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UBERLÂNDIA

O início de uma cidade

Na primeira reportagem da série sobre Uberlândia, abordamos alguns momentos históricos importantes

Publicado em 26/08/2020 às 15:46 - Atualizado em 22/08/2023 às 16:52

Praça Tubal Vilela, registro sem data. (Foto: Coleção João Quituba - Acervo CDHIS)

Os primeiros moradores

Para reconstruir a trajetória de uma cidade, os historiadores recorrem a diversas fontes, como documentos oficiais, atas da Câmara Municipal, fotografias, relatos orais e até mesmo à imprensa. Também é importante considerar as contribuições de várias áreas do conhecimento para conhecer o nosso passado. Por esses motivos, o Comunica UFU conversou com os professores Jean Neves Abreu, do Instituto de História da Universidade Federal de Uberlândia (Inhis/UFU), e Beatriz Ribeiro Soares, do Instituto de Geografia (IG/UFU), sobre a formação e o desenvolvimento urbano da cidade.

Segundo o Atlas Educacional de Uberlândia, os primeiros indícios de ocupação urbana da cidade correspondem aos indígenas do grupo étnico Caiapós. A primeira pessoa de origem europeia a conhecer a região foi o bandeirante Bartolomeu Bueno da Silva Filho, de acordo com Neves. O historiador complementa que paira sobre o imaginário social a figura dos bandeirantes como “heróis” nacionais e desbravadores, porém, essa percepção gera muitos debates e revisões nos estudos sobre a história nacional.

“A mitologia em torno dos bandeirantes está presente em livros como Vida e morte do bandeirante, de Alcântara Machado, em 1929. Este livro foi apropriado como obra que enaltece um determinado passado da história paulista. Porém, é interessante observar que outras publicações foram desconstruindo essa imagem, a exemplo de Caminhos e Fronteiras, de Sérgio Buarque de Holanda, e vários estudos publicados que procuraram desmistificar a imagem de heróis e desbravadores atribuída a esses indivíduos”, explica.

Essa interação entre os indígenas e os bandeirantes pode parecer ter sido totalmente pacífica. Entretanto, Neves ressalta que as populações que deram origem a São Pedro de Uberabinha (futura Uberlândia) “colaboraram no desenvolvimento das relações com outras regiões, mas também tiveram um impacto sobre as populações indígenas e também quilombolas. Impactos culturais e sociais na desarticulação de seus modos de vida, hibridismos de forma de vida, além de impactos na dizimação dessa população.”

Manter a memória dos povos indígenas da região de Uberlândia requer esforços. É por isso que a Universidade Federal de Uberlândia mantém o Museu do Índio - criado em 1987. Apesar das visitações presenciais estarem suspensas, você pode conferir a história indígena de Uberlândia por meio dos vídeos do canal do museu no YOUTUBE.

 

A constituição de Uberlândia

Uberlândia está situada na região de planejamento do estado Triângulo Mineiro. Essa área, então conhecida como ‘sertão da farinha podre’, pertenceu à província de Goiás até o ano 1816, quando o Triângulo foi incorporado a Minas Gerais. No ano seguinte, 1817, as primeiras posses de terra começaram a acontecer.

De acordo com o Atlas Educacional, em 31 de agosto de 1888, São Pedro de Uberabinha passou a ser um município, com duas ocorrências históricas importantes para o desenvolvimento da cidade: a criação da 1ª Câmara Municipal, em 1892, e a construção de uma ferrovia pela companhia Mogiana para fazer ligações com as cidades mais desenvolvidas. Em 1929, por meio de um plebiscito, o nome do município passou a ser Uberlândia, que significa ‘Terra Fértil’.

“O contato entre a antiga região de Uberlândia e os estados de São Paulo e Goiás foi estabelecido nas rotas abertas desde os séculos XVIII e XIX. Além disso, a estrada de ferro Mogiana (que se estendeu por aqui em 1895) colaborou também para comércio regional e entre São Paulo e Uberlândia. No início do século XX é que as rodovias assumiram uma fundamental importância para a região. Essa 'opção' pelo transporte rodoviário, feita por Uberlândia, veio garantir sua inserção comercial, já que não era 'ponta de linha' da Mogiana”, explica Neves.

A docente Soares graduou-se em Geografia pela UFU, no ano de 1974, e pesquisou os projetos urbanísticos e planos diretores de Uberlândia no mestrado e doutorado na Universidade de São Paulo (USP). Ela afirma que a cidade teve vários planos diretores e o primeiro veio em 1905, para o planejamento das cinco avenidas principais: Cipriano Del Favero, João Pinheiro, Floriano Peixoto, Afonso Pena e Cesário Alvim. Da próxima vez que você passar por alguma dessas avenidas, lembre-se: elas foram inspiradas pelo urbanista francês Haussmann, que remodelou o projeto urbano de Paris.

“Quando eu ainda estudava esses primeiros planos diretores, que foram o tema da minha tese de doutorado, vi que muita coisa ainda estava sendo construída no final dos anos 90. Por exemplo, a área cultural projetada por volta de 1954 tornou-se o próprio Teatro  Municipal de Uberlândia posteriormente.”

A geógrafa também ressalta que as características físicas da região favoreceram para a expansão, uma vez que o sítio urbano é mais plano, sem uma barreira física como uma montanha, por exemplo. Também cabe destacar que o processo de urbanização da cidade contribuiu para o distanciamento de certas populações do centro da cidade, com a construção de conjuntos de casas populares distantes do centro.

Inevitavelmente, uma tendência para o espaço urbano uberlandense é o policentrismo: se você visitar os bairros Santa Luzia e Luizote, vai perceber que há avenidas com comércio variados, áreas de lazer e até centros médicos. A professora acredita que a descentralização da cidade pode acontecer com bairros como Pequis e Monte Hebron.

 

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Palavras-chave: Uberlândia história Cidade

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