Publicado em 26/12/2023 às 16:59 - Atualizado em 12/01/2024 às 14:11
Segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais do curso de graduação em Medicina, “a formação do médico deve contemplar o sistema de saúde vigente no país, a atenção integral da saúde num sistema regionalizado e hierarquizado de referência e contra-referência e o trabalho em equipe”. Para tanto, possui como uma das suas etapas a realização do estágio curricular obrigatório de treinamento em serviço – o tão esperado e temido por nós: internato.
O internato tem início no 9º período do curso e inclui estágios nas áreas de Clínica Médica, Cirurgia, Ginecologia-Obstetrícia, Pediatria e Saúde Coletiva. Para entrar no internato são necessários alguns pré-requisitos, como ter sido aprovado em todos os componentes curriculares e ter carga horária de atividades complementares e disciplinas optativas integral previstas no Projeto Pedagógico do Curso; além de dividir os grupos de internato e decidir a ordem dos estágios. Dessa forma, o 8º período, momento que antecede o internato, é marcado por dúvidas, inseguranças, incertezas, medo, preocupação, estresse e ansiedade. Tudo isso impacta diretamente na saúde dos estudantes, especialmente na saúde mental. Assim, escolhemos essa problemática para ser abordada no presente texto.
Nesse contexto, como mencionado anteriormente, no período pré-internato, além de lidarmos com todas as responsabilidades, provas e trabalhos do 8º período, por ser um período denso e sobrecarregado, há ainda toda a expectativa e incerteza do internato. Há um sentimento dúbio: em primeiro lugar de felicidade e desejo, por estarmos avançando para mais uma etapa do curso após quatro anos – um período que poderemos treinar e refinar nossa prática, pois estaremos totalmente inseridos na dinâmica do hospital; mas, por outro lado, de grande incerteza e dúvida sobre estarmos realmente preparados para tal responsabilidade e se seremos capazes de realizar todas as demandas que o quinto e sexto ano nos reserva.
Dessa maneira, nota-se que esse período é desafiador para nós, pois ao gerar diversos questionamentos e sentimentos de incapacidade, insegurança e despreparo, por exemplo, provoca, em nós, repercussões negativas, principalmente, na nossa saúde mental, desgastando-a e contribuindo para a nossa vulnerabilidade psíquica (saiba mais em “Sentimentos do Estudante de Medicina quando em Contato com a Prática”). Assim, ao refletir sobre a passagem para o Internato e os impactos que esse período tem nos provocado, percebemos a necessidade do desenvolvimento e da utilização de ferramentas e/ou habilidades que auxiliem no cuidado e na manutenção da nossa saúde mental, como a utilização dos espaços do campus para socialização, descanso, acolhimento e, consequentemente, fortificação das relações interpessoais.
Um ponto em comum entre nós três que auxilia na melhora da saúde mental nesse período difícil é a socialização e o estabelecimento de uma rede de apoio. As redes de apoio são definidas como “a soma das relações que o indivíduo percebe como significativas”, pois “uma rede social pessoal estável, ativa e confiável protege o indivíduo em sua vida diária, favorece a construção e manutenção da autoestima e acelera os processos de recuperação da saúde”, sendo, portanto, “fundamental para a promoção da saúde nos aspectos físicos, psicológicos e afetivo-emocionais” (conforme o artigo “Redes sociais de apoio de pessoas com transtornos mentais e familiares”). Nesse sentido, algo que rotineiramente nos ajuda e nos faz sentir acolhidos entre nós mesmos e os amigos mais próximos é conversar sobre essas angústias e temores, pois ao perceber que compartilhamos dos mesmos sentimentos, desabafamos e encontramos formas de enfrentar / lidar com essa situação.
Além disso, curioso e ainda melhor é que esses momentos de conversa e descontração acontecem nos espaços do campus: nos dias de muito calor é corriqueiro que fiquemos deitados no chão frio da biblioteca conversando e descansando; após almoçarmos no Restaurante Universitário (RU), é comum comprarmos um picolé do seu Valdemar e ficarmos debaixo da sombra de alguma árvore no Doce Jardim Urbano (projeto de educação ambiental e preservação das abelhas), que fica ao lado da biblioteca; não menos comum é procurarmos algum banquinho com um pedaço de sombra para podermos descansar a mente entre as aulas, após atendimento no ambulatório ou alguma atividade prática no hospital.
Dessa maneira, após reflexões, busca por respostas e leitura dos textos aqui citados, percebemos que, especialmente neste momento de incertezas e angústias, é na fortificação das relações interpessoais e na utilização dos espaços do campus que podemos encontrar alívio e descanso mental. Assim, percebemos que são nos espaços que contém árvores, verde, natureza, luz do sol, nossos amigos e muitas risadas que conseguimos nos manter firmes e seguir adiante no curso. Logo, a experiência relatada na presente narrativa nos permitiu entender que a faculdade está muito além das salas de aula, dos laboratórios e dos próprios ambientes do hospital e que tão fundamental quanto, são os espaços em que podemos espairecer a mente e encontrar um ponto de apoio no meio de todo esse redemoinho de pensamentos e incertezas.
*Alissa Pinheiro Paes Leme, Gabriela Souza de Andrade e Marcos Vinicius Paes Landim Faria são discentes de graduação da Faculdade de Medicina da UFU.
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Palavras-chave: saúde mental espaços estudantes Medicina Divulgação Científica Leia Cientistas
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