Publicado em 09/04/2024 às 13:16 - Atualizado em 18/04/2024 às 08:04
Cotidianamente, a bebida alcoólica é utilizada nos ambientes de lazer e socialização, mas até que ponto essa ingestão pode se tornar problemática ou até mesmo um vício? De acordo com Centro de Informações Sobre Álcool e Saúde (Cisa), uma dose padrão é de 14 gramas de álcool puro e um consumo moderado é a ingestão de duas doses em um único dia, o que equivale a aproximadamente duas latinhas de cerveja, ou uma taça de vinho, ou uma dose de cachaça.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o consumo problemático de álcool seria consumir quatro doses em uma ocasião no último mês. Isso quer dizer que o consumo pode causar um maior prejuízo para a saúde. Os dados do último levantamento do Cisa mostram que 27% dos brasileiros têm consumo moderado de álcool e 17% abusivo, mas 75% dos abusivos acreditam que são consumidores moderados.
Como forma de tratamento para o consumo problemático de álcool, tem-se usado a redução de danos, uma prática de profissionais de saúde focada na autonomia do sujeito em seu processo de cuidado, onde não há pessoas externas no controle. Por meio da redução de danos, há uma escuta qualificada e auxílio na compreensão da relação da pessoa com a droga, ao que ela responde e onde ela despotencializa o sujeito.
Fernanda Nogueira Campos, psicóloga e docente da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) tem experiência em redução de danos para usuários de álcool e outras drogas e explica um pouco do processo: “Criar juntamente com o sujeito estratégias de cuidado são imprescindíveis, pensando em um projeto singular de vida. As questões psíquicas que o atravessam gerando manutenção de uma dependência problemática podem ser pensadas de forma não moralista, não culpabilizante, e sim com foco na responsabilidade e crítica social, identificando seus movimentos de mudança sem reforçar ou punir seus movimentos que pareçam destrutivos”.
Ela explica que o uso excessivo do álcool vem do conceito de autonomia e a noção de origem da necessidade, que pode se relacionar com aprendizagem social, hábito, prazer, desejo, falta ou aspecto neuroquímico. “De forma geral, concorda-se que é a busca por um prazer ou sensação que substitui ou supera uma fragilidade do sujeito. Identificar quais determinantes psíquicos conscientes, inconscientes, sociais, discursivos, orgânicos e existenciais que estimulam a dependência são princípios básicos. O autoconhecimento, a análise de si, o acolhimento e o enfrentamento são estratégias que vemos como comuns em praticamente todas as abordagens psicológicas”, completa.
A redução de danos surge de uma prática que visava diminuir as Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), como HIV e hepatite, oferecendo seringas descartáveis aos usuários e orientando comportamentos preventivos para o uso. Em Uberlândia (MG), a Escola de Redução de Danos, programa do governo vigente de 2010 a 2013, visava capacitar profissionais para as estratégias, com proximidade da população.
“O maior desafio que o profissional e o atendido enfrentam é o moralismo e o poder biomédico que se instaura sobre os corpos. Uma máxima moral, legal e médica diz que o uso [da substância] deve ser interrompido e que ele é imoral, ilegal e faz mal à saúde. Quando trabalhamos na perspectiva de não objetivar a abstinência e sim o bem estar do sujeito, nos deparamos com os julgamentos diversos direcionados às drogas, mas não inquirimos, por exemplo, sobre a vida que não oferta prazeres e perspectivas competitivas com a sensação imediata proporcionada pelas substâncias psicoativas. Logo, problemas estruturais sociais, políticos, culturais e econômicos devem ser encarados como responsáveis pelo consumo de drogas” - Fernanda Nogueira Campos
Campos é a convidada do episódio #106 do podcast Ciência ao Pé do Ouvido, onde abordamos o consumo de bebidas alcoólicas. Ouça nas principais plataformas de áudio ou aqui no portal Comunica UFU.
Política de uso: A reprodução de textos, fotografias e outros conteúdos publicados pela Diretoria de Comunicação Social da Universidade Federal de Uberlândia (Dirco/UFU) é livre; porém, solicitamos que seja(m) citado(s) o(s) autor(es) e o Portal Comunica UFU.
Palavras-chave: Ciência ao Pé do Ouvido podcast Divulgação Científica álcool Alcoolismo redução de danos
Política de Cookies e Política de Privacidade
REDES SOCIAIS