Publicado em 16/11/2021 às 14:29 - Atualizado em 22/08/2023 às 16:51
Giulia Ferreira, Igor Santos, Victoria Grosch e Ana Carolina Jardim integram o Laboratório de Pesquisa em Antivirais da UFU (Foto: Milton Santos)
Um artigo publicado pela revista científica Microbiology Society (Reino Unido) busca explicar como as potenciais alterações virais podem ter afetado ou contribuído para o cenário atual e futuro da covid-19 no Brasil.
O grupo de brasileiras e brasileiros envolvidos na pesquisa é composto por cientistas de diferentes instituições brasileiras, Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs), vinculado à Fiocruz Bahia, Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM) e Universidade Estadual Paulista (Unesp).
“O grupo selecionou amostras coletadas no Brasil, de maio a setembro de 2020, para avaliar qual foi a dinâmica dos genomas desse vírus ao longo do tempo, como mutações foram surgindo e puderam impactar tanto o momento inicial da pandemia quanto momentos futuros”, explica a pesquisadora Ana Carolina Gomes Jardim, da UFU.
Metodologia e recorte
Para esta explicação foram utilizadas 720 sequências do genoma SARS-CoV-2 no site do Global Initiative on Sharing All Influenza Data (GISAID), que têm como filtro o período entre maio e setembro de 2020, com base nos resultados dos testes swab (nasal) em todas as regiões do Brasil.
O objetivo deste trabalho coletivo de cientistas foi analisar mudanças genéticas (mutações) nos genomas do SARS-CoV-2 que poderiam afetar o curso da pandemia. Neste estudo foram aplicados cinco procedimentos metodológicos cruzados.
A pesquisadora Larissa Catharina Costa, biomédica e bioinformática e atualmente pós-doutoranda (PhD) pelo Cidacs, explica os desafios superados pelo estudo e descreve as metodologias do trabalho.
“A primeira metodologia aplicada foi para a obtenção dos genomas virais de SARS-CoV-2 para conseguirmos montar um conjunto de genoma do vírus circulantes no Brasil. Essa coleta da amostra foi realizada via resultados de swab, os populares ‘testes nasais’ realizados pelo SUS. A segunda metodologia é o alinhamento de sequências; isso vai representar a evolução das sequências genômicas do vírus ao longo do tempo, considerando a possibilidade de ocorrerem diferentes eventos de mutação. A terceira metodologia que vai complementar esse estudo é a análise de substituição de aminoácidos e pressão seletiva. O que realizamos foi uma caracterização das variações do SARS-CoV-2 no Brasil, traçamos sua dinâmica evolutiva e podemos identificar e localizar as partes da estruturas onde está ocorrendo a evolução”, detalha a pesquisadora.
A visualização do inimigo invisível
Essas três primeiras etapas metodológicas do estudo permitem o alinhamento de sequências. Assim é possível organizar estruturas primárias de DNA, RNA ou proteína para identificar regiões similares decorrentes de relações funcionais, estruturais ou evolucionárias entre elas. O pesquisador Artur Queiroz, do Cidacs, explica como a Bioinformática contribuiu para a finalização do estudo.
“A quarta etapa consistiu nas análises da estrutura secundária do coronavírus. O objetivo foi predizer e analisar as partes da molécula de mRNA chamadas de ‘não codificantes’. Essa etapa encontrou algumas mutações, mas nenhuma delas levou a uma mudança na conformação da estrutura secundária da proteína. Foi então aplicada uma última etapa. A quinta etapa são as análises filogenéticas, que vão determinar as relações evolutivas entre as sequências genômicas do SARS-CoV-2 com o intuito de entender como foi a sua dispersão das variantes no Brasil”, diz o bioinformata.
Exemplo de visualização da árvore filogenética utilizada na etapa final do estudo publicado (Imagem: Arquivo dos pesquisadores)
Os resultados permitem um melhor entendimento das cepas de SARS-CoV-2 que têm circulado no Brasil e, assim, com informações relevantes, fornecem as potenciais alterações virais que podem ter afetado ou contribuído para o cenário atual e futuro da pandemia de covid-19.
Discussão sobre as variantes
Desde o início da disseminação do novo coronavírus no Brasil, poucos estudos foram publicados analisando a variabilidade do genoma viral. Este novo estudo de novembro de 2021 descreve a dinâmica das cepas de SARS-CoV-2 em circulação no Brasil de maio a setembro de 2020, para melhor compreender as alterações virais que podem afetar a pandemia em curso.
A biomédica virologista Victoria Grosch, que é doutoranda em Microbiologia pela Unesp e faz parte da equipe que publicou o artigo, considera que, embora os nomes das variantes virais estejam em circulação na mídia, nem sempre o assunto é bem abordado. “É preciso, antes, deixar claro que mutações virais são normais e esperadas dentro de uma população viral”, afirma.
Grosch explica que, no caso do SARS-CoV-2, devido às proporções mundiais da pandemia, foi possível estudar atentamente (e concomitantemente) a mutabilidade desse vírus através do aumento do número de infectados. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o surgimento de novas variantes está relacionado a determinadas mudanças na sequência genética do vírus, que podem influenciar no aumento da transmissibilidade ou da gravidade da doença.
“No caso da variante Delta, por exemplo, os estudos demonstram que, apesar do aumento da transmissibilidade, não houve aumento da gravidade dos casos de covid-19 reportados. Por isso, os estudos de vigilância genômica, como o nosso, são importantes, pois contribuem para a identificação de possíveis mutações-chave que poderão contribuir para o surgimento de uma nova variante”, conclui Grosch.
O artigo da Microbiology Society completo pode ser acessado aqui.
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Palavras-chave: covid19 coronavírus UFUContraOCorona Virologia Ciência
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