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Finanças

‘O cenário é dramático’, afirma Carvalho

Em entrevista coletiva, reitor da UFU relata crise orçamentária, agravada pela LOA 2025

Por: Ana Spannenberg
Publicado em 28/03/2025 às 09:51 - Atualizado em 01/04/2025 às 13:57

Além do reitor, também falaram à imprensa e aos representantes dos três segmentos da comunidade UFU o pró-reitor de Planejamento e Administração e a prefeita universitária. (Foto: Milton Santos)

 

Na manhã desta sexta-feira, 28 de março, o reitor da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Carlos Henrique de Carvalho, recebeu a mídia de Uberlândia e região, representantes de docentes, técnicas e técnicos administrativas/os e estudantes na Sala de Reuniões dos Conselhos Superiores localizada no prédio da Reitoria — para um comunicado sobre a situação financeira da instituição. O encontro contou, ainda, com a presença da vice-reitora, Catarina Azeredo, do pró-reitor de Planejamento e Administração, Vinícius Vieira Fávaro, do pró-reitor de Gestão de Pessoas, Sebastião Elias da Silveira, e da prefeita universitária, Juliana Cardoso Braga, e teve como objetivo apresentar dados sobre o orçamento da UFU, bem como as medidas adotadas para amenizar o impacto.

Em sua fala, Carvalho resgatou o histórico de cortes no orçamento das instituições federais de ensino superior, cujos impactos começaram a ser percebidos em 2017, após a implementação da PEC 95/2016, também conhecida como “PEC do Teto de Gastos”, promulgada em dezembro de 2016. De lá para cá, explicou o reitor, passou-se quase uma década sem que o orçamento fosse verdadeiramente recomposto. 

A título de comparação, Carvalho citou que o valor do orçamento da UFU na Lei Orçamentária Anual (LOA) do ano de 2016 foi de R$ 158.761 milhões, o que hoje, incluindo a inflação do período, equivaleria a R$ 236.752 milhões. Já na LOA 2025, aprovada pelo Congresso Nacional na última sexta-feira (21/3), o orçamento destinado à universidade foi de R$ 137.342 milhões. “O valor sequer atinge o mesmo patamar de 2016, tampouco inclui a perda inflacionária real que sofremos nos últimos dez anos”, lamentou.

 

 

Carvalho explicou que, ao iniciar sua gestão da universidade, em janeiro de 2025, se deparou com uma situação extremamente grave do ponto de vista financeiro. Desde então, diversas ações têm sido realizadas para redução dos custos e a articulação política nas instâncias municipal, estadual e federal para suplementação de orçamento, porém não foram suficientes. 

“Assumimos com uma dívida acumulada de mais de R$ 27 milhões, a qual estamos buscando negociar com responsabilidade”, afirmou, acrescentando que “o cenário é dramático e exige de nós medidas difíceis, mas necessárias para garantir a continuidade das atividades essenciais da instituição”. Entre as medidas citadas por ele, estão as reduções em 25% dos contratos, que impactarão, especialmente, o quadro de funcionários terceirizados. 

Há mais de duas décadas o Governo Federal vem extinguindo cargos com a finalidade de enxugar a sua estrutura. Recentemente, o Decreto 9.262, promulgado por Michel Temer, e, no ano seguinte, os Decretos 9.754 e 10.185, assinados por Jair Bolsonaro, voltaram a proibir a realização de concursos para diversos cargos da carreira de Técnico Administrativo em Educação. Com esse movimento, atividades como limpeza e conservação, vigilância, motorista e auxiliar administrativo, entre muitas outras, têm sido realizadas por funcionários terceirizados nas instituições federais.

Diante desse cenário, que prevê um corte entre 25% e 30% nos contratos e consequente redução dos postos de trabalho, o reitor da UFU foi enfático: “Infelizmente, isso acarretará numa redução significativa de postos de trabalho e poderá comprometer ou suspender parte dos serviços prestados. Estamos cientes do impacto social dessa medida, pois são trabalhadoras e trabalhadores, famílias que ficarão numa situação vulnerável e saber disso é o mais difícil para nós”. 

Carvalho reforçou que a permanência estudantil é um compromisso da gestão e serão feitos todos os esforços necessários para que os auxílios oferecidos não sofram cortes. Os recursos que subsidiam essas ações, como o Restaurante Universitário e o auxílio-moradia, são parte da Política Nacional da Assistência Estudantil (PNAES), criada em 2010 como programa e transformada em política em 2024.

Finalizando sua fala, o reitor fez um chamamento à comunidade universitária, mas também à sociedade das cidades que recebem a UFU, assim como de todas que usufruem dos resultados das suas atividades: “Que todos e todas que reconhecem o valor da UFU se unam em defesa da universidade. Precisamos de apoio institucional e popular. A UFU é um patrimônio coletivo. E somente com a união de esforços será possível mantê-la aberta, atuante e à altura dos desafios do país.”

 

Ações implementadas

O pró-reitor de Planejamento e Administração, Vinícius Fávaro, historiou a dívida da universidade e apresentou dados sobre algumas das medidas que estão sendo implementadas a respeito. Segundo ele, desde o ano passado, já havia recomendação da Proplad para redução dos contratos; porém, diante do valor aprovado na LOA e das determinações sobre limites para empenho, as ações precisarão ser mais efetivas. Com o orçamento aprovado, os desafios se tornam ainda maiores, exigindo medidas firmes e estratégicas.

Desde janeiro conforme já havia sido noticiado aqui no portal Comunica UFU , a gestão estava implementando ações para otimização de recursos e redução de despesas. Contudo, apenas esse movimento não foi suficiente, pois a dívida já era grande, argumentou Fávaro. “Várias reduções já deveriam ter sido realizadas em 2024, o que diminuiria parte desse impacto. Agora, precisamos tomar decisões ainda mais duras para garantir a sustentabilidade da instituição”, resumiu o pró-reitor.

Caso não sejam adotadas todas as medidas de austeridade que estão sendo propostas pela gestão, a estimativa da Proplad é chegar ao final de 2025 com uma dívida estimada em mais de R$ 50 milhões. “Enfrentar este déficit é um enorme desafio e precisaremos da compreensão e do apoio de toda comunidade universitária e da sociedade na luta pela recomposição do orçamento, não só da UFU, mas de toda a rede de instituições federais de ensino superior”, conclamou Fávaro.

 

Segurança reforçada

A prefeita universitária, Juliana Cardoso Braga, falou sobre o impacto dessas reduções nas ações estruturais da instituição. Mesmo diante de desafios orçamentários e sociais, a prefeita ressaltou que a UFU tem avançado nas questões de segurança com planejamento, responsabilidade e ações concretas em prol da comunidade acadêmica e da sociedade. "Ao compararmos os dados de ocorrências na UFU dos três primeiros meses de 2025 com o mesmo período de 2024, verificamos uma redução de 13% nos registros de ocorrências em todos os campi", informou Cardoso.

O sistema de segurança da UFU conta com uma série de medidas estratégicas integradas, pensadas com inteligência, responsabilidade e uso racional dos recursos públicos. Entre as ações, estão: a integração entre os terceirizados e servidores de vigilância da UFU; monitoramento por câmeras e inteligência artificial; reforço na infraestrutura de iluminação pública e segurança, principalmente na área do Campus Umuarama; intensificação da parceria com a Polícia Militar de Minas Gerais, que já aumentou as rondas no entorno dos campi; e o reforço do programa UFU Segura, que possibilita respostas ágeis a situações críticas relatadas pela comunidade.

 

Confira, abaixo, a íntegra da manifestação da Administração Superior da UFU apresentada na abertura da entrevista coletiva:

Bom dia, senhoras e senhores jornalistas, representantes das entidades ADUFU, SINTET e DCE, membros da comunidade universitária e cidadãos de Uberlândia, Ituiutaba, Monte Carmelo e Patos de Minas — presentes nesta Sala dos Conselhos da Reitoria da UFU ou que nos acompanham pelo Canal da UFU no YouTube.

Saúdo também a vice-reitora, professora Catarina Azeredo; os pró-reitores Vinícius Fávaro (Planejamento e Administração) e Sebastião Elias (Gestão de Pessoas); e a prefeita universitária, Juliana Cardoso.

Hoje é um dia muito triste para a Universidade Federal de Uberlândia. A crise financeira que assola as universidades federais não é recente. Ela se agravou e se tornou estrutural com a promulgação da Emenda Constitucional nº 95/2016, conhecida como a “PEC do Teto de Gastos”. Seus efeitos já foram sentidos no orçamento de 2017 e, desde então, o subfinanciamento da educação superior tornou-se uma realidade.

A Universidade Federal de Uberlândia, infelizmente, não está imune a essa conjuntura. A publicação da Lei Orçamentária Anual de 2025, no último dia 21 de março, expôs um cenário crítico: o orçamento da UFU será de R$ 137,34 milhões — valor inferior ao recebido em 2016, que foi de R$ 158 milhões. Se corrigido pelo IPCA, aquele valor equivaleria hoje a aproximadamente R$ 236 milhões.

Além desse corte severo, assumimos a gestão da universidade, em janeiro deste ano, com uma dívida acumulada de mais de R$ 27 milhões, a qual estamos buscando negociar com responsabilidade. Assim, o cenário da UFU para 2025 é dramático e exige de nós medidas difíceis, mas necessárias para garantir a continuidade das atividades essenciais da instituição.

Como medida inicial, promovemos e estamos promovendo articulação política com o Ministério da Educação e agentes políticos em Brasília e Belo Horizonte, com diversas reuniões com os Governos Federal, Estadual e Municipal.

Além disso, desde janeiro, estamos negociando a dívida com os credores. Mas isso ainda não foi suficiente diante do orçamento aprovado.

 Assim, foi preciso tomar uma medida que NÃO GOSTARÍAMOS de tomar: uma redução de pelo menos 25% nos contratos da UFU — medida já determinada pela gestão anterior em novembro do ano passado e necessária para o momento atual. Essa redução impacta diversos segmentos, em especial o quadro de trabalhadores terceirizados, muitos dos quais ocupando funções extintas pelo Governo Federal. Infelizmente, isso acarretará numa redução significativa de postos de trabalho e poderá comprometer ou suspender parte dos serviços prestados. Estamos cientes do impacto social dessa medida, pois são trabalhadoras e trabalhadores, famílias que ficarão numa situação vulnerável e saber disso é o mais difícil para nós.

Contudo, reafirmamos nosso compromisso com a permanência estudantil. Não haverá, neste momento, cortes em bolsas estudantis, e esta gestão fará o possível para preservar esse suporte essencial.

Esta coletiva é, antes de tudo, um gesto de transparência com a comunidade acadêmica e com a sociedade das cidades onde estamos presentes. Temos plena consciência do papel social da UFU e dos impactos que essas medidas poderão gerar para as comunidades interna e externa.

Neste momento crítico, fazemos um chamado à comunidade UFU e a toda sociedade: que todos e todas que reconhecem o valor da UFU — enquanto centro de ensino, pesquisa, inovação e cuidado — se unam em defesa da universidade. Precisamos de apoio institucional e popular. É hora de pressionar os representantes eleitos para que busquem alternativas concretas de financiamento e valorização da educação pública.

A UFU é um patrimônio coletivo. E somente com a união de esforços será possível mantê-la aberta, atuante e à altura dos desafios do país.

Muito obrigado.

 

Política de uso: A reprodução de textos, fotografias e outros conteúdos publicados pela Diretoria de Comunicação Social da Universidade Federal de Uberlândia (Dirco/UFU) é livre; porém, solicitamos que seja(m) citado(s) o(s) autor(es) e o Portal Comunica UFU.

 

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Palavras-chave: gestão recursos Orçamento Proplad prefe UFU Entrevista coletiva

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