Publicado em 16/05/2025 às 12:47 - Atualizado em 21/05/2025 às 07:50
Você sabia que, infelizmente, as crianças e os jovens brasileiros estão lendo cada vez menos hoje em dia? Uma pesquisa chamada "Retratos da Leitura no Brasil", divulgada no final de 2024, mostrou que o nosso país perdeu cerca de 7 milhões de leitores entre os anos de 2019 e 2024.
E não é só isso: um outro estudo divulgado em abril de 2025, o Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf), apontou que aumentou o número de jovens entre 15 e 29 anos que têm dificuldades para entender e usar a leitura no dia a dia, sendo considerados analfabetos funcionais.
Esses números nos mostram que é muito importante encontrar novas formas de incentivar a leitura entre as crianças e os adolescentes que estão na escola. Como bibliotecária que trabalha em escolas e acompanha de perto esse público, fiquei bastante preocupada com essa situação e decidi desenvolver uma pesquisa para ajudar a mudar esse quadro e estimular o hábito de ler nos jovens formando professores para mediar a leitura de literatura.
Para buscar soluções para esse desafio, realizei uma pesquisa pela Universidade de São Paulo (USP), na área de Gestão de Projetos, utilizando uma ferramenta poderosa chamada "Design Thinking" (DT). O Design Thinking é uma metodologia muito usada para resolver problemas complexos e que se destaca por ser uma abordagem que busca simplificar e tornar os processos mais humanos, além de encontrar soluções de forma colaborativa e inovadora. É como um guia que ajuda a entender um problema a fundo e a criar algo novo para resolvê-lo.
Pensando nisso, como pesquisadora percebi que usar o Design Thinking para criar um projeto de formação em mediação de leitura literária feito especialmente para professores, no ambiente da escola, poderia ser uma ótima maneira de fazer com que a mediação da leitura realmente acontecesse naquele espaço.
Desenvolvi o estudo com professores do Ensino Fundamental I. Para coletar informações, observei a rotina escolar nos momentos de leitura, fiz anotações em um diário, conversei com as professoras e apliquei questionários. Analisei os dados e depois de entendê-los e identificar o problema, foi hora de buscar soluções. Pensei em ideias que pudessem contribuir para resolver o problema. Nessa etapa, o objetivo foi pensar de forma criativa e "fora da caixa" para criar algo inovador, útil para formação, lúdico (divertido) e relacionado à literatura que pudesse ser usado na biblioteca escolar.
Foi assim que nasceu o jogo chamado “Formalitera”. Um kit pensado para formar professores para serem mediadores de leitura de literatura. O kit é composto por uma sacolinha que vem com um corpo de boneco e vários pacotinhos com acessórios, um manual de instruções e cartinhas com desafios.
A ideia é que, ao seguir as instruções do manual, responder aos desafios e montar a personagem, o professor que estiver usando o kit aprenda sobre mediação literária de uma forma divertida, brincando. O kit foi testado por pessoas que usam os serviços da biblioteca escolar e os resultados foram bem-sucedidos.
Entre as descobertas feitas ao usar o kit, percebi que ele realmente cumpre seu papel de forma lúdica e interativa. Ele funciona muito bem quando usado em momentos de jogo com grupos de três a cinco participantes. No entanto, se tiver mais de cinco pessoas no grupo, a eficiência diminui, pois nem todos conseguem participar ativamente dos desafios. Outro ponto observado foi que os desafios propostos nas cartinhas precisam ter a linguagem adequada para a idade dos participantes.
Atualmente, essa proposta de jogo está em uma nova fase de pesquisa. Agora está sendo estudada na Universidade Federal de Uberlândia, por mim, sob a orientação da professora Maíra Sueco Córdula Maegava, do Programa de Pós-graduação em Estudos Linguísticos do Instituto de Letras e Linguística (Ileel). O estudo está sendo aplicado em duas escolas de educação básica e já está na fase de analisar os dados coletados.
Meu objetivo é ajudar, por meio do estudo científico na área de formação de leitores, a desenvolver pessoas que enxergam a realidade de forma mais crítica e consciente. Essa atividade pode promover uma relação mais profunda e significativa das pessoas com os livros e a leitura, contribuindo para mudar o cenário que é refletido nas estatísticas mais recentes.
*Marissol Ferreira Batista Cavalcanti é pesquisadora do Laboratório de Estudos Polifônicos / Laboratório de Estudos em Linguagem, Ensino e seus Materiais (LEP/LabLem/UFU), bibliotecária e mestranda do Programa de Pós-Graduação em Estudos Linguísticos do Instituto de Letras e Linguística da Universidade Federal de Uberlândia e bolsista Capes.
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