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Leia Cientistas

Nas entrelinhas dos discursos sobre o ensino remoto emergencial na mídia brasileira

Projetos investigam as represetações do ensino remoto emergencial em textos publicados no jornal on-line Folha de São Paulo e na revista on-line CartaCapital

Publicado em 17/05/2024 às 14:51 - Atualizado em 07/06/2024 às 08:46

Imagem: Freepik

Sem dúvida, 2020 e 2021 são anos que marcarão profundamente a história, o mundo e a vida de inúmeras pessoas, de mais de 130 países, devido à pandemia da covid-19 - doença provocada pelo coronavírus da síndrome respiratória aguda grave 2 (SARS-CoV-2) - e às suas consequências.  

Nesse contexto pandêmico, vivenciamos o isolamento social, o fechamento de fronteiras, crises políticas e econômicas, sobrecarga nos sistemas de saúde, a suspensão dos calendários nas instituições de ensino, a implementação da educação remota emergencial, embates entre política e ciência e muito mais. 

Foi em meio a tudo isso que nos surgiu o interesse em desenvolver pesquisas com foco na temática da pandemia da covid-19 em intersecção com a educação remota emergencial no Brasil, implementada nos diferentes níveis de ensino e nas diferentes redes, em decorrência desse cenário.  

Dois projetos de pesquisa estão sendo executados por uma equipe multidisciplinar de pesquisadoras e coordenados pela professora do Instituto de Letras e Linguística da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Maria Aparecida Resende Ottoni: um financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) e outro pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). 

No desenvolvimento desses projetos, estamos analisando 333 textos da esfera jornalística, publicados sobre a temática cruzada da educação remota e da pandemia no período de dois anos (2020-2021), selecionados de duas publicações jornalísticas de naturezas diversas: um jornal de referência, líder em circulação e em audiência paga entre os grandes jornais brasileiros: a Folha de São Paulo; e uma revista, que se apresenta como uma alternativa ao pensamento único da imprensa brasileira: a CartaCapital. Para a análise, estamos utilizando um software para pesquisas qualitativas, o Nvivo, e nos baseando na Análise de Discurso Crítica (ADC). 

Um dos nossos objetivos é investigar como essa educação remota emergencial é representada e avaliada nos textos desses dois veículos. Até o presente momento, os resultados parciais evidenciaram um número considerável de declarações negativas construídas com o advérbio de negação “não”. Isso nos leva a perceber muitos problemas ligados à implementação e ao desenvolvimento do ensino remoto emergencial, e também às várias representações desse ensino.  

Por um lado, o ensino remoto emergencial foi representado como uma estratégia governamental com vistas a reduzir os danos ao processo de ensino e aprendizagem em decorrência do fechamento das escolas no contexto da pandemia, na qual o próprio governo não investiu os recursos necessários. E, por outro lado, foi visto como uma estratégia excludente, que desconsiderou as desigualdades existentes no nosso país, imposta a professores sem formação adequada para tal, a estudantes e a famílias sem preparo e estrutura para acesso e acompanhamento.  

Essas são representações construídas em grande parte por agentes sociais diretamente envolvidos no processo de ensino e aprendizagem remoto emergencial. Desvelá-las é fundamental para uma compreensão desse processo, para o planejamento, para o enfrentamento de outros e novos desafios na educação e para o delineamento de ações, especialmente voltadas para estudantes em situação de vulnerabilidade social.  

Acreditamos que, para além da experiência que vivemos na educação durante o período mais crítico da pandemia da covid-19, é preciso que haja um esforço global, no sentido de minimizar as desigualdades sociais, de valorizar a educação e de promover o letramento digital tanto de docentes quanto de discentes para que todas as pessoas tenham acesso a uma educação de qualidade, independentemente de ser presencial, remota, em contexto emergencial ou não. 

 

*Maria Aparecida Resende Ottoni é bolsista de produtividade em pesquisa do CNPq - Nível 2, professora associada do Instituto de Letras e Linguística da UFU e vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Estudos Linguísticos (PPGEL) e ao Programa de Pós-Graduação Mestrado Profissional em Letras (PROFLETRAS).  

** Bianca Mara Guedes de Souza é doutoranda em Estudos Linguísticos pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) .  

*** Layane Campos Soares é doutora em Estudos Linguísticos pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU).    

 

A seção "Leia Cientistas" reúne textos de divulgação científica escritos por pesquisadores da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). São produzidos por professores, técnicos e/ou estudantes de diferentes áreas do conhecimento. A publicação é feita pela Divisão de Divulgação Científica da Diretoria de Comunicação Social (Dirco/UFU), mas os textos são de responsabilidade do(s) autor(es) e não representam, necessariamente, a opinião da UFU e/ou da Dirco. Quer enviar seu texto? Acesse: www.comunica.ufu.br/divulgacao. Se você já enviou o seu texto, aguarde que ele deve ser publicado nos próximos dias. 

 

Política de uso: A reprodução de textos, fotografias e outros conteúdos publicados pela Diretoria de Comunicação Social da Universidade Federal de Uberlândia (Dirco/UFU) é livre; porém, solicitamos que seja(m) citado(s) o(s) autor(es) e o Portal Comunica UFU.

 

Palavras-chave: pandemia ensino remoto pesquisa Ciência Leia Cientista

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