Publicado em 24/08/2020 às 14:08 - Atualizado em 22/08/2023 às 16:52
O estudo descreveu compostos que já foram testados em culturas de células, em modelos animais e/ou ensaio clínico. (Foto: Freepik/crowf)
Um artigo publicado por cientistas do Laboratório de Virologia da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), em 13 de agosto, na revista FRONTIERS IN MICROBIOLOGY, traz uma seleção de substâncias que já apresentaram atividades contra coronavírus humanos e animais. Para chegar a essa seleção, os pesquisadores mapearam as pesquisas sobre diferentes coronavírus publicadas nos últimos 15 anos.
O estudo descreveu compostos (substâncias compostas por dois ou mais elementos) que já foram testados em culturas de células (in vitro), em modelos animais (in vivo), e/ou ensaio clínico (testes com pessoas). Os cientistas observaram se esses compostos apresentaram atividades contra Sars-Cov-2 (causador de Covid-19) e outros coronavírus, demonstraram quais etapas do ciclo replicativo viral foram inibidas, compararam esses compostos e sugeriram quais podem ser candidatos ao uso em tratamento contra a Covid-19.
"Hoje nós temos o foco dividido em produção de antivirais e de vacinas. O foco está muito em vacina, porque é o mais urgente, mas nós temos que ter o foco também em antivirais para tratar as pessoas que já estão infectadas", explica um dos autores do artigo, o doutorando Igor de Andrade Santos, do Programa de Pós-Graduação em Imunologia e Parasitologia Aplicadas (Ppipa). "Nós temos muita informação que é publicada todos os anos. A partir desse artigo, conseguimos dar um mapa, um caminho, para as pessoas que estão trabalhando agora", completa.
O trabalho foi produzido a partir de uma colaboração entre alunos do Ppipa e da pós-graduação em Odontologia (PGO), ambos da UFU, e da pós-graduação em Microbiologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp), com a orientação de professores do Instituto de Ciências Biomédicas e Instituto de Química da UFU.
Os resultados
Arte: Marcel Arantes
Os compostos testados in vitro que apresentaram bons resultados, de acordo com o levantamento, foram: glicirizina, 2-acetamido-a-d-glucopyranosylamine derivative, tetrahydroquinoline oxocarbazate (CID 23631927), emodina, eremomicina 27 e 29, mucroporina-M1 e anticorpos monoclonais 47D11. Nos testes in vivo, tiveram resultados mais promissores: griffithsin (GRFT), b-D-N4-hydroxycytidine (NHC), TP29, ciclosporina A (CsA), alisporivir, saracatinib, tizoxanida, nitazoxanida, niclosamida e ribavirina.
Segundo o artigo dos pesquisadores da UFU e da Unesp, mais recentemente, estão acontecendo testes clínicos com os seguintes compostos: remdesivir, lopinavir/ritonavir, umifenovir, IFN-beta, corticoesteroides, ivermectina, tocilizumab, cloroquina e plasma convalescente. Os melhores resultados até agora foram para IFN-beta, corticoesteroides e tocilizumab.
Quase todos esses nomes não fazem parte do nosso vocabulário cotidiano, mas Santos explica que alguns desses compostos já são utilizados para tratar doenças conhecidas, como ebola, herpes e hepatite, o que facilita a investigação científica. "Se você quiser fazer um ensaio clínico, já conhece toda a viabilidade desse composto, o que ele faz no nosso corpo, quais são os efeitos adversos, quais as interações que ele pode ter com algum alvo que a gente não queira, como ele é tóxico para o nosso corpo. Então, a gente vai avaliar se ele consegue melhorar a infecção, diminuir a carga viral, que é a quantidade de vírus no indivíduo infectado, ou não."
Não se alegre ainda
Recentemente EXPLICAMOS AQUI, NO COMUNICA UFU, por que é tão difícil combater um vírus sem acabar fazendo mal à pessoa: o vírus é tão dependente da célula infectada que, ao interromper uma atividade metabólica dele, é grande a chance de atrapalhar o metabolismo dela também.
Santos alerta que substâncias como a cloroquina, a ivermectina e a hidroxicloroquina ganharam visibilidade durante a pandemia de Covid-19 por serem medicamentos baratos e facilmente encontrados, mas utilizá-las sem termos uma comprovação científica para aquele fim pode causar complicações ao indivíduo. "Eu não acredito que elas tenham atividades antivirais, porque todos os dados que temos hoje até em cultura de células, que é o mais básico, as concentrações de medicamentos que precisam atingir no nosso sangue, nos nossos tecidos, seria muito alta. Sem contar que nós temos muitos efeitos colaterais. Problemas gastrointestinais, cardiovasculares, até complicações neurológicas."
O artigo do Laboratório de Virologia da UFU publicado neste mês traz ainda outros motivos para cautela. "Existem muitos compostos que foram testados somente em cultura de células, o que complicou um pouco a situação, porque a gente precisa ter esses ensaios in vivo", afirma o doutorando do Ppipa.
"Nós não estávamos preparados para produzir conhecimento e dados para um vírus respiratório como coronavírus, porque não temos modelos efetivos para avaliar a atividade desses compostos, por não termos laboratórios suficientes com nível de biossegurança, não termos protocolos que garantam a segurança do pesquisador, dos animais e do meio ambiente", explica.
Hoje, o tratamento da Covid-19 tem muitos focos, para tratar diferentes sintomas, como febre e problemas de coagulação sanguínea, e controlar as respostas imunológicas do organismo. Nesse sentido, Santos acredita que as pesquisas demonstrarão que o tratamento contra o coronavírus deverá ser feito com uma associação de medicamentos, como ocorre com o HIV e com o vírus da hepatite C, por exemplo, e não com um único composto.
Clique na imagem para ler o artigo. (Foto: Reprodução Frontiers in Microbiology)
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Palavras-chave: coronavírus Virologia UFUContraOCorona COVID-19 Ciência Divulgação Científica
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