Publicado em 07/03/2025 às 15:41 - Atualizado em 07/03/2025 às 15:53
A Lua, nosso satélite natural, esconde surpresas que vão além do que se vê a olho nu. Diferente da Terra, onde o dia e a noite se alternam em questão de horas, a Lua vive um ciclo de luz e sombra que se desenrola ao longo de quase 30 dias terrestres. Esse cenário, que pode parecer coisa de filme de ficção científica, é o tema da dúvida enviada por Guilherme Amaral, via redes sociais da Universidade Federal de Uberlândia (UFU).
Para entender se existem ciclos de dia e noite na Lua, conversamos com Matheus Isaac Vieira Marques, aluno de graduação do curso de Física da UFU, que desenvolve Iniciação Científica em Astronomia, sob orientação do professor Altair Gomes Júnior. De acordo com Marques, a Lua realmente possui ciclos de dia e noite, mas eles são extremamente longos quando comparados aos da Terra.
Ele explica que a Lua está em rotação sincronizada com a Terra, fenômeno conhecido como acoplamento de maré. Isso significa que ela leva cerca de 27,3 dias terrestres para dar uma volta completa em torno de seu próprio eixo. No entanto, o período entre dois nasceres do Sol na Lua – o chamado período sinódico – é de aproximadamente 29,53 dias. Ou seja, um dia lunar completo dura cerca de 29,5 dias, com aproximadamente 14,75 dias de luz seguidos por um período equivalente de escuridão.
Embora a Lua mostre sempre a mesma face para a Terra, o chamado "lado escuro" dela não é permanentemente escuro. “Quando observamos a Lua Nova, essa face que está voltada para nós está na sombra, enquanto o outro lado, que não conseguimos ver da Terra, está completamente iluminado pelo Sol. Esse mesmo fenômeno de rotação sincronizada ocorre com o planeta Mercúrio, as principais luas de Júpiter, como Io, Europa, Ganimedes e Calisto, e com o sistema Plutão-Caronte”, explica o pesquisador.
A ausência de uma atmosfera densa é outro fator crucial que diferencia os ciclos lunares dos terrestres. Marques explica que, sem uma camada protetora para reter o calor, a superfície lunar sofre variações de temperatura drásticas: durante o dia, as temperaturas podem alcançar cerca de 124°C, enquanto à noite podem despencar para aproximadamente -178°C. Em regiões dos polos, onde algumas crateras permanecem em sombra permanente, os termômetros podem registrar até temperaturas abaixo de -223°C.
Essas condições extremas representam um grande desafio para missões de longa duração na Lua. “Por isso, muitas missões lunares, como as missões Apollo, pousaram em momentos estratégicos, próximos ao nascer ou ao pôr do Sol no local de pouso, para evitar as temperaturas extremas do meio do dia ou da noite lunar”, completa.
Além dos desafios térmicos, os ciclos de luz e sombra na Lua também influenciam outros aspectos. Por exemplo, a mesma interação gravitacional que mantém a rotação sincronizada faz com que a Lua se afaste da Terra a uma taxa de cerca de 3,8 cm por ano. Curiosamente, essa periodicidade lunar também afeta processos biológicos na Terra, onde alguns organismos sincronizam seus ciclos reprodutivos com as fases da Lua.
Em resumo, a Lua tem, sim, seus próprios ciclos de dia e noite – uma mudança lenta que dura quase um mês inteiro. Essa alternância prolongada entre luz e sombra não só cria um cenário único de temperaturas extremas, mas também impõe desafios significativos para a exploração espacial. Afinal, vocês conseguem imaginar como seria encarar 14 dias sob um 'sol de verão' e, em seguida, 14 dias de um frio que parece de outro planeta?
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Palavras-chave: Ciência Responde #CiênciaResponde lua dia noite Astronomia
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