Pular para o conteúdo principal
Leia Cientistas

60 anos do golpe civil-militar de 1964

Pesquisa de iniciação científica apoiada pela Fapemig mostra como a ditadura militar foi retratada em telejornais mineiros, entre 2013 e 2018

Publicado em 17/05/2024 às 14:43 - Atualizado em 07/06/2024 às 08:44

Foto: Banco de imagens

 

Em 31 de março de 1964, civis e militares se uniram para depor o presidente democraticamente eleito João Goulart, mais conhecido como Jango, instaurando um regime autoritário que durou mais de duas décadas. 

A ditadura militar brasileira, ocorrida entre os anos de 1964 e 1985, foi marcada por diversas características autoritárias, tais como a censura aos meios de comunicação, a repressão política, a perseguição aos opositores, prisões arbitrárias, tortura e violações aos direitos humanos cometidos pelos agentes do Estado.  

Até os dias atuais, persistem discussões, principalmente na historiografia, sobre as profundas cicatrizes deixadas na sociedade brasileira por esse período, com impactos políticos, sociais e econômicos. Nos últimos anos, a legitimidade do golpe civil-militar de 1964 voltou a ser defendida por uma parcela de grupos organizados, tais como militares, empresários, comerciantes, partidos políticos, dentre outros segmentos da sociedade brasileira.  

Assim, é notável um aumento no debate público sobre o período da ditadura militar no Brasil, com movimentos de memória, justiça e reparação às vítimas do regime. A Comissão Nacional da Verdade, por exemplo, instituída pela presidenta Dilma Rousseff em 16 de maio de 2012, investigou as graves violações de direitos humanos ocorridas no Brasil nos anos de 1946 a 1988, trazendo à tona informações importantes sobre o que aconteceu naqueles anos de repressão da história brasileira. Por todas essas razões, os temas ligados à ditadura militar têm sido amplamente discutidos e apresentados em diversos telejornais brasileiros na última década.   

A pesquisa de iniciação científica intitulada “Telejornalismo e História Pública: a ditadura militar nos telejornais das emissoras mineiras afiliadas a Rede Globo (2013-2018)”, financiada pela Fapemig e desenvolvida por mim, sob a orientação do professor Wellington Amarante, no Núcleo de Estudos e Pesquisas em Humanidades Digitais, do Instituto de Ciências Humanas do Pontal, da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), investigou as formas como o telejornalismo tem abordado a ditadura militar brasileira, com foco nas reportagens veiculadas pelas emissoras afiliadas à Rede Globo em Minas Gerais entre os anos de 2013 e 2018, disponíveis na plataforma Globoplay.  

A pesquisa revelou uma série de informações importantes sobre a representação desse período histórico nos meios de comunicação. Evidenciando a veiculação das diferentes visões e interpretações acerca desse período histórico na esfera pública contemporânea, esse estudo ajuda a compreender o discurso midiático e sua influência na sociedade. 

Foram analisadas 36 reportagens que, após serem assistidas na íntegra, foram agrupadas em categorias. Dentre as principais, estão: tempo presente, figuras políticas e fenômenos da ditadura. Na categoria “tempo presente”, foram reunidas reportagens sobre eventos atuais relacionados ao passado ditatorial, tais como a Comissão Nacional da Verdade e a efeméride de 50 anos do golpe civil-militar, em 2014. Na categoria “figuras políticas”, há uma única reportagem destacando a vida de Rondon Pacheco e sua participação na ditadura militar. Já na categoria “fenômenos da ditadura”, analisamos reportagens que abordam temas como tortura, censura e resistência, sendo a censura durante a ditadura militar um dos tópicos mais abordados.  

É interessante notar que houve um aumento significativo de reportagens em 2014, devido aos 50 anos do golpe civil-militar de 1964, demonstrando como as efemérides suscitam os debates e a cobertura jornalística em torno do tema. No entanto, no ano de 2018, que marcou os 50 anos do AI-5, encontramos apenas uma reportagem, revelando que temas como a tortura são menos debatidos nas reportagens.  

Desse modo, a pesquisa evidenciou como os telejornais constroem reportagens sobre a ditadura militar brasileira, focando principalmente no tempo presente, ao abordar a Comissão Nacional da Verdade, e nas manifestações em relação ao passado ditatorial. 

Esses elementos mobilizados pelo telejornalismo contribuem para a disputa de memórias já que aparecem nas reportagens as vítimas e os opressores do regime, trazendo personagens que sofreram com a privação de direitos humanos, ao mesmo tempo em que evidencia a vida e a participação de apoiadores do regime e do AI-5, como Rondon Pacheco. 

É importante reconhecer que a cobertura midiática da ditadura militar contribui para o debate público sobre o tema. No contexto atual, em que o país enfrenta desafios democráticos e busca consolidar sua democracia, o estudo e a reflexão sobre o passado autoritário são fundamentais para o fortalecimento dos valores democráticos, da justiça social e do respeito aos direitos humanos. A análise crítica das representações midiáticas da ditadura militar é um passo importante nesse processo, permitindo uma compreensão mais profunda e contextualizada das narrativas históricas que moldam nossa sociedade. 

O historiador Rodrigo Patto Sá Motta, em sua obra “Passados presentes”, publicada em 2021, nos ajuda a concluir: “Independentemente do rumo que o país seguirá, e oxalá não tenhamos que enfrentar outro regime autoritário, seja lá de que tipo for, a história da ditadura militar continuará sendo tema central no debate público. Ela não originou todos os males, pois alguns deles já existiam, mas sem dúvida piorou certos problemas, como a desigualdade social e o autoritarismo estatal. Estudar, compreender e divulgar a história da ditadura é fundamental - mas com vistas à negação e à superação da sua herança, e não para comemorá-la em chave positiva.”  

Portanto, a data dos 60 anos do golpe civil-militar de 1964 demarca um momento para relembrar os horrores do regime autoritário, honrar a memória das vítimas e fortalecer os valores democráticos, para que eventos como esse não se repitam no futuro. Ditadura nunca mais! 

 

*Mariana Costa Borges é graduanda em História (Bacharel e Licenciatura) pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU).  

 

A seção "Leia Cientistas" reúne textos de divulgação científica escritos por pesquisadores da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). São produzidos por professores, técnicos e/ou estudantes de diferentes áreas do conhecimento. A publicação é feita pela Divisão de Divulgação Científica da Diretoria de Comunicação Social (Dirco/UFU), mas os textos são de responsabilidade do(s) autor(es) e não representam, necessariamente, a opinião da UFU e/ou da Dirco. Quer enviar seu texto? Acesse: www.comunica.ufu.br/divulgacao. Se você já enviou o seu texto, aguarde que ele deve ser publicado nos próximos dias. 

 

Política de uso: A reprodução de textos, fotografias e outros conteúdos publicados pela Diretoria de Comunicação Social da Universidade Federal de Uberlândia (Dirco/UFU) é livre; porém, solicitamos que seja(m) citado(s) o(s) autor(es) e o Portal Comunica UFU. 

 

Palavras-chave: iniciação científica ditadura telejornais pesquisa Divulgação Científica Leia Cientistas

A11y