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Mobilização

A luta das mulheres negras para driblarem os desafios das desigualdades

Entenda a importância da visibilidade do 'Dia Internacional da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha'

Publicado em 24/07/2023 às 17:42 - Atualizado em 22/08/2023 às 17:04

Imagem: Freepik

 

O dia 25 de julho marca uma data muito importante, porém, infelizmente, ainda pouco conhecida. Neste dia é celebrado o "Dia Internacional da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha". Tudo começou em 1992, ano em que aconteceu o primeiro Encontro de Mulheres Afro-latino-americanas e Afro-caribenhas na cidade de Santo Domingo, na República Dominicana. O objetivo do encontro era abordar e denunciar questões relacionadas a opressões e também debater soluções contra o racismo e machismo sofridos por mulheres negras e reuniu mais de 300 representantes de 32 países de todo o mundo. Desde então, esse dia é reconhecido pela Organização das Nações Unidas (ONU).

No Brasil, para além de dar visibilidade à luta de mulheres negras e reforçar a importância da luta antirrascista, essa data comemora a existência e resistência de Tereza de Benguela, uma líder quilombola que esteve por 20 anos à frente da resistência contra a escravidão do povo negro, no Quilombo de Quariterê (MT), durante o século XVIII. E, no ano de 2014, por meio da Lei 12.987, foi instituído no Brasil o "Dia Nacional de Tereza de Benguela", que é celebrado juntamente com o "Dia Internacional da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha".

 

Tereza de Benguela, líder quilombola do século XVIII. (Imagem: Divulgação)

 

Para Jane Maria dos Santos Reis, técnica em assuntos educacionais, coordenadora de extensão do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros da Universidade Federal de Uberlândia (Neab/UFU) e mulher preta, essa data tem um significado muito importante. Por ter crescido e vivido num processo de embranquecimento, para ela, 25 de julho era mais um dia comum como tantos outros do ano. Entretanto, ele passou a ser significativo após seus 30 anos de idade, quando dentro do ambiente acadêmico, mais precisamente do Neab/UFU, ela teve a oportunidade de se entender enquanto mulher preta. Diante disso, o 25 de julho nunca mais foi o mesmo e passou a ser um dia mais que especial em seu calendário.

A coordenadora comenta que essa data não é uma comemoração, mas sim um marco da luta das mulheres negras por representatividade, reconhecimento, respeito e também momento oportuno para enfatizar a importância da mulher negra em nossa história, o que muitas vezes, infelizmente, ainda é ignorado pela historiografia tradicional do nosso país.

Se conhecer e reconhecer enquanto mulher negra não são processos simples e, ao mesmo tempo que são distintos, se complementam, afirma Jane. Segundo ela, é essencial que, durante ambos os processos, a mulher negra entenda que é necessário um respeito consigo mesma no decorrer das fases, e que se enxergar mulher negra não acontece de um dia para o outro: “A gente precisa desse entendimento; eu falo isso porque eu sou uma mulher que cresceu embranquecida, com outros perfis e lutando por esse embranquecimento, até que eu tive a oportunidade e possibilidade de entender e conhecer sobre. Depois vem outra etapa desse autoconhecimento, se reconhecer, que é um processo, que merece respeito. É você entender quem é você, e fazer aquilo de acordo com as suas decisões, com suas escolhas, mas que seja de dentro para fora, e não de fora para dentro.”

 

Representatividade

Livia Sant’Anna Vaz é uma das inspirações para Jane Maria dos Santos Reis. Mulher preta, baiana, promotora de Justiça no Combate ao Racismo e à Intolerância Religiosa no Ministério Público da Bahia e uma das 100 pessoas afrodescendentes mais influentes do mundo no ano de 2020, segundo a premiação da Most Influential People of African Descent (MIPAD), chancelada pela ONU. Jane fala com orgulho da relação que construiu com a promotora: “Nós fizemos um evento, que foi o Encontro de Formação das Comissões de Heteroidentificação - UFU. Ela valoriza muito essa data. Veio me contar e convidar para participar do Julho das Pretas, onde ela faz uma série de eventos na Bahia. E, pra mim, isso é um marco, porque nós, mulheres negras, não temos noção de representatividade no espaço institucional, ainda, e quando eu tive contato com aquela mulher de tamanha representatividade, potente, com um lugar de fala importantíssimo na nossa sociedade foi um momento muito importante pra mim.”

 

Jane e Drª. Livia Sant’Anna Vaz, no Encontro de Formação das Comissões de Heteroidentificação - UFU. (Imagem: Arquivo pessoal)

 

Autoestima

Priscila Garcia, mulher negra e cabeleireira, sabe bem como a autoestima influencia nesse processo de reconhecimento étnico-racial. Ela revela que a trança está na sua vida, desde a infância, quando sua avó e sua mãe trançavam seu cabelo para ir à escola, já que naquela época não existiam cremes apropriados e a maneira mais fácil de lidar com o cabelo crespo era trançando. Mas foi durante a adolescência que Priscila descobriu seu amor por tranças.

Após iniciar sua jornada como ajudante em um salão de beleza, ela foi aprendendo técnicas para cuidar do cabelo afro e, em seguida, começou um curso onde se aperfeiçoou como trancista. A partir disso, vem proporcionando a diversas mulheres negras autoestima e empoderamento por meio das tranças. Priscila argumenta que a autoestima é um pilar de extrema importância para o autoconhecimento e reconhecimento enquanto mulher negra. Para ela, esse processo deve ser de dentro para fora, porque não faz sentido mudar o externo se o interno ainda não se aceita: “A pessoa tem que se aceitar primeiro, mesmo ela fazendo essa transformação de fora, ela tem que se transformar por dentro.”

Priscila enxerga de uma maneira muito especial o fato de proporcionar a outras mulheres negras autoestima, autocuidado e empoderamento, a partir dos cuidados com o cabelo. “Eu vejo como uma missão e, ao mesmo tempo, como algo sério e muito prazeroso. Sinto que estou contribuindo com algo positivo para a sociedade. As mulheres que eu atendo, na maioria das vezes, chegam aqui retraídas, se sentindo desvalorizadas; e quando elas trançam o cabelo e chegam na fase final, é muito satisfatório, porque vão mudando a postura no decorrer do tempo que eu estou trançando. Quando eu finalizo, elas já saem daqui empoderadas, felizes, com a autoestima lá em cima. (...) Não teria como eu prestar esse tipo de serviço, se eu não acreditasse no poder da transformação que ele tem”, enfatiza a cabeleireira.

 

   

Imagens: Arquivo pessoal

 

Comemoração

Para celebrar a data, o Neab/UFU e o Centro de Memória da Cultura Negra Graça do Aché irão realizar o Chá Das Pretas, organizado por Susi Feoli, atriz e ativista do Movimento Negro de Uberlândia. O evento é voltado para celebrar e homenagear a luta e importância das mulheres pretas do maior município do interior de Minas Gerais.

O Chá Das Pretas será realizado entre os dias 25 a 29 de julho, na Oficina Cultural na Praça Clarimundo Carneiro. A programação conta com palestras, exposições, atividades e também a Feira Preta - confira na imagem abaixo.

 

Imagem: Divulgação Chá das Pretas

 

 

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Palavras-chave: Dia Internacional da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha antirracismo Neab Graça do Aché UFU

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