Publicado em 31/10/2025 às 11:26 - Atualizado em 31/10/2025 às 11:46
Em novembro de 2025, o mundo estará de olho no Brasil. Belém do Pará sediará a COP 30, a principal conferência climática do planeta, onde delegações de quase 200 nações discutirão o futuro da humanidade diante da crise climática.
Mas, você já se perguntou o que quer dizer COP e 30?
A sigla COP significa Conferência das Partes ou mesmo Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima. O número 30 significa que é a trigésima edição do evento, organizado e preconizado pela Organização das Nações Unidas (ONU) logo após ao famoso evento Rio 92. A última edição foi a COP 29, que ocorreu em Bacu, Azerbaijão, em 2024. As COPs servem como fóruns globais para debater entre os países as decisões mais importantes sobre mudança climática e implementação dos objetivos da ONU para o desenvolvimento sustentável das nações.
No centro das discussões da COP 30, no Brasil, estarão as NDCs, sigla utilizada para as Contribuições Nacionalmente Determinadas, que são, em termos simples, o "dever de casa" que cada país se comprometeu a realizar para reduzir suas emissões de Gases de Efeito Estufa (Geralmente chamado de GEE). De maneira geral, uma das principais metas previstas na última COP foi a de manter o aumento da temperatura global bem abaixo de 2ºC, com esforços para limitá-lo a 1,5ºC. Por exemplo, o Brasil se comprometeu a restaurar 12 milhões de hectares de florestas até 2030. Estas e outras diversas metas ambiciosas, que vão do financiamento climático por parte dos países ricos, à queima de combustíveis fósseis e florestas, serão temas de discussão da conferência.
Como docentes e pesquisadores na escola de Engenharia Florestal da UFU, em Monte Carmelo, analisamos que o Brasil tem uma vantagem estratégica única para liderar os diálogos durante e após a COP. A "bala de prata" para o Brasil cumprir suas metas estabelecidas anteriormente na COP 21, nomeadamente o famoso Acordo de Paris, em 2015, além disso oferecer modelos de soluções ao mundo, está, em grande parte, em uma específica ciência, a florestal.
Mas por que parte das soluções estão nas florestas?
Quando falamos em florestas e clima, a primeira imagem que vem à mente é, infelizmente, a do desmatamento. É fundamental entender que o desmatamento ilegal, aquele motivado pela grilagem (apropriação indevida de terras públicas) ou pela expansão agropecuária descontrolada, é um crime ambiental e uma das maiores fontes de emissão de carbono. Desmatamento de vegetação nativa representa perda de capacidade de enfrentamento à crise do clima e na redução da temperatura média global. Desmatamento ilegal precisa ser combatido com rigor. Em geral, quando existe a necessidade de dar um novo uso à terra, a remoção da vegetação é solicitada a um órgão ambiental na fase inicial de implantação do novo empreendimento e somente assim, com racionalidade e regramento é possível conciliar desenvolvimento e conservação.
Contudo, é preciso diferenciar "desmatamento" de "manejo"! Aqui entra o papel decisivo da ciência. Explorar a floresta e cortar árvores pode, sim, ser algo positivo e necessário, desde que feito com base científica e com muita engenharia! Isso tem um nome: Manejo Florestal Sustentável. O manejo não é devastação; é o uso planejado, baseado em ecologia e matemática, onde se retira apenas o necessário (madeira, por exemplo) garantindo que a floresta permaneça saudável, protegendo o solo, a água e continuando a absorver carbono. Afinal, ao manejar uma floresta, o crescimento de novas plantas é favorecido, o que remove ainda mais carbono da atmosfera. Atualmente, cerca de 9% da produção madeireira da Amazônia provém de áreas manejadas de forma responsável, como concessões florestais ou empreendimentos certificados.
Por outro lado, temos no Brasil aproximadamente 10 milhões de hectares de florestas comerciais plantadas. Minas Gerais é o estado com a maior área de floresta plantada (22% do total) e sua maioria é formada por eucaliptos (97%). Essas florestas comerciais plantadas são muito importantes no enfrentamento à crise do clima, pois geram sustentabilidade econômica, ambiental e social, e reduzem a pressão sobre florestas nativas, fornecendo matéria-prima para a indústria. Por exemplo, a madeira que usamos em nossas casas, a celulose que gera o papel que utilizamos em nosso dia a dia e a geração de energia, que faz rodar importantes empreendimentos da economia do país. Além de tudo isso, ajudam a mitigar a mudança climática ao sequestrar carbono da atmosfera, e ainda podem ser usadas em sistemas integrados à agropecuária para melhorar a produção animal e o bem-estar.
Você pode estar agora se perguntando, mas essas florestas plantadas não secam os solos e as nascentes? A resposta é, não! Essa ideia foi colocada há décadas, quando o conhecimento científico e as técnicas de silvicultura eram pouco conhecidas! No entanto para evitar problemas em uma área de cultivo é preciso que os plantios sejam feitos com planejamento de uso da paisagem e com responsabilidade técnica de um(a) engenheiro(a) florestal, que avaliará todas as condições ambientais da área, mapeamento de nascentes, Áreas de Preservação Permanentes (APPs) e Reservas Legais, análise de solos, terreno e melhores materiais genéticos a serem cultivados na área.
A ciência florestal é uma caixa de ferramentas essencial para o enfrentamento da crise climática. É essa mesma ciência que nos dá as técnicas para ações efetivas, como a prevenção e o combate a incêndios florestais; a criação e gestão de Unidades de Conservação (parques e reservas); e o planejamento de florestas comerciais plantadas, como eucalipto e pinus, que aliviam a pressão sobre as florestas nativas e estocam muito carbono e fornecem matéria-prima essencial para a sociedade (papel, móveis, fármacos, energia limpa, etc.).
Para além disso, engenharia florestal é uma ciência da recuperação. Temos um enorme desafio no Brasil com os chamados "passivos ambientais", áreas que precisam ser restauradas, como as APPs (como matas ciliares) e Reservas Legais (RLs de propriedades rurais). Em uma pesquisa recente da UFU publicada na revista Environmental Monitoring and Assessment, da editora Springer Nature nós identificamos as regiões do estado de Minas Gerais com maiores conflitos de uso da terra em APPs e RLs, e constatamos que o estado apresenta um déficit de cobertura florestal em áreas protegidas pela legislação ambiental de aproximadamente 3,7 milhões de hectares. Nesse sentido, as áreas de Reserva Legal (RL) (2,2 milhões de hectares) e de Preservação Permanente dos Recursos Hídricos (APPs) (1,3 milhão de hectares) representam as maiores modalidades de áreas em desacordo com a legislação florestal.
Você sabia que as áreas degradadas de Minas Gerais poderiam estocar em carbono o equivalente a 177 milhões de carros a gasolina rodando por um ano inteiro?
As áreas protegidas pelo Código Florestal no estado de Minas, mas em desconformidade e degradadas, conforme o mapeamento que realizamos, poderiam estocar, pelas nossas equações, aproximadamente cerca de 819 milhões de toneladas de CO2 caso estivessem recuperadas ou sejam recuperadas nos próximos anos. Ah! Vale lembrar que CO2 é uma fórmula química do dióxido de carbono, um gás composto por um átomo de carbono e dois de oxigênio. Em outras palavras, ele é essencial para a vida (fotossíntese), mas seu acúmulo na atmosfera, principalmente pela queima de combustíveis fósseis, é o principal motor da crise climática. Ou seja, é a ciência florestal que define como trazer a vida de volta a essas áreas, aumentando a captura de carbono e a proteção da biodiversidade.
Brasil reforça compromissos climáticos com pacote de leis na COP
O ano de 2024 marcou um avanço legislativo histórico no Brasil com a implementação de duas leis federais para a agenda climática global. Na COP-30 o Brasil poderá demonstrar esses avanços. A Lei nº 15.042/24 instituiu o Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões (SBCE), estabelecendo o aguardado mercado regulado de carbono sob o sistema cap-and-trade. Este mecanismo visa limitar as emissões de GEE de grandes setores da economia, precificando o carbono e incentivando a descarbonização das cadeias produtivas. Em paralelo, a Lei nº 14.944/24 estabeleceu a Política Nacional de Manejo Integrado do Fogo (PNMIF), uma resposta direta às grandes emissões causadas por incêndios florestais. Ambas as legislações se alinham diretamente aos compromissos do Acordo de Paris, focando na mitigação de GEE tanto na indústria quanto no uso da terra.
Complementando esses marcos, o Brasil também fortaleceu sua agenda de sustentabilidade com a Estratégia Nacional de Economia Circular (ENEC), instituída via decreto (Decreto nº 12.082/24), que promove a transição para um modelo de produção e consumo mais eficiente. Embora a lei que cria a Política Nacional de Economia Circular ainda tramite no Congresso, a implementação do SBCE e da PNMIF sinaliza uma abordagem de três pilares para a transição verde: o controle econômico de emissões, a gestão territorial para proteção florestal e o estímulo a um ciclo de vida de produtos mais sustentável. O conjunto de medidas coloca o Brasil em posição de destaque em seus esforços para alcançar as metas de redução de GEE.
A UFU na vanguarda da Educação Florestal e Clima
Temos orgulho de destacar que Universidade Federal de Uberlândia (UFU) está em uma linha de frente dessa missão global. A UFU é a primeira universidade do Brasil a criar um Centro de Formação em Educação Climática (CEFEC), sediado como uma Sala Verde do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima. E esse pioneirismo se reflete no ensino. O curso de Engenharia Florestal da UFU, campus Monte Carmelo, é o único do Oeste Mineiro. O curso nasceu e obteve nota máxima (5) no Enade (Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes) por muitos anos, um selo de excelência que tem se traduzido em alta empregabilidade, com estudantes formados e rapidamente absorvidos por empresas de base florestal, pós-graduação, empreendedorismo e em diversos projetos que hoje demandam soluções sustentáveis.
Portanto, quando as delegações mundiais chegarem a Belém para a COP 30, o Brasil terá a chance de mostrar que a discussão não é apenas "parar de desmatar", mas sim como usar, manejar, conservar e restaurar as imensas áreas florestais de forma inteligente.
Gostaríamos de aproveitar esse espaço de interação com você leitor, para que possa acompanhar nosso trabalho e outros estudos desenvolvidos pelo nosso laboratório Nuplamflor Lab UFU, a Sala Verde Centro de Formação em Educação Climática (CEFEC) e do curso de Engenharia Florestal da UFU, sediado em Monte Carmelo.
* Luciano França é doutor em engenharia florestal e professor adjunto da UFU, atua à nível de graduação na instituição e pós-graduação na Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), coordena o Grupo de Pesquisa Nuplamflor e a Sala Verde Cefec UFU.
* Vicente Morais é doutor em engenharia florestal e professor adjunto da UFU, atua à nível de graduação na instituição e coordena o Grupo de Pesquisa Nuplamflor e a Sala Verde Cefec UFU.
A seção "Leia Cientistas" reúne textos de divulgação científica escritos por pesquisadores da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). São produzidos por professores, técnicos e/ou estudantes de diferentes áreas do conhecimento. A publicação é feita pela Divisão de Divulgação Científica da Diretoria de Comunicação Social (Dirco/UFU), mas os textos são de responsabilidade do(s) autor(es) e não representam, necessariamente, a opinião da UFU e/ou da Dirco. Quer enviar seu texto? Acesse: www.comunica.ufu.br/divulgacao. Se você já enviou o seu texto, aguarde que ele deve ser publicado nos próximos dias.
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Palavras-chave: COP 30 meio ambiente mudanças climáticas Engenharia Florestal
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