de março, Dia Internacional das Mulheres. Acompanhe para conhecer outras meninas e mulheres que fazem pesquisa na UFU!
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Palavras-chave: Série Mulheres e Meninas na Ciência Jornalismo Cyberpunk iniciação científica
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