Publicado em 24/05/2025 às 12:07 - Atualizado em 24/05/2025 às 14:57
Maio de 1978. Até então, a cidade de Uberlândia contava com alguns cursos de ensino superior dispersos pelo município. Os uberlandenses tinham a Universidade de Uberlândia (UnU), instaurada em 1969, com a aglutinação de seis faculdades já existentes na cidade, e a Escola de Medicina e Cirurgia de Uberlândia, inaugurada em 1968. Porém, a classe política e elite local, respaldada por parte da sociedade, queriam mais. Queriam que a cidade se tornasse um polo técnico-científico, cultural e acreditavam que uma universidade forte e unificada pudesse melhorar a economia local e atrair investimentos públicos.
Numa quarta-feira de outono, como hoje, 24 de maio de 1978, o desejo do povo de Uberlândia virou realidade. A UnU, integrada a Escola de Medicina, tornou-se a Universidade Federal de Uberlândia (UFU). A Lei nº 6.523, sancionada pelo então presidente da República, Ernesto Geisel, colocou a cidade na rota das universidades federais. Na mesma semana, dois dias depois, em 26 de maio, a UFU também entrou na trajetória de uma pessoa: o senhor Sinair Vieira de Barros.
Foi do estado vizinho, Goiás, da cidade de Morrinhos, que a mais nova universidade federalizada no Brasil ganhou um dos seus primeiros servidores. Sinair , que na época tinha 28 anos, chegou por aqui para proteger e zelar pelo patrimônio público. Uma semana depois da federalização, no dia 1º de junho de 1978, o jovem goiano tomou posse do cargo de vigilante da UFU e, desde então, sua vida se mistura com a história da universidade.
Uma universidade em construção
Assim como a UFU completa hoje 47 anos de federalização, Barros também completa a mesma idade de serviço público daqui oito dias. Desde que chegou na universidade, sempre trabalhou como vigilante, principalmente no turno da noite. Seus olhos, sempre atentos a qualquer suspeita, também puderam ver toda a história sendo construída. “Eu já entrei como vigilante trabalhando à noite no Umuarama. Não dá nem para comparar com o Umuarama de hoje. Era tudo diferente. Na área acadêmica já tinha a garagem, uns dois, três prédios ali... o resto tudo eu vi levantar”, comenta o servidor.
Hoje, Sinair trabalha em um dos prédios externos dos campi da UFU, no setor de almoxarifado. Faz dois meses que mudou de posto e, assim, ainda segue aumentando a lista de lugares na UFU que já passou. “Já passei por tudo. Campus, fazendas, postinhos de saúde, prédios pela cidade, já passei neles todos”, relembra o segurança enquanto redesenha como era a disposição geográfica do campus Santa Mônica. O campo de futebol próximo à área do campus, a rua movimentada que beirava a cerca da universidade e o resto, era mato, uma área bem deserta, coberta pelo cerrado mineiro. “Inclusive, apareciam muitos tamanduás-bandeiras por aqui. A vizinhança... quase não tinha casa. Era tudo terreno baldio. A UFU era um pouco no meio do deserto da cidade”.
Mesmo que a região onde os campi da UFU começavam a se formar fossem desertas, os prédios já não eram, principalmente o de Medicina. Sinair diz que o trabalho sempre foi tranquilo, mas que trabalhar com o público na área da saúde exigia um pouco mais de delicadeza. “Naquele tempo não existia esses postinhos, não tinha nada, só tinha a Escola de Medicina. O resto da cidade era tudo hospital particular. Moral da história: apesar da população ser menor que hoje, todo mundo caía ali. Então, as vezes o pessoal era meio nervoso, dava muita confusão. Tinha muitos que enfrentava a gente. Era difícil”, conta o vigilante.
Hoje, ele acha que fazer segurança em hospital está mais fácil. As pessoas estão mais tranquilas e o sistema de segurança mudou. Ele afirma que a tecnologia e a informatização ajudaram muito, são aliadas dos profissionais e não foi um problema ter que adaptar às evoluções. “Quando começou a informatizar o Pronto Socorro, o mouse dos computadores era uma canetinha. Um dia apareceu uma mulher lá, com a voz brava, e disse: ‘é por isso que o trem aqui não funciona, todo mundo fica na televisão’”, conta o servidor em meio ao riso que o faz lembrar de como eram os primeiros períodos tecnológicos do hospital.
Apesar das recordações tranquilas e engraçadas do trabalho, é do hospital que ele também guarda a memória mais triste da sua carreira: um acidente entre um ônibus e uma carreta na rodovia, próximo à Xapetuba (MG), durante uma das suas madrugadas de plantão, que vitimou 33 pessoas. 25 já chegaram sem vida e oito morreram no hospital. “Foi um auê naquela medicina. Encheu de gente, gente querendo invadir, querendo ver. A imprensa em cima. Foi difícil”, rememora Barros, que afirma ter completado três turnos seguidos naquele dia, porque a equipe precisava dele. “Eu fui dar saída [após 12h] e o meu chefe falou: negativo. Não tinha como! Trabalhei 36h sem sair dali”, relata.
A UFU é a minha história
Mesmo com o fatídico episódio, tranquilidade é a palavra que o senhor Sinair de Barros usa para definir o trabalho na UFU. Quando questionado se ele tem um lugar preferido na universidade, ele responde: “Qualquer um. Eu aprendi a gostar da UFU como um todo. A gente chega e parece que está em casa”.
Acompanhando todas as evoluções da universidade durante esses 47 anos de serviço, ele afirma que a UFU também trouxe mudanças na vida dele, até porque quase tudo o que ele viveu foi dentro dela. “Minha vida é a UFU. Ela foi uma reviravolta [na minha vida]. A gente veio de uma situação difícil e depois que entrei aqui as coisas foram melhorando. Graças a Deus eu fui feliz. Foi aqui que criei a minha família, sobrevivi. Então, para mim, minha vida foi construída aqui dentro”, ele declara.
Em novembro deste ano, Sinair completará 75 anos de idade e encerrará seu ciclo de serviços à UFU. Os trâmites para a aposentadoria já estão em andamento. Ele ressalta que, além de ter sido muito feliz aqui, também foi privilegiado pela equipe de trabalho. Quando chegou, teve a honra de contar com duas pessoas que ele diz terem sido como pai e mãe para ele. O chefe da segurança, Dorival Souto dos Reis, e o reitor, Gladstone Rodrigues da Cunha Filho, um dos responsáveis pela federalização da universidade. “O doutor Gladstone é aquele cara que nas vezes que cruzava de carro com a gente parava para conversar”, conta Barros.
Prestes a se aposentar e voltar a viver em áreas rurais, como sempre gostou, Sinair ressalta que a UFU ainda estará na sua rotina. Sempre que possível ele irá fazer visitas, porque, segundo ele, não tem como não passar por aqui e ver os amigos. “De vez em quando tem que dar uma fiscalizada na turma, né? [risos]”, brinca o servidor, que afirma estar saindo do posto só porque a lei não permite que ele fique mais tempo, mas que ele é muito grato por tudo que viveu. “Minha vida foi construída aqui dentro. [...] Deu tudo certo. No final [dos turnos no hospital] o camarada falava obrigado para a gente. Aquilo era gratificante. [Trabalhar na UFU] é muito gratificante”, ressalta o vigilante.
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