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Dia da Ciência

Série Cientistas da UFU: Iago Caubi

Mestrando em Relações Internacionais concilia trabalho, estudo e sonhos: ser professor e ver mais indígenas na universidade

Publicado em 10/07/2023 às 13:47 - Atualizado em 22/08/2023 às 16:38

Caubi estuda desenvolvimento do Nordeste e relações com a China. (Foto: Arquivo pessoal / Arte: Ludimila de Castro)

 

O dia de Iago Caubi, mestrando no Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais da Universidade Federal de Uberlândia (PPGRI/UFU), começa como o de muitos pesquisadores. Ele reserva as manhãs para trabalhar em sua pesquisa sobre o desenvolvimento econômico da Região Nordeste e as relações com a China. 

Além de escrever a dissertação, é quando ele se reúne remotamente com seu orientador, o professor Niemeyer Almeida Filho, e participa dos encontros do Núcleo de Pesquisa de Geopolítica, Integração Regional e Sistema Mundial da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Frequentemente dá entrevistas para a imprensa, por exemplo, sobre o sistema político do Catar, o conflito entre Rússia e Ucrânia e a participação do Brasil no cenário internacional.

 

Clique na imagem para assistir à entrevista no canal O Povo Online. (Imagem: Reprodução do YouTube)

 

No fim da manhã, ele deixa as pesquisas e a casa em que mora com a família, numa área de ocupação na periferia de Fortaleza (CE), e bate ponto ao meio-dia em uma empresa financeira, onde trabalha com gestão de contratos e pagamentos. O trabalho não tem relação com sua formação, como graduado em Relações Internacionais pela UFU, mas paga mais que a bolsa de mestrado que ele tinha conquistado e que estava sem reajuste há 10 anos. A renda de Caubi importa para o orçamento familiar.

Na certidão de nascimento e na plataforma Lattes, ele é Iago Nunes da Silva. Caubi chegou na infância e deve ficar para sempre. “Caubi surge em um processo de descobrimento étnico meu, em que eu descobri minha ancestralidade indígena”, explica. Caubi é o irmão de Iracema, personagem do romance publicado por José de Alencar em 1865. “Eu tinha uma ligação já com esse nome desde pequeno, quando eu participei de uma peça de teatro onde eu interpretei esse personagem e me identifiquei muito com ele pela história. Eu me dei esse nome e em breve pretendo também adicionar à minha certidão”, revela.

 

Iago Caubi gosta de mares e rios. Aqui, com o Rio São Francisco. (Foto: Arquivo pessoal)

 

O reencontro com a ancestralidade se fortaleceu durante a graduação na UFU. Iago Caubi chegou a Uberlândia em 2016. “A partir do momento que eu entrei e dei de cara com uma realidade completamente diferente da minha. Eu não conhecia ninguém; eu cheguei esperando receber uma bolsa, porque eu não tinha condições. Foi um período de muita dificuldade e, ao mesmo tempo, eu me encantei com essa realidade”, recorda. Caubi foi cotista e bolsista do Programa Bolsa Permanência e do Restaurante Universitário e afirma: entrou e concluiu a graduação graças às políticas públicas.

Ele recorda que, na universidade, passou a ter conversas diferentes das que tinha com os vizinhos. “Eu fui para estudar e, aí, eu vivi a UFU. Eu vivia mais tempo na universidade do que fora. Eu entendi que era possível observar o mundo de uma forma muito mais complexa e isso foi me deixando muito feliz, porque eu não sabia que era possível chegar a certos espaços e ter o domínio sobre conhecimentos que até então eu desconhecia.” No fim da graduação, devido à pandemia de covid-19, ele voltou para Fortaleza e de lá iniciou o mestrado ainda no período de aulas remotas.

O pesquisador investigou as próprias origens e descobriu que parte da sua família é da etnia Jenipapo-Kanindé. Mas é difícil, para um indígena, fazer sua árvore genealógica em um país que apagou muitos registros dos povos originários e também dos povos escravizados. No Ceará, por exemplo, em 1863, o então presidente da província, José Bento da Cunha Figueiredo Júnior, declarou ao governo imperial que a população indígena estava extinta. Hoje, existe uma legislação estadual, a Lei 17.165 de 2020, que reconhece a existência, a contribuição e os direitos dos povos indígenas no estado do Ceará. São 14 povos que vivem em 18 municípios.

 

Cacica Kawany Tupinambá e Iago Caubi no Glória, em Uberlândia. Eles desenvolveram trabalhos sociais em promoção dos povos e direitos indígenas na UFU e outras instituições públicas. (Foto: Arquivo pessoal)

 

Às nove da noite, Caubi encerra o expediente na empresa e estuda mais um pouco antes de dormir. “É um desafio muito grande chegar do trabalho cansado, com a cabeça numa coisa, e tentar realocar para uma outra coisa bem mais teórica, bem distante daquilo que eu passei o dia trabalhando, e ainda assim conseguir produzir algo.” Ele diz que as dificuldades o fazem respeitar muito o título de pesquisador e, especialmente por ser formado pela universidade pública, busca conciliar os três pilares: ensino, pesquisa e extensão. 

“Quando sou chamado de pesquisador, eu acredito que há uma obrigação minha de dar um retorno à sociedade. Por exemplo, participando dessas reportagens, conseguindo trazer uma análise sobre a minha área, em um espaço que geralmente não era ocupado por pessoas assim. Eu estou levando um conhecimento que estava centralizado e que poucos têm acesso, principalmente daqui de onde eu venho, para outras pessoas. E tentar que essas outras pessoas também se encorajem.” Caubi ressalta que não quer ser “aquele pesquisador que fica sentado de frente a um notebook escrevendo coisas paralelas à realidade material.”

Nos dias possíveis, ele vai à praia: “Nem que seja para ficar olhando o mar porque me traz calma”. Quando pensa adiante, deseja uma maior valorização da pesquisa no Brasil, porque acredita que ela é fundamental para um país se desenvolver econômica e socialmente, e que haja maior inclusão nas universidades. “Eu espero, no futuro, que isso aconteça até para eu me manter nesse setor. Tenho pretensões de fazer um doutorado. Hoje, um sonho que eu tenho é poder ser professor de universidade e dar seguimento a essas percepções que eu tenho formando novos pesquisadores.”

 

Graduação em Relações Internacionais foi concluída em 2021. (Foto: Arquivo pessoal)

 

8 de julho é o Dia Nacional da Ciência e do Pesquisador, instituído pelas leis 10.221 e 11.807. A data foi escolhida em homenagem à fundação da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em 8 de julho de 1948. O objetivo é destacar a importância da ciência para a sociedade e divulgar os trabalhos feitos pelos pesquisadores brasileiros. Em comemoração ao 8 de julho, em todas as segundas-feiras deste mês, o portal Comunica UFU publica a série “Cientistas da UFU”, em que apresentamos alguns de nossos pesquisadores em diferentes etapas de formação. Acompanhe!

 

 

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