Publicado em 26/03/2024 às 12:03 - Atualizado em 28/03/2024 às 11:15
E se eu jogar meu celular aqui do alto? E se eu der um grito no meio dessa reunião? E se eu morder o sabonete? E se eu empurrar essa pessoa na minha frente?
Quem nunca teve um pensamento assim? Aleatório e espontâneo, que parece não fazer muito sentido e que vem à mente em momentos estranhos? Esse jornalista que vos escreve não apenas já teve, como já cedeu a alguns deles. A internet está cheia de relatos e o assunto está em alta na antiga rede social do passarinho, mas será que ter esses pensamentos é algo normal? A partir de que momento eles podem ser uma preocupação? Alexandre Vianna Montagnero, professor do Instituto de Psicologia da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com experiência em Psicologia Cognitiva Comportamental, responde algumas perguntas para gente.
1 - Mais normal do que parece!
Quando falamos em pensamento intrusivo pensamos em coisas aleatórias, como apertar o botão de incêndio ou pular na frente de um carro. Muitas vezes isso não nos incomoda ou causa perturbação, pelo contrário, vemos eles até de uma forma engraçada. Montagnero destaca que pensar, de uma maneira geral, é uma habilidade humana, então estamos pensando o tempo todo, inclusive coisas estranhas.
“O que estamos chamando de pensamento intrusivo precisa ser mais bem definido. Esses pensamentos aleatórios são perfeitamente normais, seria estranho se nós, seres humanos, com habilidades simbólicas ilimitadas, não os tivessem. Basta olhar para os nossos sonhos, que no geral, são uma maluquice”, aponta o psicólogo.
2 - Tudo é pensamento!
Por que falamos pensamentos intrusivos? Se você está fazendo uma dieta, por exemplo, e começa a pensar naquele delicioso frango assado girando em uma máquina, isso pode ser considerado um pensamento intrusivo. Você não queria ter ele, ele apareceu de forma espontânea e até certo ponto pode te incomodar, já que você não quer cair em tentação. Mas cotidianamente as pessoas não consideram esse um pensamento intrusivo, e sim aqueles mais inusitados e aversivos, colocando algumas categorias específicas. O nome são as pessoas que dão, tudo o que pensamos é pensamento e é natural que os tenhamos!
3 - Mas a partir de que ponto esses pensamentos são preocupantes?
Montagnero traz a ideia de sofrimento, como apontam os manuais diagnósticos e estatísticos de transtornos mentais. “Se a ação ou comportamento faz a pessoa sofrer e tem um impacto na vida laboral dela, no trabalho, relações familiares, amizades, no cotidiano, na qualidade de vida, aí sim podemos dizer que existe um problema”, explica. Esse sofrimento não tem a ver com o conteúdo específico do pensamento, mas como cada pessoa reage àquele pensamento.
No exemplo anterior, para uma pessoa em dieta, pode ser normal pensar em um churrasco de vez em quando. Mas para alguém que já tem um transtorno, como compulsão alimentar, por exemplo, e esse pensamento desencadeia uma vontade excessiva, sofrimento, ou “ataques” constantes à geladeira, aí ele pode passar a ser um problema.
4 - Muito além dos pensamentos intrusivos…
Vale destacar que algumas pessoas já estão adoecidas, com transtornos mais severos de ansiedade, compulsivo-obsessivo, de estresse pós-traumático, quadros de depressão severa, entre outros. Para elas, esses pensamentos podem ser bem perturbadores. Pensar coisas esquisitas, todos nós pensamos, podemos até não admitir, mas para essas pessoas, esses pensamentos são percebidos e interpretados de uma forma muito aversiva. Por isso a importância de fazer um acompanhamento psicológico e evitar os auto-diagnósticos.
Esse também é o tema do episódio #104 do podcast Ciência ao Pé do Ouvido, que estreou nesta semana, onde conversamos mais detalhadamente com Montagnero. O episódio está disponível nas principais plataformas de podcast e também aqui no portal Comunica UFU.
Política de uso: A reprodução de textos, fotografias e outros conteúdos publicados pela Diretoria de Comunicação Social da Universidade Federal de Uberlândia (Dirco/UFU) é livre; porém, solicitamos que seja(m) citado(s) o(s) autor(es) e o Portal Comunica UFU.
Palavras-chave: Ciência ao Pé do Ouvido pensamento intrusivo Divulgação Científica Psicologia podcast
Política de Cookies e Política de Privacidade
REDES SOCIAIS